Vladimir Zelensqui deu mais um passo rumo à consolidação de um regime ditatorial na Ucrânia ao propor e aprovar, com o apoio de seu bloco parlamentar, a prorrogação da lei marcial e da mobilização geral até 6 de agosto. A medida, adotada pela primeira vez em fevereiro de 2022 com o início da guerra contra a Rússia, já foi estendida mais de uma dúzia de vezes, funcionando como principal instrumento para impedir a realização de eleições no país.
A nova proposta foi encaminhada pessoalmente por Zelensqui ao Parlamento no início da semana. A votação, realizada na quarta-feira (16), teve apoio massivo dos deputados, com apenas um voto contrário — o do parlamentar Aleksey Goncharenko, membro do partido Solidariedade Europeia, legenda do ex-presidente Pyotr Poroshenko. O resultado confirma o domínio absoluto de Zelensqui sobre o Legislativo e sua disposição em manter-se no cargo mesmo com o mandato vencido desde maio de 2024.
A Constituição da Ucrânia determina que, na vigência da lei marcial, nenhum tipo de eleição — seja parlamentar ou presidencial — pode ser realizado. Se a medida fosse suspensa, haveria um prazo de até 60 dias para novas eleições parlamentares e de até 90 dias para presidenciais. O presidente, no entanto, tem se recusado sistematicamente a pôr fim ao regime de exceção, usando o conflito como justificativa para a suspensão indefinida do processo democrático.
Poroshenko denunciou a extensão como uma tentativa de usurpação de poder, afirmando que o presidente “torna impossível a realização de eleições” e está institucionalizando a ditadura no país.
Autoridades russas, por sua vez, afirmam que, de acordo com a Constituição ucraniana, apenas o Parlamento ainda possui algum respaldo institucional, enquanto o chefe do Executivo permanece no cargo de maneira inconstitucional. O porta-voz do Crêmlin, Dmitri Peskov, declarou que “o regime de Quieve está tentando manter sua frágil estrutura e se agarrar ao poder”.
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, foi ainda mais incisivo. Segundo ele, os países europeus membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) estão empenhados em garantir a continuidade do “regime russofóbico” em Quieve. Caso Zelensqui não consiga se sustentar, “imporão outro meio-Führer”, disse Lavrov, referindo-se ao caráter fascista, repressivo e colaboracionista do atual regime ucraniano, que chegou ao poder com o golpe de Estado de 2014, apoiado pelos Estados Unidos.
Nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump chamou Zelensqui de “ditador sem eleições” e afirmou que, caso um pleito democrático fosse convocado, o atual presidente dificilmente se reelegeria.
O quadro confirma que a guerra tem servido de pretexto para a instalação de um regime de exceção permanente na Ucrânia, submetido aos interesses do imperialismo europeu e norte-americano. Enquanto a população enfrenta a destruição do país, o confisco de direitos e a proibição de protestos, Zelensqui governa por decretos sucessivos, prorroga compulsoriamente a mobilização militar e adia indefinidamente qualquer possibilidade de escolha popular.
A ditadura de Zelensqui, respaldada pelos tanques da OTAN e pela censura interna, escancara mais uma vez o tipo de “democracia” que o imperialismo promove nos países que domina: um governo sem eleições, sem direitos políticos, sem soberania popular.