Pequim orienta companhias aéreas a interromper aquisições de aeronaves e peças norte-americanas; decisão amplia tensão na guerra comercial
A China determinou a suspensão das entregas de novas aeronaves da fabricante norte-americana Boeing por parte de suas companhias aéreas, em resposta às recentes tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre produtos chineses.
A medida, revelada pela agência Bloomberg com base em fontes com conhecimento direto do assunto, inclui também a interrupção de compras de equipamentos e peças relacionadas a aeronaves de origem norte-americana.
A orientação foi emitida pelo governo chinês sem anúncio público oficial, mas foi repassada a empresas do setor aéreo comercial.
Além da paralisação no recebimento de novos aviões da Boeing, as companhias foram instruídas a suspender quaisquer transações que envolvam fornecedores dos Estados Unidos, ampliando o alcance da retaliação chinesa.
O movimento ocorre após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, implementar um novo pacote tarifário que atinge diversos produtos chineses com alíquotas de até 145%.
A medida foi anunciada como parte da estratégia do governo norte-americano para reduzir o déficit comercial e proteger a indústria local. A reação de Pequim se insere na série de respostas adotadas desde o início das disputas comerciais entre os dois países, intensificadas com o retorno de Trump à presidência em 2025.
O impacto da decisão afeta diretamente a Boeing, que já enfrenta desafios no mercado internacional. Além das questões geopolíticas, a empresa lida com a concorrência da fabricante europeia Airbus e com os efeitos de falhas técnicas em alguns de seus modelos.
A suspensão das entregas na China, um dos maiores mercados mundiais de aviação civil, representa mais um revés para a empresa norte-americana.
O setor aéreo chinês tem relevância estratégica tanto econômica quanto tecnológica. A decisão de suspender compras de aeronaves e peças dos Estados Unidos é vista como um sinal político que demonstra a disposição do governo chinês em adotar medidas firmes diante de ações consideradas unilaterais por parte de Washington. A interrupção nas aquisições atinge diretamente um setor que movimenta bilhões de dólares em contratos e integra cadeias produtivas globais.
Analistas indicam que a medida pode acelerar o desenvolvimento da indústria aeronáutica local, especialmente os investimentos na Comac, estatal chinesa responsável pelo modelo C919.
O jato, que tem passado por etapas de certificação e testes, é apontado como uma das apostas do governo chinês para reduzir a dependência de aeronaves fabricadas por empresas estrangeiras, como a Boeing e a Airbus.
O programa do C919 vem sendo tratado por autoridades e técnicos chineses como uma alternativa de médio prazo para reestruturar a cadeia de fornecimento de aviões comerciais no país. Caso se consolide, o modelo poderá representar uma mudança no equilíbrio de forças do mercado global de aviação.
A guerra comercial entre China e Estados Unidos teve início em 2018, durante o primeiro mandato de Donald Trump, com a aplicação de tarifas bilaterais sobre centenas de bilhões de dólares em produtos.
A disputa evoluiu para temas como propriedade intelectual, segurança cibernética e acesso a tecnologias sensíveis. Com o retorno de Trump ao cargo, novas medidas foram retomadas, incluindo restrições comerciais e tecnológicas a empresas chinesas de setores estratégicos.
Ao longo dos anos, o confronto resultou em mudanças significativas nas cadeias produtivas internacionais, redirecionamento de investimentos e incertezas em mercados como tecnologia, energia e transporte. A nova escalada de tensões reforça o caráter estratégico da disputa, que transcende questões meramente comerciais.
A suspensão das entregas da Boeing por parte das companhias aéreas chinesas marca mais um capítulo dessa reconfiguração geopolítica. Embora a medida ainda não tenha sido formalizada em comunicados públicos por autoridades chinesas, o impacto nas relações comerciais entre as duas maiores economias do mundo é imediato.
Representantes da Boeing não comentaram a decisão até o momento. O governo norte-americano, por sua vez, ainda não respondeu oficialmente à informação divulgada pela Bloomberg. Analistas avaliam que novos desdobramentos poderão surgir nos próximos dias, tanto em termos de sanções quanto de reações diplomáticas.
A disputa entre os dois países, que já afeta setores como semicondutores, telecomunicações e energia, agora avança sobre a indústria aeroespacial, uma área considerada estratégica por ambos os lados. A tendência, segundo especialistas, é de que as decisões passem a ser guiadas cada vez mais por objetivos geopolíticos, com implicações diretas para a dinâmica do comércio internacional.