Nesta sexta-feira, dia 18 de abril, a quebra unilateral do acordo de cessar-fogo por parte de “Israel” completou um mês. Ao contrário do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas, na sigla em árabe), o governo israelense violou centenas de vezes o acordo que havia sido celebrado em janeiro, assassinando civis, impondo um bloqueio criminoso e mantendo suas tropas na Faixa de Gaza, até que finalmente resolveu assumir publicamente que rasgaria o tratado mediado por Estados Unidos e Catar.
A quebra do cessar-fogo veio sem nenhum aviso. Na madrugada de 18 de março — segundo o horário local —, “Israel” retomou os bombardeios sobre a Faixa de Gaza. O governo israelense emitiu um comunicado oficial anunciando que “o primeiro-ministro Benjamin Netaniahu e o ministro da Defesa Israel Katz instruíram as Forças de Defesa de ‘Israel’ a agir com força contra a organização terrorista Hamas na Faixa de Gaza”. O comunicado ainda afirmou que o motivo da quebra do cessar-fogo seria a recusa do Hamas em libertar os prisioneiros e a suposta preparação de novos ataques a “Israel”.
Em comunicado, o Hamas explicou, horas depois, que o partido islâmico estava seguindo o cronograma estipulado pelo acordo de cessar-fogo para libertar os prisioneiros. Foi “Israel” que, por vezes, obstaculizou a troca de prisioneiros. Da mesma forma, a acusação de que o Hamas estaria preparando um ataque era uma farsa — até hoje, “Israel” não apresentou uma única prova.
Quase 500 pessoas foram assassinadas em apenas 24 horas. Apenas em Khan Yunis, onde moram muitos deslocados, mais de uma centena de palestinos foram mortos no dia da retomada da guerra. A maioria foi morta queimada devido ao contato das bombas com as tendas de deslocados.
Além de denunciar “Israel” pelo rompimento do acordo de cessar-fogo, o Hamas ainda denunciou os Estados Unidos por sua cobertura aos ataques criminosos em Gaza. “O reconhecimento do governo dos EUA de que foi previamente informada sobre a agressão sionista confirma sua parceria direta na guerra de extermínio contra nosso povo”, afirmou o Hamas em comunicado.
Assim como aconteceu durante toda a primeira fase da Operação Dilúvio de Al-Aqsa, várias organizações de luta no Oriente Próximo denunciaram “Israel” e prestaram seu apoio ao povo palestino. Hesbolá, Jiade Islâmica, Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP) e Frente Democrática para a Libertação da Palestina (FDLP) emitiram várias notas e se colocaram à disposição. Da mesma maneira, a República Islâmica do Irã criticou duramente os crimes da entidade sionista.
O Iêmen, governado pelo partido revolucionário Ansar Alá, intensificou as suas ações militares contra “Israel”. No ano de 2023, o país já havia surpreendido o mundo com um bloqueio naval contra as embarcações israelenses. Antes mesmo da quebra do cessar-fogo, o Iêmen havia retomado estas operações, como resposta ao bloqueio israelense contra a entrada de alimentos e ajuda humanitária em Gaza.
No decorrer do mês de março, o Iêmen não apenas intensificou as operações, como mudou a qualidade destas. Mesmo bombardeado pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido diariamente, o Iêmen manteve sua solidariedade ao povo de Gaza e impôs também um bloqueio aéreo, realizando várias operações contra o Aeroporto Ben Gurion.
Na primeira semana da retomada da guerra, “Israel” já havia assassinado cinco membros do birô político do Hamas: Ismail Barhoum, Salah Bardawil, Issam Daalis, Yasser Harb e Mohammed Al-Jamasi.
Desde a Operação Dilúvio de Al-Aqsa, em outubro de 2023, “Israel” assassinou 11 dos 20 membros originais do birô político do Hamas. Além dos cinco recentes, nomes como o lendário Iaia Sinuar, Ismail Hanié, Marwan Issa, Zakaria Abu Muamar, Rawhi Mustasha, Samih Al-Sarraj, Jawad Abu Shamala e Jamila Shanti já haviam sido assassinados em ataques anteriores.
Passados alguns dias, os motivos pelos quais o governo israelense havia decidido retomar a guerra foram ficando mais claros. De acordo com a Resistência Palestina, Benjamin Netaniahu foi obrigado a voltar com os bombardeios para conseguir trazer Itamar Ben Gvir, da extrema direita, de volta ao governo. Este movimento, por sua vez, era decisivo para que o governo se mantivesse. Sem o retorno de Ben Gvir, o governo não conseguiria aprovar o orçamento de 2025 e, assim, seria necessariamente derrubado.
