Em entrevista à TV247, exibida na sexta-feira (18), o presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO), Rui Costa Pimenta, fez uma análise contundente da conjuntura política nacional e internacional. Em sua avaliação, tanto o avanço autoritário do Judiciário brasileiro quanto a ascensão da extrema direita no mundo devem ser compreendidos à luz da crise do imperialismo e da luta entre distintas frações da burguesia.
Segundo Pimenta, é preciso compreender corretamente o papel da extrema-direita na política mundial.
“O que chamamos de fascismo hoje em dia não é um fascismo verdadeiro. Esse, de Hitler, Mussolini, é um instrumento do grande capital. Esses fascistas de hoje estão em conflito com esse grande capital.”
A afirmação indica que, diferentemente do fascismo clássico, a extrema direita contemporânea não está, necessariamente, a serviço direto do capital financeiro internacional, e sim, em muitos casos, em choque com ele.
De acordo com Pimenta, “o capital não pode existir sem um poder militar”. Nesse sentido, a burguesia imperialista se vê obrigada a desenvolver regimes cada vez mais autoritários. Contudo, ao contrário da visão propagada por setores da esquerda, o presidente do PCO observa que “a extrema direita atual está reagindo na defesa da economia nacional contra o capital multinacional, especulativo”. Por isso, critica a política de setores da esquerda que tratam a extrema-direita como o principal inimigo.
“Tem gente que fala que o inimigo principal é o fascismo, mas nesse momento não é fato. O inimigo principal continua sendo o de sempre: o imperialismo.”
E completa:
“O fascismo vai se transformar no inimigo principal se o imperialismo usar ele contra as massas trabalhadoras, movimentos sociais — o que não está colocado.”
Pimenta ainda alerta para os riscos da confusão política diante do atual cenário:
“Precisa tomar cuidado, senão acabamos apoiando o que tem de pior no mundo: o imperialismo.” Ele avalia que, hoje, “a luta dos fascistas contra o imperialismo é positiva, porque abriu uma luta entre duas facções da classe dominante”. E conclui: “Eu diria até que a extrema-direita coloca mais obstáculos ao imperialismo do que a esquerda mundial.”
Mesmo reconhecendo esse antagonismo entre a extrema direita e o imperialismo, o presidente do PCO enfatiza que isso não significa qualquer apoio político a esses setores reacionários.
“Lógico, não podemos deixar de combater política e ideologicamente a extrema direita em momento nenhum, mas também não podemos confundir o papel de cada ator político na situação.”
Ao tratar da situação interna do Brasil, Pimenta apontou o Supremo Tribunal Federal como agente ativo do avanço autoritário do Estado.
“Eu acho que o que o STF está fazendo agora é também uma espécie de golpe de Estado. Eles não estão só condenando o Bolsonaro, eles estão abolindo a Constituição.”
Para ele, trata-se da continuação de uma política coordenada pelo imperialismo para suprimir qualquer forma de governo minimamente nacionalista na América Latina.
Ele lembra que essa política teve início com o golpe contra o presidente Manuel Zelaya, em Honduras, após a vitória da esquerda nas eleições de 2006.
“A minha tese é que eles iniciaram, depois da vitória eleitoral da esquerda em Honduras com o Zelaya, a ideia de que era preciso reverter a situação, retomar o controle dos países que estavam sendo governados por governos de esquerda nacionalistas — mesmo que burgueses. Então deram o golpe em Honduras, foi um ponto de partida.”
Pimenta aponta que essa nova etapa da ofensiva imperialista se estendeu por toda a América Latina, com episódios semelhantes no Paraguai, no Equador, no Peru e no Brasil.
“O imperialismo ‘democrático’ já percebeu que a democracia não vai controlar os países. Você precisa ter governos que escapem de qualquer tipo de controle popular. Começa então a introdução de mecanismos autoritários — por exemplo, a fraude eleitoral.”
O dirigente do PCO ressalta que os métodos tradicionais de golpe, como os militares, tornaram-se difíceis de aplicar, em parte devido ao trauma ainda recente na população. Por isso, o imperialismo tem recorrido a mecanismos de aparência legal, mas com conteúdo ditatorial:
“Como você não pode dar golpe militar — porque é muito complicado e o trauma da população ainda é muito recente — então você tem que dar um golpe não militar, como aconteceu no Equador.”
Pimenta conclui que o que se vê no Brasil é um processo orquestrado que não tem como objetivo punir Jair Bolsonaro (PL), mas sim eliminar qualquer vestígio de legalidade democrática que possa servir à mobilização popular. Ao se utilizar da condenação do ex-presidente como instrumento, o STF estaria operando para consolidar um regime cada vez mais fechado e antipopular, alinhado com os interesses do imperialismo.