Investidores temem êxodo de ativos dos EUA com desvalorização dos títulos americanos e do dólar.

O mês de abril tem sido turbulento para os mercados financeiros dos Estados Unidos, com uma forte queda nos preços de ações, títulos e no valor do dólar. A volatilidade, considerada atípica para esse período, tem gerado preocupações crescentes de que a política comercial agressiva do governo Trump esteja causando danos estruturais à credibilidade financeira dos EUA.

Na sexta-feira, os preços dos títulos caíram, elevando o rendimento dos Treasurys de 10 anos brevemente acima de 4,5%, frente aos 3,99% registrados apenas uma semana antes. Ao mesmo tempo, o Índice do Dólar ICE atingiu seu nível mais baixo em três anos, com o dólar caindo acentuadamente frente a moedas consideradas porto seguro, como o iene japonês e o franco suíço.

“A grande conclusão deste ano, da presidência de Trump e de tudo o que aconteceu, é que há uma rotação para fora dos ativos dos EUA. E isso agora ficou evidente — com os rendimentos dos títulos altos e o dólar em queda, essa se tornou a narrativa principal”, afirmou Marco Papic, estrategista da BCA Research.

Segundo George Saravelos, estrategista do Deutsche Bank, o mercado está reavaliando a atratividade estrutural do dólar como moeda de reserva global. “Estamos passando por um processo de rápida desdolarização”, afirmou em nota a clientes. Ele destacou a queda simultânea do dólar e dos títulos como sinal claro dessa mudança.

Os profissionais de Wall Street também estão atentos à correlação entre os mercados. Normalmente, em momentos de aversão ao risco, o dólar e os Treasurys se valorizam. No entanto, a queda dos dois ativos sugere que investidores estrangeiros estão se afastando dos EUA, abalando a confiança que historicamente sustentava a economia americana.

O presidente do Fed de Minneapolis, Neel Kashkari, ressaltou que o comportamento do mercado é atípico: “Normalmente, com grandes aumentos de tarifas, esperaríamos que o dólar subisse. O fato de estar caindo indica que as preferências dos investidores estão mudando.”

Embora não haja confirmação de uma venda massiva de Treasurys por governos estrangeiros, apenas o receio disso já tem impacto relevante. “Os mercados são movidos por confiança. A simples percepção de que investidores estrangeiros estão recuando pode gerar pânico”, explicou Gennadiy Goldberg, estrategista-chefe de taxas da TD Securities.

Além dos impactos financeiros, as consequências econômicas são palpáveis. As empresas americanas com forte presença no exterior enfrentam discriminação em meio às tensões comerciais. “Temos um grande problema de imagem agora”, disse Larry Fink, CEO da BlackRock.

O aumento dos rendimentos dos Treasurys também torna mais caro para o governo dos EUA emitir ou refinanciar sua dívida, pressionando ainda mais o já preocupante déficit federal. “O nível sustentável de déficit fiscal dos EUA está diminuindo, o que reduz a flexibilidade da administração em implementar políticas expansionistas”, afirmou Saravelos.

Outro fator preocupante é a possibilidade de um novo surto inflacionário. Embora os dados recentes indiquem inflação moderada, os efeitos das tarifas anunciadas em abril ainda não foram capturados. Segundo uma pesquisa da Universidade de Michigan, os consumidores americanos estão cada vez mais preocupados com a alta dos preços.

A inflação reduz as opções do Federal Reserve, que tende a evitar cortes nas taxas de juros em um cenário de pressão inflacionária. “A questão agora é o que vem pela frente — e isso é inflação gerada por tarifas”, disse Jim Bianco, presidente da Bianco Research. “Todo esse papo sobre alavancagem, vendas de bancos ou se a China está vendendo ativos é só combustível para um movimento maior.”

Jesse Pound
Publicado em 12 de abril de 2025
CNBC

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Last Update: 16/04/2025