A guerra comercial entre China e Estados Unidos ganhou um novo capítulo nesta terça-feira (15), com uma decisão que impacta diretamente o setor de aviação global. Em reação à imposição de tarifas de até 145% sobre produtos chineses pelo presidente norte-americano Donald Trump, o governo chinês determinou que suas companhias aéreas suspendam a compra de aviões da fabricante norte-americana Boeing, além de equipamentos e peças de empresas dos EUA.
A informação, divulgada pela agência Bloomberg, representa um duro golpe à Boeing, que vê o mercado chinês como um dos seus mais promissores. A medida também tem implicações estratégicas, favorecendo concorrentes como a europeia Airbus e a fabricante estatal chinesa COMAC, em um momento em que os EUA elevam o tom contra Pequim.
Boeing em queda livre: ações despencam com anúncio
A reação dos mercados não tardou. As ações da Boeing recuavam com força após a notícia, registrando queda de 1,7% por volta das 16h. A fabricante americana já enfrenta um período turbulento, marcado por desafios na cadeia de suprimentos, aumento de exigências regulatórias e prejuízos reputacionais após falhas de segurança em seus aviões.
Agora, com a nova determinação de Pequim, as três principais companhias aéreas chinesas — Air China, China Eastern Airlines e China Southern Airlines — devem congelar os planos de incorporar 179 aeronaves da Boeing até 2027, criando um rombo no cronograma da fabricante.
Segundo a Bloomberg, o governo chinês estuda inclusive apoiar financeiramente as companhias aéreas que alugam jatos da Boeing e enfrentam elevação de custos devido às novas tarifas impostas pelos EUA.
Trump endurece discurso e reacende guerra comercial
O presidente Donald Trump reagiu em sua rede Truth Social, acusando a China de “renegar acordos comerciais” e tratar de forma “brutal” tanto os agricultores norte-americanos quanto a Boeing. “Nossos agricultores são grandes, mas sempre colocados na linha de frente. A China não tem respeito algum pelo nosso país sob governos democratas”, disparou Trump, em mais um aceno à sua base eleitoral.
A retaliação chinesa está em linha com o movimento da semana anterior, quando o governo aumentou os impostos sobre diversas importações dos EUA para até 125%. Para analistas, o risco agora é de paralisação total do comércio bilateral, que movimentou mais de US$ 650 bilhões em 2024.
Espaço aberto para concorrentes: Airbus e Embraer ganham terreno
Com a Boeing na defensiva, seus concorrentes veem uma janela de oportunidade. A Airbus, que já detém forte presença no mercado chinês, tende a ampliar sua fatia. Mas quem surpreendeu foi a brasileira Embraer: as ações da empresa lideravam os ganhos do Ibovespa nesta terça-feira, subindo mais de 4%, com rumores de que poderia suprir parte da demanda reprimida pela suspensão dos contratos com a Boeing.
O papel EMBR3 era cotado a R$ 65,17 por volta das 11h15, alavancando o principal índice da bolsa brasileira, que operava em leve alta de 0,12%.
Perspectivas: aviação como peça-chave da geopolítica
O embate atual entre China e Estados Unidos mostra como a aviação comercial se tornou um campo estratégico na disputa global por influência econômica e tecnológica. A decisão de Pequim não apenas afeta a Boeing financeiramente, como também representa uma clara sinalização de que o país está disposto a usar seu poder de mercado para responder a pressões políticas.
Com eleições nos EUA e tensões geopolíticas crescentes, o setor aeroespacial poderá continuar sendo moeda de troca em negociações bilaterais. Para a Boeing, o desafio agora é reequilibrar sua presença global, enquanto tenta reconstruir a confiança de investidores e reguladores.