A fraudulenta reeleição do presidente equatoriano Daniel Noboa, anunciada no último domingo (13), gerou tensões em seu país e protagonizou mais um infeliz caso do governo brasileiro. Diferentemente do que fez na eleição legítima de Nicolás Maduro, confirmada pela corte venezuelana, quando o governo brasileiro não reconheceu a vitória do mandatário chavista, o Palácio do Planalto (sede do governo brasileiro) não hesitou em reconhecer os resultados comemorados pelo imperialismo dessa vez.
Em contrapartida, o presidente colombiano Gustavo Petro, que também havia ficado em cima do muro na eleição venezuelana, se tornou a principal voz continental a denunciar o que classificou como “eleições sem liberdade sob Estado de Exceção”. Em declaração pública, o mandatário colombiano afirmou: “não é possível reconhecer a vitória de Noboa. Não há eleições livres sobre um Estado de Exceção”. A crítica refere-se ao decreto presidencial que, um dia antes da votação, suspendeu direitos constitucionais como a inviolabilidade domiciliar e instituiu toque de recolher em oito províncias.
Como disse Petro, a medida criou um “clima de intimidação” que inviabilizou a competição democrática. A oposição equatoriana, liderada pela candidata Luisa González (Revolução Cidadã), representante de Correa, apresenta três eixos centrais para sustentar as acusações de fraude:
González obteve 44,3% no segundo turno, praticamente a mesma porcentagem do primeiro turno (44,2%), apesar do aumento de 4 milhões de eleitores. Pesquisas prévias indicavam empate técnico, com margem de erro inferior a 2%. Em segundo lugar, foram identificadas 1.857 atas eleitorais sem assinaturas dos presidentes das juntas receptoras de votos, requisito legal para validar os resultados.
O partido Revolução Cidadã publicou imagens de 62 atas irregulares, todas favoráveis a Noboa. Em terceiro, mudança de 18 locais de votação horas antes da eleição, sob alegação de condições climáticas. Suspensão do voto de 327 mil equatorianos no exterior, tradicional reduto da esquerda.
Enquanto a União Europeia e a OEA descartaram fraude, reconheceram “condições desiguais” na campanha. Relatórios preliminares destacaram uso de recursos públicos para promoção de Noboa, assimetria no acesso a meios de comunicação e pressão sobre funcionários públicos para apoiar o governo.
Ou seja: armação clara do imperialismo, com chancela da União Europeia e seus lacaios no ocidente. A posição de Petro contrasta com o silêncio de outros governos progressistas e com o reconhecimento imediato do resultado por parte do Brasil.
A autoridade eleitoral nega receber pedidos formais de recontagem, apesar das promessas da candidata. Apesar disso, setores do próprio Revolução Cidadã começam a pressionar por “reconhecimento tático” dos resultados, sendo uma capitulação grotesca à direita.
Para observadores, a estratégia de Noboa de decretar Estado de Exceção e controlar 44% da Assembleia Nacional cria condições para aprovação de reformas neoliberais profundas, assim como a criminalização de protestos sociais e o alinhamento incondicional com políticas imperialistas na região. As acusações de fraude no Equador ocorrem em um momento marcado por golpes parlamentares na Bolívia (2019) e Peru (2022), perseguição judicial no Brasil e fortalecimento de grupos fascistas – travestidos de progressistas – financiados pela burguesia e pelo capital estrangeiro.