A ONG francesa Médicos Sem Fronteiras (MSF) faz uma forte denúncia nesta quarta-feira 16. Segundo a coordenadora de emergência da organização na Faixa de Gaza, Amande Bazerolle, o enclave se tornou “uma vala comum para os palestinos e todos aqueles que chegam para ajudá-los“. Apesar dos apelos da comunidade internacional de proteção aos civis, o ministro da Defesa israelense, Israel Katz, diz que essa “política” visa exercer “pressão máxima” contra o Hamas.
“Assistimos, em tempo real, à destruição e ao deslocamento forçado de toda a população de Gaza”, declarou Amande Bazerolle da MSF. Ela relatou que a resposta humanitária aos moradores do território palestino está “gravemente obstruída pela insegurança constante e pela escassez crítica”. Os estoques de alimentos, água potável, combustíveis e medicamentos estão esgotados, segundo a MSF.
Os ataques israelenses mais recentes demonstram “um flagrante desprezo pela segurança dos trabalhadores humanitários e médicos em Gaza”, acrescentou a organização, que perdeu 11 colaboradores desde o início da guerra no território palestino.
“Pedimos às autoridades israelenses que acabem imediatamente com o cerco desumano e mortal imposto a Gaza, que protejam as vidas dos palestinos, assim como as dos trabalhadores humanitários e médicos, e que trabalhem em conjunto com todas as partes para restabelecer e manter um cessar-fogo”, prosseguiu a ONG.
Há dois dias, o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) disse que o território palestino estava enfrentando “provavelmente a pior” situação humanitária desde o início da guerra, em 7 de outubro de 2023.
‘Alavanca de pressão’
Mas nesta quarta-feira, o ministro da Defesa israelense, Israel Katz, descartou a entrada de ajuda humanitária no enclave. Katz, um dos membros do governo mais próximos do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, disse que essa política é “uma das principais alavancas de pressão para impedir o Hamas de controlar” a ajuda internacional.
Katz reiterou que Israel deseja, em última análise, confiar a distribuição de ajuda humanitária em Gaza às “sociedades civis”. O governo israelense acusa o movimento islamista palestino de desviar a ajuda para seu próprio uso e controlar sua distribuição, algo que o Hamas nega.
O primeiro-ministro israelense defende que a pressão militar crescente é a única maneira de forçar o Hamas a libertar os reféns que permanecem sequestrados em Gaza. Neste momento, o Hamas ainda mantém 59 israelenses em cativeiro; sendo que 35 deles já morreram.
As negociações para um novo cessar-fogo parecem novamente fadadas ao fracasso. De acordo com fontes citadas pela imprensa local em Israel, há uma mudança no método de ação militar. Na nova lógica, Israel não considera mais a possibilidade de entradas e saídas pontuais na Faixa de Gaza, mas sim o controle contínuo no terreno que tem por objetivo exercer pressão máxima sobre o Hamas. A expectativa desta nova forma de atuação é levar o Hamas para a mesa de negociações sob as condições de Israel.
Com informações da AFP e do correspondente da RFI em Israel