Nascido em 20 de maio de 1886, em Ramalá, na Cisjordânia, Khalil Abdallah Totah foi o sexto de sete filhos sobreviventes de uma família cristã quacre. Iniciou seus estudos em casa e depois passou por instituições fundadas por missões protestantes, como o Friends Boys’ Training Home em al-Bireh e o Friends School, em Brummana, no Líbano. De 1903 a 1905, frequentou a English School em Jerusalém, até migrar para os Estados Unidos, onde completou a educação secundária no Friends Oak Grove Seminary, no Maine.

De 1908 a 1911, cursou o Clark College, em Massachusetts, e, logo em seguida, ingressou no Teachers College da Universidade Columbia, onde obteve um mestrado em educação. Essa formação, profundamente marcada por instituições quacres e norte-americana, moldou sua atuação futura, mas não impediu que se posicionasse, ainda que de maneira moderada, contra os desmandos do colonialismo britânico e da política sionista.

A educação na Palestina sob ocupação

Ao retornar à Palestina, em 1912, com sua esposa norte-americana Ermina Jones, Totah assumiu a direção da Friends Boys’ Training School, em Ramalá. Permaneceu no cargo até 1914, quando foi forçado a cumprir um período de treinamento no exército otomano. No entanto, deixou a Palestina clandestinamente e retornou aos Estados Unidos, onde ficou ausente durante toda a Primeira Guerra Mundial.

Com o fim da guerra e o início do Mandato Britânico, regressou em 1919 à Palestina para assumir a vice-direção e, posteriormente, a direção do Men’s Teacher Training College, fundado pelas autoridades coloniais britânicas. A instituição, depois renomeada como Arab College, tornou-se um dos principais centros de formação docente da Palestina.

Sua renúncia ao cargo em 1925, no auge da indignação árabe diante da visita de Arthur Balfour — autor da infame Declaração de 1917 que abriu caminho para a colonização sionista —, marca um dos momentos mais significativos de sua trajetória. O episódio gerou greves e manifestações em Jerusalém, inclusive entre os estudantes e professores da instituição dirigida por Totah. A renúncia, portanto, não se deu por questões pessoais ou administrativas, mas como um gesto de repúdio à aliança entre o imperialismo britânico e o movimento sionista.

Defensor da educação nacional palestina

Após concluir seu doutorado em Nova Iorque, voltou à Palestina em 1927 e reassumiu a função de diretor e professor na escola quacre de Ramalá, onde permaneceu até 1944. Foi nesse período que Totah consolidou suas propostas pedagógicas. Defendia uma reforma educacional profunda, que priorizasse os interesses nacionais palestinos, em oposição ao currículo colonial britânico. Propôs o controle palestino sobre a educação, com destaque para a inclusão da cultura nacional (música, arte e teatro) no ensino básico e médio, bem como o ensino agrícola para as crianças do campo — uma proposta alinhada à realidade majoritariamente rural da Palestina.

Durante esse período, Totah enfrentou a perda de sua primeira esposa em 1928, casando-se no ano seguinte com Eva Rae Marshall, também professora na Friends Girls’ School.

Denúncias ao sionismo e ao imperialismo

Sua atuação, contudo, não se restringiu ao campo educacional. Foi um dos poucos educadores palestinos que se posicionaram publicamente, em fóruns internacionais, contra a política sionista e colonial. Em 1937, foi ouvido pela Comissão Peel, enviada pela Grã-Bretanha para avaliar os conflitos na Palestina. Denunciou as condições degradantes da educação palestina e a marginalização da população árabe sob o Mandato.

Em 1944, mudou-se com a família para os Estados Unidos, onde assumiu a direção executiva do Institute of Arab American Affairs (IAAA), organização criada para atuar na opinião pública estadunidense em defesa da Palestina. Em 1946, depôs perante o Comitê Anglo-Americano de Investigação sobre a Palestina, criticando a política sionista e defendendo a independência árabe.

Foi também nos EUA que publicou sua obra final, Dynamite in the Middle East (1955), na qual analisa a situação explosiva da região — o que o coloca entre os primeiros intelectuais palestinos a alertar para o papel desestabilizador do sionismo no Oriente Médio.

Khalil Abdallah Totah morreu em 24 de fevereiro de 1955, na cidade de Whittier, na Califórnia, após retornar brevemente à Palestina em 1952.

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Last Update: 16/04/2025