Na última terça-feira (15), um protesto pacífico organizado por moradores da favela do Moinho, localizada na região central de São Paulo, foi brutalmente reprimido pela Polícia Militar (PM). A manifestação, liderada pela Associação de Moradores do Moinho, buscava denunciar o plano dos governos do prefeito Ricardo Nunes e do governador Tarcísio de Freitas para remover as famílias da comunidade e transformar a área em um parque. Marcada pelo uso de bombas de efeito moral e munição não letal, a ação policial gerou correria, tensão e revolta entre os manifestantes, que exigem o direito de permanecer em suas casas.
A mobilização começou de forma ordeira, com os moradores marchando em direção à Câmara Municipal para pressionar as autoridades contra o projeto de remoção. Segundo relatos do portal Ponte, o confronto teve início na Avenida Nove de Julho, quando motociclistas tentaram atravessar o protesto, desencadeando uma resposta desproporcional da PM. Policiais da Força Tática enviados ao local, transformaram a região em um cenário de caos.
A Secretaria da Segurança Pública (SSP) afirmou, em nota ao jornal O Estado de S. Paulo, que a intervenção visava “garantir a ordem”, mas não detalhou as circunstâncias da repressão. Até o momento, a SSP não respondeu a pedidos de esclarecimento de outros veículos.
Os moradores da favela do Moinho denunciam que o plano de realocação, elaborado pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), é insuficiente e desrespeita seus direitos. A proposta prevê a transferência das famílias para áreas periféricas, distantes do centro, onde o acesso a serviços essenciais como creches, escolas, transporte público e oportunidades de emprego é significativamente reduzido.
Muitos residentes possuem casas próprias na comunidade, construídas com esforço ao longo de décadas, e rejeitam a ideia de serem deslocados para moradias precárias em regiões afastadas. “Ninguém aqui quer sair do centro, onde temos nossa vida, nosso trabalho, nossa história”, declarou um morador ao portal Ponte, sob condição de anonimato, por medo de retaliações.
Situada próxima ao bairro dos Campos Elíseos, a favela do Moinho abriga cerca de 1.500 famílias, segundo estimativas da Associação de Moradores. A comunidade enfrenta há anos tentativas de remoção, frequentemente justificadas por projetos urbanísticos que priorizam interesses imobiliários.
A repressão ao protesto não é um caso isolado. Dados do Observatório de Conflitos Urbanos de São Paulo mostram que, entre 2023 e 2024, pelo menos 15 manifestações contra remoções em favelas da capital foram reprimidas pela PM, com uso de violência em 80% dos casos. Os governos Nunes e Tarcísio tem intensificado políticas de despejo em comunidades pobres, sob o pretexto de “requalificação urbana”.