Uma reportagem detalhada publicada pelo portal norte-americano The Grayzone revelou recentemente um grande escândalo envolvendo Rami Davidian, colono israelense alçado à condição de “herói nacional” após os eventos de 7 de outubro de 2023 por supostamente ter resgatado centenas de jovens israelenses e testemunhado atrocidades cometidas pelo Movimento de Resistência Islâmica (Hamas). De acordo com a investigação conduzida pelo jornalista Raviv Drucker, do Canal 13 de Israel, e divulgada por The Grayzone, as histórias propagadas por Davidian são “completamente inventadas, do começo ao fim”.

Segundo o portal, a reportagem de Drucker, que seria veiculada pelo Canal 13 israelense, foi censurada após uma massiva campanha de pressão pública por parte de setores da extrema direita sionista, que utilizaram as redes sociais para atacar violentamente o jornalista e a emissora. O Canal 13 justificou a censura com uma nota oficial afirmando estar ciente dos “sentimentos do público e das consequências que a transmissão teria”, preferindo, portanto, “não transmitir o material neste momento”.

O escândalo gira em torno das histórias fabricadas por Rami Davidian sobre o massacre no festival de música Nova, em que Davidian afirma ter salvo mais de 750 pessoas. Segundo o jornalista Drucker, em declaração citada por The Grayzone, as mentiras contadas por Davidian não foram meros exageros numéricos, mas sim “histórias absolutamente falsas, inventadas do início ao fim, relatos arrepiantes que simplesmente nunca aconteceram”.

Entre as fraudes mais grotescas, está uma encenação macabra apresentada em um filme propagandístico produzido pela cineasta Sheryl Sandberg, intitulado Screams Before Silence. Nesse filme, Davidian aparece quase em lágrimas, descrevendo falsamente ter testemunhado jovens mulheres assassinadas e estupradas pelo Hamas. Em frente às câmeras, ele declara: “essas árvores… eu vi garotas amarradas em cada árvore aqui, com as mãos atrás das costas. Alguém as assassinou, estuprou e abusou delas nessas árvores. Suas pernas estavam abertas. Alguém tirou suas roupas, as estuprou, inseriu objetos em seus órgãos íntimos, como tábuas de madeira e barras de ferro”. A reportagem aponta que, apesar da gravidade das acusações, jamais houve qualquer confirmação desses relatos, nem provas apresentadas para sustentá-los.

A fraude protagonizada por Davidian teve ampla repercussão internacional. Segundo The Grayzone, veículos da imprensa imperialista como The New York Times e The Washington Post acolheram sem qualquer crítica as histórias falsas, citando-as para justificar a campanha militar israelense contra a população palestina. Bret Stephens, colunista de The New York Times, chegou a afirmar que as denúncias feitas por Davidian eram necessárias devido ao suposto silêncio da opinião pública sobre esses eventos. Já The Washington Post utilizou as mentiras para alegar que a violência descrita por Sandberg representava “um plano diferente de crueldade calculada — de maldade absoluta”, comparada ao sofrimento do povo palestino em Gaza.

Ainda mais grave, a matéria de The Grayzone denuncia que as falsidades de Davidian foram parar em um relatório oficial da ONU, que aceitou como “fonte credível” os relatos agora expostos como fraudulentos. De acordo com Drucker, citado pelo portal norte-americano, “em um ano e meio desde os ataques de 7 de outubro, Davidian transformou suas histórias numa verdadeira indústria, realizando incontáveis palestras pagas em Israel e no exterior”. Em 2024, em reconhecimento ao seu fictício heroísmo, ele chegou a ser selecionado para acender a tocha nacional no dia da fundação de “Israel”.

The Grayzone também expõe que Davidian lucrava ativamente com palestras internacionais, muitas delas organizadas por setores de extrema direita ligados ao movimento Chabad, conhecido por seu radicalismo antiárabe. Em um desses eventos, realizado na Universidade Duke, nos Estados Unidos, Davidian repetiu suas falsas alegações de ter encontrado “cadáveres de múltiplas mulheres nuas amarradas em árvores”, relato esse traduzido ao vivo para reforçar a propaganda falsa perante o público norte-americano.

Outro exemplo citado pelo portal norte-americano envolve a suposta história do resgate da jovem israelense Amit Parizer. Davidian, que fala árabe, alegou ter resgatado Parizer fingindo ser “um muçulmano do Iêmen”, uma história também considerada altamente duvidosa.

A censura da reportagem ocorreu, segundo Drucker, após a decisão unilateral e suspeita do executivo do Canal 13, Emiliano Kalamzuk, que cancelou a transmissão da investigação sem sequer assistir ao material completo. Drucker relata que Kalamzuk afirmou estar em um casamento e que iria assistir ao vídeo posteriormente, porém, apenas uma hora após prometer rever o conteúdo, comunicou a decisão final de censura à reportagem. O portal israelense Walla levantou a suspeita de que Kalamzuk sequer assistiu ao vídeo antes de decidir censurá-lo, fato confirmado por fontes internas do Canal 13.

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 17/04/2025