Nestes nove dias de greve de fome, vimos, novamente, a grandeza e a coragem de Glauber Braga.
Mas confesso que vi também grandezas, no plural e, ao me emocionar com elas, me sinto na obrigação não só de enxergá-las, mas de escrevê-las e recontá-las, de modo que possamos vê-las juntas, mesmo que com olhos e/ou olhares distintos.
Ao lado da altivez de Glauber, mesmo confrontada pela fisionomia combalida pela falta de energia, vi sempre a enormidade de uma companheira – a qual ele tem a sorte de compartilhar o pão, um lindo filho e a integralidade da vida – em Sâmia. Assim como o cansaço estampado nos rostos e o sentimento de lidar com uma injustiça, foram nítidos o carinho e o amor, expressando um cuidado-luta pelo mandato de um companheiro de múltiplas companhias. Sem diminuir a luta do companheiro, a luta também foi e é da companheira que, não à toa, foi fundamental na costura de um acordo com Hugo Motta, garantindo um respiro – e mais campo e tempo para luta.
Vi também parlamentares do PSOL unidos e altivos em defesa do mandato de um companheiro de partido. Para além de Sâmia – ou melhor, junto a ela -, Célia, Chico, Érika, Fernanda, Guilherme, Henrique, Ivan, Lucilene, Luíza, Talíria e Tarcísio. Vi, ouvi e li posicionamentos brilhantes, de parlamentares brilhantes, cujo brilhantismo vinha também, em grande parte, do fato de que eram sinceras, verdadeiras. Não havia ali nenhuma tergiversação quanto à defesa de um mandato de luta, necessário, e que está sendo perseguido, da mesma forma que tal perseguição é, também, uma mensagem muito nítida aos outros 12 mandatos de luta e necessários do PSOL na Câmara Federal e outros tantos nas assembleias legislativas e câmaras municipais – que já vêm sendo igualmente perseguidos.
E vi mais. Vi um mandato e um partido em unidade não só interna, mas junto a outros partidos e companheiros de luta, fundamentais na solidariedade, na força e, também, nas negociações que resultaram no referido acordo.
Vi uma unidade com os(as) lutadores(as) da classe trabalhadora. Vi sindicatos, movimento estudantil, movimentos sociais e populares, da arte e da cultura. Vi gente do Brasil inteiro; em Brasília, presencialmente, e esparramada por todos os cantos em manifestações remotas na forma, mas presentes no conteúdo e na essência.
Vi demonstrações, das mais variadas, de fé: religiosas, espirituais, no samba e, todas elas, na transformação e construção de uma outra sociedade. Vi um partido-movimento.
Vi também, nisso tudo, uma vez mais, um partido necessário. Um partido que é feito por mandatos necessários, mas é mais: é feito de gente necessária, de lutas necessárias e da força necessária.
Esse é o PSOL que se mostra – ainda mais – necessário. O oxímoro partido-unidade, demonstrando que as partes são partes de um todo, se fazendo partes no todo, expressando-o e o sendo, ao mesmo tempo que produzindo-o. O PSOL da unidade na diversidade. Diversidade que implica diferenças; que é sinônimo delas. Mas diferenças que são encampadas e determinadas por uma unidade de ação, para dentro e para fora.
A própria luta pela manutenção do mandato de Glauber tem sido uma grande lição de unidade. Unidade que se mostra ainda mais necessária no momento em que vivemos, cujo avanço da extrema-direita, do neofascismo, leva, por exemplo, a iniciativas de perseguição de mandatos necessários e de luta sem nenhum tipo de constrangimento; assim como não há constrangimento em manter tantos outros mandatos que não se constrangem em violentar aqueles(as) que os(as) elegeram e que, supostamente, são representados(as) por eles.
Tudo isso se deu e se dá, porque há certezas tanto quanto à perseguição de Glauber, quanto aos motivos da perseguição. Se Glauber fica, muitos(as) ficam. Para estes(as) muitos(as), Glauber não só os(as) representa eleitoralmente, mas é, ele próprio, respiro e horizonte de combatividade. Portanto, tudo isso se deu e se dá, também, porque muito do que Glauber defende e encarna, é defendido e encarnado por outros(as); talvez por meios e formas distintos.
Finda a greve de fome, segue – e se intensifica – a fome por justiça. Uma fome que não para na necessária manutenção do mandato de Glauber, porque não o tem como fim, mas como meio. Para isso, não deixaremos findar a solidariedade e unidade construída ou fortalecida nos dias de greve.
Glauber fica!
E muitos(as) de nós ficamos com ele!
Pedro Henrique Antunes da Costa é Professor na UnB e Resistência/DF