O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não precisou nem de 24 horas para reconhecer as eleições fraudadas no Equador, que deram vitória ao ditador Daniel Noboa.
“Saúdo o povo equatoriano e o presidente reeleito, Daniel Noboa, pelas eleições de domingo, 13 de abril. O Brasil seguirá trabalhando com o Equador em defesa do multilateralismo, pela integração sul-americana e o desenvolvimento sustentável da Amazônia”, escreveu Lula, em nota oficial publicadas em suas redes sociais.
É uma piada que nem o próprio Lula acredita. Saudar o povo equatoriano é o oposto de saudar Noboa, uma vez que sua vitória ocorreu em meio a várias denúncias de fraude eleitoral. Mais importante que as denúncias, no entanto, é o caráter de seu governo: uma ditadura sustentada pelo imperialismo norte-americano, que vem impondo governos duramente neoliberais há quase uma década, que, por sua vez, só conseguem governar por meio de muita violência.
Lula também sabe muito bem que os interesses de Noboa nada têm a ver com “multilateralismo” ou “integração” — isto é, uma independência em relação aos Estados Unidos. E se Noboa tem algum interesse em relação à Amazônia, é o de permitir que tropas norte-americanas a ocupem.
Não por acaso, Lula foi incapaz de parabenizar o presidente venezuelano Nicolás Maduro — este, sim, apoiado pelo povo — após sua vitória eleitoral no ano passado. O motivo é claro: lá, a oposição, que acusou fraude eleitoral, é apoiada pelo imperialismo e por seus representantes no Brasil, como a rede Globo.
É uma política infantil, que não condiz com quem está na política há cinco décadas e já governou o País em outras duas ocasiões. Lula acredita que, ao aliar-se ao imperialismo em questões estratégicas, será protegido pelo próprio imperialismo em ataques futuros. Por isso, o presidente brasileiro “sacaneou” o seu homólogo na Venezuela, facilitando um golpe naquele país; por isso ele se cala diante do cerco contra Evo Morales na Bolívia; e é por isso que ele validou a fraude eleitoral contra o grupo de Rafael Correa. Lula acredita que, atirando seus aliados aos tubarões, conseguirá um acordo que irá salvá-lo.
O problema é que o que está levando o imperialismo a se chocar com as lideranças nacionalistas na América Latina é uma política de contra-ofensiva na região. O imperialismo, para manter a sua dominação, abalada após uma sucessão de vitórias parciais dos oprimidos, precisa disciplinar todos os governos sob sua influência, transformando-os em verdadeiros lacaios da ordem mundial. Quem não o fizer, será golpeado.
Mesmo que quisesse, Lula não poderia ser este representante do imperialismo. Ele é incapaz de aplicar uma política como a de Javier Milei, Nayib Bukele ou do próprio Daniel Noboa, pois isso levaria a uma crise insustentável junto a sua base. Lula, não importa o quanto faça concessões, é um governante indesejado para o imperialismo.
A política de sacrificar os aliados não é apenas uma política ineficiente, na medida em que não traz garantias. Ela é, além de reacionária, pois condena os povos vizinhos a governos criminosos, uma política suicida. A própria eleição de Noboa é um exemplo disso.
Tão logo se reelegeu, Noboa declarou seu desejo de permitir a presença de tropas norte-americanas em território equatoriano para “combater o crime organizado”. Em entrevista exclusiva à emissora norte-americana CNN, o presidente afirmou que pretende alterar a Constituição do país para viabilizar a instalação de forças militares estrangeiras, revertendo uma das cláusulas da Carta promulgada sob o governo de Rafael Correa, que proíbe expressamente a cessão de território a forças armadas estrangeiras.
A mudança, segundo Noboa, teria como foco a instalação de uma base norte-americana na cidade costeira de Manta, local onde os Estados Unidos já mantiveram operações militares entre 1999 e 2009. A estrutura foi desativada justamente após a recusa de Correa em renovar a autorização de presença militar estrangeira, como parte de uma política em prol da soberania nacional.
Em sua fala à CNN, Noboa — que nasceu em Miami e tem laços estreitos com Washington — afirmou que “gostaria de cooperar com as forças americanas” e que o controle das operações seria dos militares e policiais equatorianos.
Nem uma criança de cinco anos acredita que tais bases sejam para combater algum “crime organizado”. O único interesse dos Estados Unidos é manter a sua dominação. Neste sentido, uma base norte-americana no Equador serviria para preparar novos golpes de Estado e ações contra os governos que não estejam diretamente alinhados com os seus interesses. É uma ameaça direta ao Brasil.