A economia chinesa iniciou 2025 com um crescimento de 5,4% no primeiro trimestre, acima das expectativas do mercado e em linha com a meta oficial de 5% para o ano. O resultado, anunciado pelo Escritório Nacional de Estatísticas (NBS), reafirma a resiliência do modelo econômico chinês mesmo diante das pressões externas provocadas pela nova rodada de tarifas dos Estados Unidos.

O dado trimestral, equivalente a 4,42 trilhões de dólares, reflete uma combinação de fatores internos bem coordenados: crescimento da produção industrial (+6,5%), investimentos robustos em manufatura e infraestrutura (+9,1% e +5,8%, respectivamente), aumento de 5% nas vendas de serviços e estímulo ao consumo popular.

Segundo o vice-diretor do NBS, Sheng Laiyun, “a inovação tem desempenhado papel cada vez mais central”, consolidando-se como eixo estratégico de longo prazo.

Apesar do desempenho positivo, o cenário internacional impõe desafios. Desde fevereiro, o governo dos EUA sob Donald Trump retomou sua política de tarifas unilaterais contra a China, elevando as alíquotas para até 145% sobre mais da metade dos produtos chineses. Pequim respondeu com tarifas simétricas de 125% sobre bens norte-americanos, qualificando a ação de Washington como “um ataque ao livre comércio”.

Analistas ouvidos por veículos como Reuters, New York Times e SCMP apontam que a antecipação de exportações pode ter inflado artificialmente os números de março. Mesmo assim, o governo chinês demonstrou confiança. “Estamos prontos para enfrentar qualquer incerteza externa com estabilidade e políticas incrementais”, afirmou o primeiro-ministro Li Qiang em reunião com economistas.

Comércio exterior mais diversificado e redução da dependência de um único parceiro comercial são elementos-chave da estratégia de Pequim para enfrentar a nova guerra tarifária. Além disso, os ganhos com inovação e a expansão da economia digital oferecem alternativas concretas de longo prazo.

No mesmo dia em que divulgou os dados do PIB, o governo chinês lançou um plano com 48 medidas para impulsionar o consumo de serviços em 2025. O pacote inclui ações em setores como cuidado com idosos, creches, serviços domésticos e educação, reforçando o papel do bem-estar social como elemento dinâmico do crescimento.

A proposta integra um esforço mais amplo de transformação estrutural, que nos últimos cinco anos fez da demanda interna o principal motor da economia — com mais de 80% da contribuição ao crescimento vindo do mercado doméstico. Segundo Sheng Laiyun, a meta é consolidar “um modelo centrado na inovação, na qualidade de vida e no desenvolvimento sustentável”.

Além do consumo, os setores de alta tecnologia apresentaram desempenho expressivo: a indústria de equipamentos inteligentes cresceu 13,2% em receita, enquanto o investimento em digitalização avançou 8,7%. O uso intensivo de inteligência artificial, big data e tecnologias industriais verdes está pavimentando o caminho para uma nova fase de crescimento qualitativo.

Confiança popular em reconstrução gradual

Embora os indicadores gerais sejam positivos, o governo chinês reconhece a necessidade de consolidar a recuperação da confiança entre consumidores. A moderação ainda marca parte das decisões familiares, reflexo de um ambiente cauteloso após a fase mais intensa de correção no setor imobiliário. Ainda assim, a renda per capita subiu 5,5% no trimestre, e o emprego manteve-se estável — fatores que apontam para uma recuperação gradual e bem administrada.

O investimento em imóveis caiu 9,9% no trimestre, mas o impacto vem sendo compensado pelo crescimento em infraestrutura e manufatura de alto valor agregado. O governo tem reiterado que o foco está na “moradia para viver, não para especular”, como parte do processo de reequilíbrio estrutural do setor habitacional. Novas oportunidades de crescimento surgem, inclusive, com a conversão de parte do estoque urbano em habitação acessível, alinhando desenvolvimento urbano à melhoria da qualidade de vida.

Reação dos mercados e projeções para o ano

Apesar do crescimento acima do esperado, o mercado financeiro reagiu com cautela. O índice de Xangai fechou com leve alta, e o yuan recuou discretamente frente ao dólar. Bancos internacionais como UBS, Nomura, ANZ e Goldman Sachs revisaram suas projeções para 2025, situando o crescimento entre 3,4% e 4,2% — mas todos admitem que eventuais pacotes de estímulo podem reverter esse quadro.

O governo, por sua vez, já sinalizou que está pronto para agir. “É essencial garantir uma atuação eficaz já no segundo trimestre”, disse Li Qiang. A expectativa é de que novas medidas fiscais e monetárias sejam adotadas no segundo semestre, mantendo o equilíbrio entre crescimento e estabilidade de longo prazo.

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Last Update: 16/04/2025