Uma reportagem assinada por David Dusster, do jornal espanhol La Vanguardia, analisa as perdas bilionárias que os magnatas que apoiam Donald Trump tiveram desde que o presidente dos Estados Unidos decidiu taxar o mundo em sua tentativa de reacender o protagonismo da economia americana.
Segundo o artigo, a promessa de um “dia da libertação” durou apenas uma semana. O impacto, porém, deve persistir por muito mais tempo. A recente crise comercial entre Estados Unidos e China, deflagrada pelas novas tarifas impostas pelo presidente Donald Trump, derrubou os mercados e impôs perdas bilionárias aos gigantes da tecnologia — tanto em Wall Street quanto no patrimônio pessoal de seus principais executivos.
Somente no pior dia da crise, os bilionários mais ricos do mundo perderam juntos US$ 208 bilhões. Entre os mais afetados estão os nomes mais poderosos do setor de tecnologia, muitos dos quais participaram da cerimônia de posse de Trump, no último 20 de janeiro, no Capitólio.
Gigantes em queda
Segundo levantamento da Bloomberg, das dez maiores fortunas do planeta, oito pertencem a nomes ligados ao setor tecnológico. Desde o início do ano, todas sofreram perdas consideráveis. Elon Musk, CEO da Tesla e da SpaceX, viu sua fortuna cair em US$ 121 bilhões — cerca de 28% de seu patrimônio. Jeff Bezos, fundador da Amazon, perdeu US$ 33,3 bilhões, e Mark Zuckerberg, CEO da Meta, outros US$ 44 bilhões.
Mesmo nomes que não manifestaram apoio explícito ao governo Trump foram afetados. Bill Gates e Steve Ballmer, da Microsoft, perderam juntos mais de US$ 12 bilhões. Larry Page e Sergey Brin, do Google, perderam US$ 50 bilhões combinados, e Larry Ellison, da Oracle, outros US$ 38,8 bilhões.
Um alívio momentâneo
Em 9 de abril, os mercados reagiram positivamente após o governo anunciar uma trégua de 90 dias nas tarifas sobre produtos chineses. As chamadas “Sete Magníficas” — Apple, Amazon, Alphabet, Meta, Microsoft, Nvidia e Tesla — somaram ganhos de US$ 1,5 trilhão em um único dia. O índice Nasdaq registrou alta de 12%, sua maior valorização desde 2008.
Ainda assim, os ganhos foram insuficientes para compensar as perdas acumuladas. Musk e Zuckerberg, por exemplo, recuperaram US$ 36 bilhões e US$ 26 bilhões, respectivamente, mas continuam bem abaixo de seus valores anteriores à crise.
Pressão por investimentos e empregos
A administração Trump tem cobrado das empresas tecnológicas compromissos concretos com investimentos e geração de empregos nos EUA. Microsoft e Nvidia prometeram, respectivamente, US$ 80 bilhões e US$ 500 bilhões em novos centros de dados. A Apple, por sua vez, anunciou que investirá US$ 500 bilhões nos próximos quatro anos e criará 20 mil vagas.
O governo afirma que seu plano econômico visa incentivar a produção local e reverter a dependência de cadeias produtivas externas, especialmente da China. Isenções temporárias sobre produtos eletrônicos foram anunciadas para acalmar o setor, mas o secretário de Comércio, Howard Lutnick, alertou que novas tarifas sobre semicondutores estão em preparação.
Elon Musk e a Groenlândia futurista
Musk, ainda à frente do DOGE (Departamento de Eficiência Governamental), tem papel central no governo. Embora envolto em polêmicas — como a saudação nazista a Javier Milei e o apoio a políticas controversas —, continua sendo uma figura estratégica. Ele investiu cerca de US$ 270 milhões na campanha de Trump e lidera projetos ambiciosos, como transformar a Groenlândia em laboratório de inovação com foco em inteligência artificial, carros autônomos e cidades-modelo sem impostos.
Apesar de tudo, Musk aposta alto em seu projeto de colonização de Marte e espera recompensas do governo por seu apoio. Mas a Tesla sente os reflexos das controvérsias: suas vendas globais caíram 13% no primeiro trimestre de 2025.
Bezos, Zuckerberg, Google e Apple em xeque
Jeff Bezos enfrenta uma ação antitruste da Comissão Federal de Comércio (FTC), que o acusa de práticas monopolistas com a Amazon. O julgamento está previsto para outubro de 2026, em Seattle. Dono do The Washington Post, Bezos tem usado o jornal para suavizar críticas ao governo Trump, inclusive alterando a linha editorial durante a campanha presidencial.
Mark Zuckerberg também está na mira da FTC, que quer desfazer as aquisições do Instagram e do WhatsApp, por considerá-las anticoncorrenciais. Apesar de ter apoiado financeiramente a posse de Trump, Zuckerberg ainda não obteve contrapartidas, e as ações da Meta caíram 28% desde fevereiro.
Sundar Pichai, CEO do Google, representa a gigante Alphabet no novo cenário político. A empresa anunciou um investimento de US$ 75 bilhões em centros de dados nos EUA. Enquanto isso, aguarda a decisão judicial sobre a possível divisão de seu navegador Chrome.
Já a Apple tenta reverter perdas causadas pela dependência da produção chinesa do iPhone e pelas críticas do Departamento de Justiça americano. Sob a liderança de Tim Cook, a empresa aposta na criação de empregos locais como estratégia para se reposicionar diante do governo federal.
Um novo Vale do Silício?
Historicamente identificado com o Partido Democrata, o Vale do Silício assiste a uma mudança de postura. Executivos de empresas que antes se mantinham distantes da política agora se veem obrigados a dialogar com um governo que, embora hostil em muitos momentos, exige contrapartidas e promete benefícios.
A nova realidade do setor tecnológico é marcada por oscilações políticas, pressões econômicas e a necessidade de adaptação estratégica. Para os bilionários da tecnologia, o custo do segundo mandato de Trump já soma mais de meio trilhão de dólares em perdas patrimoniais — e o jogo ainda está longe do fim.
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