A economia da China cresceu robustos 5,4% no primeiro trimestre deste ano, com produtores antecipando exportações para evitar tarifas impostas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, que ameaçam dissociar as duas maiores economias do mundo.
Os dados oficiais do PIB, divulgados pelo Escritório Nacional de Estatísticas da China, mantiveram o ritmo de crescimento anual do quarto trimestre, mesmo com as primeiras tarifas adicionais de 20% de Trump entrando em vigor.
O desempenho superou a meta anual de Pequim para 2025 e a previsão de 5,1% dos analistas em uma pesquisa da Reuters.
Economistas, porém, esperam pressão sobre a economia chinesa conforme as tarifas americanas passam a vigorar plenamente.
Sheng Laiyun, vice-comissário do órgão estatístico, afirmou que a economia teve um “bom começo” no primeiro trimestre, mas alertou para um cenário externo “cada vez mais complexo e severo”, com demanda doméstica insuficiente e bases ainda frágeis para sustentar a recuperação.
Os mercados chineses recuaram, com o índice Hang Seng de Hong Kong caindo 2,5%, enquanto o CSI 300 da China continental perdeu 0,9%. O renminbi enfraqueceu 0,15%, para Rmb7,326 por dólar.
A China reorganizou sua equipe de negociação comercial, nomeando Li Chenggang, representante na Organização Mundial do Comércio, como principal oficial. Li, formado parcialmente na Alemanha, substitui Wang Shouwen, no cargo desde 2022.
Henry Gao, professor de direito em Cingapura, destacou que a formação jurídica de Li o prepara melhor para lidar com questões legais complexas nas negociações, sinalizando uma abordagem estratégica de Pequim.
O governo chinês estabeleceu uma meta de crescimento de 5% para este ano, apoiada por estímulos e um recorde no déficit orçamentário. No entanto, economistas revisaram suas projeções após as tarifas de Trump, com Morgan Stanley reduzindo sua estimativa para 2025 de 4,5% para 4,2%.
Lynn Song, economista-chefe da ING, observou que o forte desempenho industrial do primeiro trimestre pode refletir a antecipação de exportações, mas o impacto real só ficará claro nos próximos meses.
Analistas da Goldman Sachs preveem desaceleração no segundo trimestre, citando tarifas americanas e efeitos da antecipação de exportações.
Trump impôs tarifas adicionais de 145% sobre produtos chineses, com isenções temporárias para itens como smartphones. A China retaliou com taxas de 125%.
Nesta semana, os EUA e a China intensificaram a retórica. Trump afirmou que Pequim “precisa fechar um acordo conosco”, enquanto Xia Baolong, diretor do Escritório de Assuntos de Hong Kong e Macau, declarou que a China não será intimidada.
O crescimento chinês ocorre em meio a desafios no setor imobiliário, que afetam o consumo. Em março, as vendas no varejo subiram 5,9%, acima das expectativas, e a produção industrial avançou 7,7%.
Apesar das pressões deflacionárias, a China registrou um superávit comercial recorde de quase US$ 1 trilhão em 2023, impulsionado por exportações. Em março, as exportações subiram 12,4%, enquanto as importações caíram 4,3%.
Sheng destacou a “resiliência” da economia chinesa e afirmou que Pequim tem “um amplo conjunto de ferramentas políticas” para responder a desafios externos.
Autor: Joe Leahy (Beijing), William Sandlund, Cheng Leng (Hong Kong), Thomas Hale (Shanghai)
Fonte: Financial Times
Data: Publicado ontem (atualizado 02:08)