A China estabeleceu a primeira constelação de satélites do mundo operando na órbita retrógrada distante (DRO) entre a Terra e a Lua, com conexões estáveis de medição e comunicação intersatélites.

A informação foi divulgada nesta quarta-feira, 16, pela Academia Chinesa de Ciências (ACC), responsável pelo desenvolvimento da missão.

Segundo a ACC, a constelação foi formada por três satélites lançados entre fevereiro e março de 2024, posicionados em órbitas distintas na região espacial conhecida como Terra-Lua.

A constelação foi oficialmente configurada em agosto do mesmo ano. O espaço cislunar, como é chamado o domínio entre a órbita da Terra e a Lua, estende-se até 2 milhões de quilômetros e possui volume cerca de mil vezes maior que o espaço orbital terrestre.

A ACC informou que a criação dessa rede de satélites representa uma etapa na consolidação da presença chinesa na região cislunar, com objetivos relacionados à exploração de recursos lunares, habitação de longo prazo fora da Terra e missões interplanetárias.

A iniciativa teve início em 2017, com estudos preliminares e desenvolvimento de tecnologias voltadas para operações no espaço cislunar.

Em fevereiro de 2022, foi iniciado um projeto piloto para lançar três satélites — DRO-A, DRO-B e DRO-L — com o objetivo de estudar as características da órbita retrógrada distante e testar suas aplicações em comunicação, navegação e ciência espacial.

O satélite DRO-A permanece em órbita retrógrada distante de forma contínua. O DRO-B realiza manobras na rota Terra-Lua. Já o DRO-L foi colocado em uma órbita heliossíncrona e conduz experimentos científicos e tecnológicos desde o lançamento. As operações são coordenadas pelo Centro de Tecnologia e Engenharia para Utilização Espacial (CSU), órgão vinculado à ACC.

Com a inserção da constelação, cientistas chineses desenvolveram um novo conceito de design de missão, com foco em maior tempo de voo e maior capacidade de carga útil.

O método permitiu que a transferência entre a Terra e a Lua fosse concluída com apenas um quinto do combustível exigido por abordagens tradicionais, o que resultou na primeira inserção de baixa energia bem-sucedida de um satélite em uma órbita DRO.

Esse avanço, segundo os cientistas, pode reduzir significativamente os custos de missões futuras no espaço cislunar, ampliando as possibilidades de exploração e operação sustentada na região.

Outro marco destacado pela ACC foi a realização bem-sucedida de uma conexão de medição e comunicação intersatélite na banda K, a uma distância de 1,17 milhão de quilômetros.

O feito representa a superação de um desafio técnico para a construção de constelações operando a grandes distâncias no espaço cislunar.

A missão também apoiou pesquisas em astrofísica, incluindo a observação de explosões de raios gama, e a validação de novas tecnologias espaciais.

Entre os experimentos realizados, destaca-se o uso de relógios atômicos e a implementação de um novo sistema de rastreamento de satélites baseado no próprio espaço, dispensando o uso de estações em solo.

Utilizando apenas três horas de dados coletados entre satélites, os pesquisadores conseguiram determinar a posição orbital com precisão equivalente a mais de dois dias de rastreamento por meio de infraestrutura terrestre convencional.

De acordo com Wang Wenbin, pesquisador do CSU, o feito representa a primeira verificação internacional de determinação orbital por rastreamento satélite a satélite. “É como transformar uma estação terrestre tradicional em um satélite e colocá-lo em órbita baixa da Terra”, explicou.

Segundo ele, essa tecnologia abre caminho para soluções de navegação, cronometragem e controle orbital em ambientes cislunares diversos. A expectativa é de que essa capacidade possa sustentar futuras atividades comerciais e científicas em grande escala na região entre a Terra e a Lua.

Os pesquisadores informaram ao jornal Global Times que os avanços obtidos com a constelação apoiarão diretamente as futuras missões lunares do país.

Os satélites poderão oferecer serviços autônomos de navegação e posicionamento para sondas e orbitadores, além de fornecer sinais temporais de alta precisão para bases na superfície lunar.

A ACC destacou ainda que a posição da órbita retrógrada distante, afastada tanto da Terra quanto da Lua e livre de obstruções, oferece condições favoráveis para o estabelecimento de canais de comunicação estáveis com espaçonaves em missão.

Essa configuração pode facilitar o envio de dados em tempo real e permitir respostas rápidas em situações emergenciais durante operações de exploração lunar.

A China tem intensificado seus investimentos em programas espaciais voltados à região cislunar e à exploração do espaço profundo.

A implementação da constelação de satélites marca uma etapa desse processo, que também inclui missões de retorno de amostras da Lua, envio de sondas para Marte e Júpiter, e o desenvolvimento de tecnologias para presença humana prolongada fora da órbita terrestre.

Com informações do Global Times

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Last Update: 16/04/2025