
A associação dos ovos e coelhos à celebração da Páscoa, marcada pela ressurreição de Jesus Cristo, possui diversas interpretações ao longo da história.
Uma das versões mais conhecidas relata que Maria Madalena teria ido ao sepulcro de Jesus na manhã de domingo, após a crucificação, levando material para ungir o corpo. Ao chegar, encontrou a sepultura aberta e, segundo a tradição popular, um coelho teria sido o primeiro ser vivo a testemunhar a ressurreição. Por isso, teria recebido o papel de anunciar a boa nova às crianças e entregar ovos de chocolate.
O ovo é um símbolo antigo de vida e renascimento. Povos como os romanos acreditavam que o Universo tinha a forma oval. Na Idade Média, surgiram crenças de que o mundo teria nascido dentro da casca de um ovo. Com o tempo, presentear com ovos de galinha se tornou um hábito — prática que alguns historiadores atribuem aos persas, outros aos chineses.
“Muitos séculos antes do nascimento de Cristo, a troca de ovos no equinócio da primavera, comemorado no dia 21 de março no hemisfério norte, era um costume que celebrava o fim do inverno”, explica o monsenhor André Sampaio Oliveira, doutor em Direito Canônico.
Ele acrescenta que, com o surgimento da Páscoa cristã, esse rito pagão foi incorporado à Semana Santa, e o ovo passou a simbolizar a ressurreição de Jesus.
Na Idade Média, as cascas eram pintadas à mão e, com o tempo, ganharam novas funções simbólicas e decorativas. “Na Alemanha, os ovos coloridos são pendurados nos galhos das árvores. Na Rússia, são colocados nos túmulos. Na Itália, decoram a mesa da ceia pascal”, diz o escritor Evaristo Eduardo de Miranda, autor do livro “Guia de Curiosidades Católicas”.

A tradição ganhou sofisticação na Rússia, com os czares encomendando ovos luxuosos ao joalheiro Fabergé — um deles, dado à imperatriz Marie Feodorovna, tinha um relógio cravejado de safiras e diamantes, avaliado em US$ 20 milhões em 2014.

No século XVIII, confeiteiros franceses passaram a esvaziar ovos e recheá-los com chocolate. Um século depois, surgiram os primeiros ovos totalmente feitos de chocolate, prática que se popularizou globalmente.
E o coelho?
O coelho, embora não bote ovos, também se tornou símbolo da Páscoa. Desde o Egito Antigo, o animal já era associado à fertilidade. Suas múltiplas ninhadas por ano reforçavam essa ideia. Mais tarde, foi visto como símbolo de renascimento, por ser um dos primeiros a sair da toca após o inverno.
“A lebre já foi associada até a Cristo na iconografia cristã, com orelhas grandes para escutar melhor a palavra de Deus”, afirma Evaristo de Miranda.

No Brasil, o costume chegou na década de 1910 com imigrantes alemães, que pintavam ovos à mão e os escondiam para que as crianças os encontrassem.
“Na perspectiva histórica, não é possível precisar a origem do coelho e dos ovos de Páscoa. No máximo, é possível saber que não há uma única versão, mas diversas, todas válidas, narradas pelos mais diferentes povos e culturas”, esclarece o doutorando em História pela Universidade de Campinas (Unicamp) Jefferson Ramalho.
“Para nós, historiadores, o mais importante não é identificar a ‘verdadeira história’, mas decifrar os significados atribuídos a esses símbolos e as ideias que eles procuram transmitir”, completa.
Para a Igreja Católica, o verdadeiro símbolo da Páscoa é o círio pascal, uma vela branca que representa a luz de Cristo ressuscitado. Nela, estão inscritas as letras alfa e ômega, indicando que Jesus é o princípio e o fim.
“O símbolo maior da Páscoa é a luz de Cristo. A luz do Domingo da Páscoa se contrapõe à escuridão da Sexta-Feira da Paixão. O que era dor e tristeza se transforma em força e alegria”, afirma o teólogo Isidoro Mazzarolo, da PUC-Rio.
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