Uma análise de Esmael Moraes:
O Projeto de Lei da Anistia, conhecido oficialmente como PL 2858/2022 e apelidado de “PL da Impunidade” por críticos do bolsonarismo e setores do próprio governo, travou na Câmara dos Deputados. O motivo, segundo fontes do Congresso, está na reviravolta promovida por uma articulação liderada pela ministra Gleisi Hoffmann, que passou a atuar diretamente nos bastidores do Planalto.
Enquanto o bolsonarismo tenta capitalizar politicamente com a proposta que perdoaria os envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, o Palácio do Planalto optou por uma estratégia silenciosa, mas eficiente: o engavetamento. A resposta institucional veio por meio de Hugo Motta, presidente da Câmara, que publicou nas redes sociais uma mensagem enigmática pedindo responsabilidade coletiva: “Ninguém decide nada sozinho. É preciso responsabilidade”.
Gleisi Hoffmann, ministra da Secretaria de Relações Institucionais, foi apontada como a figura central da virada. Em entrevista ao Blog do Esmael, ela declarou que, mesmo com o requerimento de urgência alcançando as 257 assinaturas necessárias, o projeto dificilmente avançaria. “Tem mais de 3 mil pedidos de urgência na gaveta da Câmara. Esse vai ficar por lá. Não anda”, afirmou.
A movimentação do Planalto enviou um recado claro à base aliada. Quem apoiou o requerimento de urgência pode ter tentado agradar o bolsonarismo, mas será cobrado politicamente. As retaliações devem vir na forma de perda de cargos, verbas e influência.
Nos bastidores, o clima entre os articuladores do governo é de tolerância zero com os aliados que se moveram contra a orientação política. Segundo apuração do Blog do Esmael, o aviso foi direto: “toda traição será castigada”.
Hugo Motta, sem citar diretamente o PL, declarou que pautas como essa precisam ser debatidas no colégio de líderes, o que transferiu a responsabilidade para os líderes da base governista, pressionando-os a recuar publicamente.
A atual crise remete a outros episódios emblemáticos da política brasileira, como a tentativa fracassada de cassar o mandato do senador Sergio Moro. Como naquela ocasião, fala-se agora em acordos silenciosos nos bastidores. Uma possibilidade levantada é que a anistia ampla permaneça parada, mas surja um novo pacto: garantir que Bolsonaro não vá para a prisão, desde que siga inelegível até 2030.
O ministro Alexandre de Moraes já sugeriu em entrevistas à imprensa estrangeira a possibilidade de modular as penas dos envolvidos no 8 de janeiro. Essas declarações alimentam especulações sobre um possível desfecho negociado para a crise.
A expectativa é que o tema fique em suspensão ao menos até depois do feriado. Uma nova reunião do colégio de líderes está marcada para o dia 24. Até lá, o governo tentará consolidar apoio para enterrar o projeto de vez.
Apesar da pausa, a disputa continua. Deputados bolsonaristas prometem pressionar Hugo Motta e os líderes da base. Mesmo sem efeito prático, há um movimento simbólico para que parlamentares retirem suas assinaturas do requerimento, em gesto público de arrependimento.
O PL da Anistia é o projeto que visa perdoar os envolvidos nos atos golpistas de janeiro de 2023. Apesar do apoio inicial de deputados de diversos partidos, incluindo siglas da base governista, a tendência atual é de engavetamento. A articulação política do governo já dá sinais de que os parlamentares que apoiaram a proposta enfrentarão retaliações.
A possibilidade de um acordo que proteja Bolsonaro da prisão, mas mantenha sua inelegibilidade, permanece no ar. Brasília vive de acordos, e nada está realmente resolvido até o último instante.
O PL não foi derrotado oficialmente, mas foi soterrado pela articulação política do Planalto e pela mudança de ventos no Congresso. O recado está dado: a impunidade não passará facilmente, mas o jogo continua, e tudo pode mudar a qualquer momento.
Esmael Morais. Publicado em 16 de abril de 2025. Fonte: Blog do Esmael.
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