
O assessor internacional da Presidência, Celso Amorim, comentou as recentes medidas adotadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Segundo ele, ações como o “tarifaço” implementado pelo republicano representam um risco grave ao sistema multilateral, um dos pilares da política externa brasileira. Amorim afirmou ainda que, diante desse cenário, “a China hoje oferece mais oportunidades ao Brasil e menos riscos”. As declarações foram dadas em entrevista ao Globo.
Em vários dos grupos e blocos nos quais o Brasil participa, entre eles o Brics, a defesa do multilateralismo é uma bandeira forte. Nesse contexto, como o senhor avalia o impacto e os riscos que representa o tarifaço anunciado pelo governo dos Estados Unidos?
A ênfase no sistema multilateral é algo muito importante. Esse é o mundo que a gente está vivendo. Estamos vivendo num mundo difícil, desafiante. Mas acho que as percepções estão mudando. Não é tão fácil assim quanto parecia botar um tarifaço para todo mundo.
O grande risco nisso tudo é o sistema multilateral. Na minha opinião, o que os EUA quiseram fazer não foi botar uma tarifa para a China, outra para o Brasil, etc… isso também, mas acho que eles quiseram forçar negociações bilaterais.(…)

O senhor acredita na possibilidade de uma moderação na escalada de Trump?
Acho que começa a haver uma percepção diferente, mesmo nos Estados Unidos, por parte de economistas americanos, industriais, empresários. De qualquer maneira, deu uma sacudida forte aqui.
Existe risco de uma recessão global?
Obviamente criou uma tempestade global, os mercados despencaram. E continuam muito instáveis. A Europa está preocupadíssima. Até mesmo os Estados Unidos podem cair numa recessão, aliás, o país é o principal ameaçado. É isso que eu temo.
No passado, isso foi o prelúdio da Segunda Guerra Mundial. Houve necessidade de fomentar a indústria armamentista para levantar as economias. Porque o consumidor não tinha mais força. O consumo dos indivíduos, das famílias, não era suficiente para levantar as economias. As economias só começam a se levantar quando começa a haver a perspectiva da guerra. Espero que dessa vez não se chegue a isso.(…)
O senhor irá com o presidente Lula à China e à Rússia em breve, uma imagem forte neste momento do mundo.
Os Brics proporcionam aproximações bilaterais, ou trilaterais. O Brasil tem hoje uma relação com a China muito mais forte. Com a Rússia, talvez, não tanto por causa da guerra, mas, mesmo assim, é muito forte. Temos muito bom diálogo, embora não concordemos com tudo.
Temos um grande superávit comercial com a China, ao contrário dos Estados Unidos, com quem nós temos déficit. Se você incluir serviços, propriedade intelectual, o déficit aumenta muito mais ainda. Isso uma coisa que eles devem ter presente quando forem negociar.
A China tem hoje uma disponibilidade de recursos para investimento no exterior que os Estados Unidos não têm. É uma questão pragmática. A China hoje oferece mais oportunidades ao Brasil e menos riscos. No início do século XX, o Barão do Rio Branco desviou recursos da Europa para os Estados Unidos, porque os Estados Unidos tinham mais disponibilidade para isso do que a Europa. A gente não é quem desvia, mas a gente equilibra.(…)
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