China nomeia novo representante comercial em meio à escalada da guerra tarifária com os EUA.

A China nomeou Li Chenggang como novo representante internacional de comércio no Ministério do Comércio (Mofcom) nesta quarta-feira, substituindo Wang Shouwen, em meio a uma guerra tarifária sem precedentes com os Estados Unidos.

Li, de 58 anos, assume o cargo em um momento de forte tensão comercial entre as duas maiores economias do mundo. Ele possui décadas de experiência em negociações internacionais dentro do Mofcom e atuou como embaixador da China na Organização Mundial do Comércio (OMC), em Genebra, desde 2021. Formado em direito pela Universidade de Pequim, também possui mestrado em economia do direito pela Universidade de Hamburgo, na Alemanha.

Embora o motivo da substituição de Wang não tenha sido esclarecido oficialmente, analistas acreditam que a mudança pode sinalizar uma tentativa de Pequim de destravar as negociações comerciais com Washington. “Diante do agravamento das tensões após o ‘Dia da Libertação’, Li pode ser visto como alguém capaz de romper o impasse”, afirmou Alfredo Montufar-Helu, assessor sênior do China Center da Conference Board, nos EUA.

A nomeação ocorre após semanas de aumentos tarifários sucessivos entre China e EUA, em um movimento que preocupa os mercados globais. Desde janeiro, o presidente Donald Trump aumentou em 145% as tarifas sobre produtos chineses, levando Pequim a retaliar com elevações de até 125%.

Na última sexta-feira, o ministro do Comércio chinês, Wang Wentao, conversou com a diretora-geral da OMC, Ngozi Okonjo-Iweala, sobre as políticas tarifárias dos EUA e o papel do organismo no sistema comercial multilateral.

Li Chenggang, durante sua passagem pela OMC, criticou abertamente as tarifas americanas, acusando os EUA de violar as regras da organização de forma unilateral e arbitrária. “O mundo enfrenta uma série de choques tarifários”, alertou em fevereiro, durante reunião do Conselho Geral da OMC. “A China se opõe firmemente a essas medidas.”

O atual vice-premiê He Lifeng continua como principal autoridade chinesa responsável pelos assuntos econômicos com os EUA, mas o representante comercial do Mofcom exerce papel de apoio crucial e lidera os contatos operacionais com autoridades estrangeiras.

Para Wang Yiwei, diretor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade Renmin e ex-diplomata, a experiência de Li na OMC será essencial. Ele afirmou que a China está focada em acordos bilaterais e regionais abertos, que possam reforçar um sistema comercial global baseado em regras. “Sem o apoio da China, a OMC já estaria paralisada”, disse.

Segundo analistas, a nomeação de Li também deve tranquilizar países menores que dependem da OMC, em meio a ataques às suas regras por parte da administração Trump.

Trump, por sua vez, afirmou recentemente que a China deve tomar a iniciativa nas negociações. “A bola está com a China. Eles precisam fazer um acordo conosco. Nós não precisamos fazer um acordo com eles”, declarou a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, repetindo palavras ditadas por Trump.

Li participou no mês passado de reuniões com grandes empresários, em um esforço para acalmar o setor privado após o presidente Xi Jinping declarar apoio às empresas. Sua atuação sinaliza que Pequim está buscando preservar sua posição internacional enquanto tenta conter o impacto econômico da disputa comercial.

Frank Tang, Alice Li, Frank Chen
Publicado em 16 de abril de 2025
South China Morning Post (SCMP)

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Last Update: 16/04/2025