Apesar de Netaniahu ter conseguido uma unidade em seu governo para retomar a guerra, ele foi forçado a enfrentar uma pressão cada vez maior de dentro da própria sociedade israelense. A demissão do chefe do Shin Bet, agência de inteligência interna, levou a uma série de mobilizações. Ao mesmo tempo, os familiares dos prisioneiros sob custódia do Hamas aumentaram as críticas ao governo israelense. Mais recentemente, no dia 14 de abril, cartas abertas assinadas por centenas de ex-militares e de ex-funcionários do Mossad mostraram a insatisfação com a política de Netaniahu, que estaria colocando a vida dos prisioneiros sob altíssimo risco.
As mobilizações contra a guerra não se restringiram aos territórios palestinos ocupados por “Israel”. Em todo o mundo, várias manifestações ocorreram em apoio à Palestina — especialmente no Iêmen, onde a disposição revolucionária de seu povo sustenta a posição intransigente do Ansar Alá. O dia mais significativo de mobilizações foi o dia de Al-Quds, como é conhecida a última sexta-feira do mês de Ramadã, período considerado sagrado pelos muçulmanos. No ano de 2025, o dia de Al-Quds ocorreu em 28 de março e reuniu centenas de milhares de pessoas no Oriente Próximo.
Passado um mês da quebra do cessar-fogo, “Israel” segue cometendo crimes de guerra diários. Entre eles, o assassinato em massa de paramédicos e funcionários do Crescente Vermelho, fuzilados e atirados a uma vala, o bombardeio de hospitais, sob o velho pretexto de que este abrigaria “terroristas”, e o bombardeio de uma escola da Organização das Nações Unidas (ONU). No início de abril, o governo da Faixa de Gaza denunciou que o bloqueio criminoso imposto por “Israel” havia levado ao fechamento de todas as padarias, condenando a população inteira à morte por inanição a curto prazo.
Apesar de tantos crimes cometidos por “Israel”, o governo sionista não conseguiu alcançar um único objetivo. No dia 8 de abril, um artigo intitulado É isso que se chama de fracasso total: este é o retrato sombrio da situação em Gaza, publicado pelo portal hebraico Maariv, mostra que, na verdade, a situação do enclave imperialista é extremamente delicada.
“Apesar dos elogios recebidos pelos altos escalões das forças de segurança no início da operação ‘Força e Espada’, que marcou o retorno do Estado de ‘Israel’ ao combate em Gaza, uma fonte de segurança sênior fez duras críticas ao andamento da operação – e alertou: ‘não há combate ofensivo atualmente em Gaza’. (…) Os resultados esperados, como a pressão sobre o Hamas que queríamos alcançar, não estão ocorrendo no terreno. Há, de fato, pressão sobre a organização terrorista, mas não é a que estimávamos. Por isso, o Hamas não está avançando nas negociações. E, na verdade, não há atualmente negociação real pela libertação dos reféns. (…) Perdemos toda a vantagem do movimento inicial, perdemos o objetivo da operação ao evitar o combate. Estamos tentando eliminar um ou outro militante em Gaza, mas isso não é guerra. Não estamos nem aqui nem ali. Não há continuidade nas operações. Isso está relacionado também à política do governo. Não podemos agora escolher alvos com pinça e, dessa forma, exercer pressão sobre o Hamas – isso provavelmente não vai funcionar.”
Nos últimos dias, a imprensa árabe noticiou que “Israel” havia apresentado uma nova proposta de cessar-fogo. Para o Hamas, no entanto, a proposta teria como único objetivo retirar o principal meio de pressão do Hamas sobre o Estado sionista — os seus prisioneiros de guerra —, sem, contudo, apresentar nenhuma garantia do fim das hostilidades.
No dia 15 de abril, as Brigadas Al-Qassam, braço armado do Hamas, anunciaram que haviam perdido contato com Edan Alexander, prisioneiro com cidadania norte-americana. O grupo acusou “Israel” de estar tentando assassinar deliberadamente os prisioneiros de dupla cidadania para, assim, diminuir a pressão estrangeira pelo cessar-fogo.
No dia 17 de abril, o chefe da delegação de negociação e chefe do Hamas na Faixa de Gaza, Dr. Khalil al-Hayya, declarou que a Resistência Palestina está pronta para iniciar imediatamente as negociações sobre um novo acordo de cessar-fogo, desde que ela leve a uma troca de prisioneiros, o fim completo da guerra, uma retirada total das tropas sionistas da Faixa de Gaza, o início de sua reconstrução e o fim do bloqueio econômico.
O dirigente ainda declarou que as propostas parciais apresentadas pelo governo Netaniahu servem apenas de cobertura para seus objetivos políticos.