O parlamentar iraniano Abolfazl Zohrevand afirmou nesta terça-feira, 15, que Rússia e China podem atuar como garantidoras em um possível acordo entre Irã e Estados Unidos sobre a não criação de armas nucleares por Teerã.

A declaração foi feita em entrevista à agência Sputnik, no contexto de esforços diplomáticos para retomar o diálogo entre os dois países.

Zohrevand, que integra a comissão de Segurança Nacional e Política Externa do Parlamento iraniano, justificou a proposta com base na posição de Rússia e China como membros do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares (TNP) e como integrantes permanentes do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).

Para o parlamentar, essa condição credencia ambos os países a exercer um papel ativo como garantidores do cumprimento de um eventual acordo.

“[O presidente dos EUA, Donald] Trump declarou que o único problema para ele é que o Irã não avance na criação de uma bomba nuclear. Se esse for realmente o único ponto, então pode ser resolvido, especialmente considerando que Rússia e China são membros do TNP e membros permanentes do Conselho de Segurança.

Os dois países podem, como garantidores, participar ativamente do acordo entre Irã e Estados Unidos e impedir que Europa e Washington iniciem o ‘jogo’ que organizaram da última vez durante o acordo nuclear”, declarou Zohrevand.

As declarações ocorrem no momento em que se discute a realização de uma nova rodada de negociações entre representantes dos Estados Unidos e do Irã.

Na segunda-feira, 14, o ministro das Relações Exteriores da Itália, Antonio Tajani, informou que seu país havia concordado em sediar a segunda fase do diálogo.

A informação foi confirmada pelo representante iraniano Abbas Araghchi, mas posteriormente, a chancelaria iraniana indicou que o encontro ocorrerá novamente em Mascate, capital do Omã, no dia 19 de abril.

O histórico das negociações nucleares entre Irã e potências ocidentais é marcado por reviravoltas e períodos de suspensão. Em 2015, foi assinado o Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA, na sigla em inglês), acordo que limitava o programa nuclear iraniano em troca da suspensão de sanções internacionais.

Em 2018, os Estados Unidos se retiraram do pacto sob a presidência de Donald Trump, que justificou a decisão com base em supostos descumprimentos por parte do Irã e na necessidade de um novo acordo mais abrangente.

Desde então, as tentativas de restabelecer o acordo enfrentaram dificuldades, com acusações mútuas entre Washington e Teerã.

O governo iraniano insiste que seu programa nuclear tem fins pacíficos, enquanto autoridades americanas exigem garantias verificáveis de que o Irã não desenvolverá armas nucleares.

Zohrevand avaliou ainda que os Estados Unidos têm buscado minar a relação do Irã com Rússia e China. “Apesar disso, os Estados Unidos tentam afastar o Irã da Rússia e da China”, afirmou o parlamentar.

Em sua análise, uma atuação coordenada entre os três países poderia limitar a influência ocidental nas negociações. “Se agirem com vigilância e de forma coordenada, não teremos mais esse fenômeno da era da unipolaridade”, disse.

O parlamentar iraniano também destacou que Moscou e Pequim podem desempenhar um papel de equilíbrio diante do histórico das negociações anteriores, quando, segundo ele, a Europa e os Estados Unidos conduziram o processo de forma desequilibrada.

Para Zohrevand, a presença de garantidores multilaterais poderia conferir maior estabilidade a um novo acordo e reduzir o risco de abandono unilateral por parte dos envolvidos.

Rússia e China mantêm relações estratégicas com o Irã e têm manifestado publicamente apoio a uma solução negociada para o impasse nuclear.

Ambos os países criticaram a retirada dos EUA do JCPOA em 2018 e vêm defendendo a retomada do pacto com base nos termos originais, ainda que com possíveis atualizações técnicas.

O governo do Omã, que tem historicamente desempenhado um papel de mediador em diálogos internacionais envolvendo o Irã, confirmou a disposição de sediar a nova rodada de discussões.

A realização da reunião em Mascate, como na primeira etapa, mantém a tradição de neutralidade adotada pelo país em negociações diplomáticas sensíveis.

A nova fase do diálogo ocorrerá sob a supervisão indireta de autoridades europeias e representantes de países signatários do TNP. Não há confirmação oficial de quais integrantes do governo norte-americano participarão do encontro, nem se haverá presença formal de representantes russos ou chineses.

O resultado das conversas poderá indicar a viabilidade de um novo pacto nuclear ou a necessidade de alternativas diplomáticas. Até o momento, o governo iraniano mantém a posição de que qualquer novo acordo deve respeitar o princípio de reciprocidade e prever garantias de não interferência externa.

A movimentação diplomática prossegue em meio a tensões regionais e internacionais envolvendo temas de segurança, energia e alianças geopolíticas. O papel de Rússia e China nas próximas etapas do processo pode se tornar um ponto central para a viabilidade de um novo entendimento entre Teerã e Washington.

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Last Update: 16/04/2025