
A Polícia Federal (PF) deflagrou, na manhã desta quarta-feira (16), uma operação contra uma organização criminosa suspeita de envolvimento em crimes como obstrução da Justiça, caixa dois, lavagem de dinheiro e fraude em licitações.
A ação é um desdobramento da Operação Teatro Invisível, realizada em setembro do ano passado, que investigou um esquema de manipulação eleitoral com uso de atores contratados para difamar adversários políticos de candidatos bolsonaristas nas eleições de 2022.
Nesta nova fase, os agentes cumprem dez mandados de busca e apreensão em endereços ligados aos investigados nas cidades de Cabo Frio, Itaguaí, Mangaratiba e Rio de Janeiro (RJ), além de Juiz de Fora (MG). Também foi determinado o bloqueio de contas bancárias dos envolvidos, totalizando cerca de R$ 3,5 bilhões, e a suspensão das atividades de oito empresas apontadas como participantes do esquema.
Segundo a PF, após as apreensões realizadas na primeira fase da investigação, foram identificados sócios de empresas envolvidas em fraudes licitatórias no estado do Rio de Janeiro.
A apuração revelou o uso de recursos não declarados à Justiça Eleitoral e operações de lavagem de dinheiro realizadas de forma sistemática, por meio de contas de passagem, dinheiro em espécie, empresas com grande movimentação econômica e aquisição de bens de alto valor. Também foram encontrados indícios de destruição de provas digitais que poderiam comprometer os integrantes do grupo criminoso.
A operação
Durante a primeira fase, ficou constatado que atores eram pagos para simular situações cotidianas com o objetivo de influenciar o voto de eleitores em 13 cidades fluminenses.
Os participantes recebiam aulas e roteiros para encenar falas em locais públicos, com frases como: “Gastaram milhões naquela ponte. Para quê? E nossas crianças?”. Em outros momentos, eram instruídos a elogiar candidatos específicos, com frases ensaiadas como: “Eu tô com o coração alegre com as propostas dele. Eu, como mãe, como filha”.
Um dos beneficiados seria o deputado estadual Valdecy da Saúde (PL), pré-candidato à prefeitura de São João de Meriti (RJ). Ele aparece em um vídeo dizendo que dois dos investigados fizeram dele “um dos mais votados do estado do Rio de Janeiro”. A PF também encontrou entre os arquivos do grupo um material identificado como “Valdecy campanha teatro”.

A operação identificou que os atores recebiam cerca de R$ 2 mil mensais, enquanto os coordenadores do esquema ganhavam até R$ 5 mil. Eles atuavam em pontos de grande circulação, como padarias, pontos de ônibus, mercados e bancos, espalhando desinformação contra os adversários políticos dos contratantes.
Foram presos Bernard Rodrigues Soares, Roberto Pinto dos Santos, André Luiz Chaves da Silva e Ricardo Henriques Patrício Barbosa.
“O Beto e o Bernard, se vocês não sabem, eles dois, com toda a sua equipe de coordenação, é que fizeram o Valdecy da Saúde um dos mais votados do Estado do Rio de Janeiro”, disse o próprio deputado Valdecy, no palanque de um evento, em 2022, em agradecimento por sua reeleição à Assembleia Legislativa do Rio.

A organização também é acusada de produzir conteúdos falsos utilizando indevidamente a marca do portal G1 e até de manipular um vídeo com o apresentador William Bonner, atribuindo-lhe uma declaração inexistente. Além disso, os investigadores apuram o uso de cargos comissionados em prefeituras para desviar recursos públicos e financiar as atividades do grupo.
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