
A guerra tarifária imposta pelo presidente americano, Donald Trump, já impacta fortemente setores estratégicos dos Estados Unidos. A indústria automobilística enfrenta paralisações, enquanto as gigantes da tecnologia acumulam prejuízos bilionários. A tensão comercial com a China desgasta a imagem econômica do país, ameaça provocar um rombo de R$ 28 bilhões no Brasil e eleva o risco de uma recessão global. Com informações do UOL.
Trump sustenta que a imposição de tarifas é uma forma de reverter a perda de empregos causada pela instalação de fábricas americanas no exterior. Segundo ele, ao encarecer os produtos estrangeiros, essas nações perderiam competitividade, abrindo margem para retomada de vagas nos EUA.
O presidente também cita o desequilíbrio na balança comercial como motivação: em 2024, o déficit americano foi de US$ 918,4 bilhões, sendo US$ 255 bilhões apenas nas trocas com a China.
Como resposta, Trump elevou as tarifas sobre produtos chineses para 145% e aplicou uma alíquota de 10% para demais países, temporariamente suspensa por 90 dias. Pequim reagiu com um aumento para 125% nas tarifas aplicadas a mercadorias americanas.
Conheça cinco consequências do tarifaço:
Recessão mundial
O cenário global pode caminhar para estagflação ou até mesmo uma recessão em 2025. “O impacto global da guerra tarifária representaria queda de -0,25% no PIB global, equivalente a uma perda de US$ 205 bilhões”, afirma estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (Nemea-Cedeplar-UFMG).
O documento também prevê redução de -0,7% no PIB dos Estados Unidos e de -0,6% na China. O comércio mundial cairia 2,38%, o que representa perdas de cerca de US$ 500 bilhões. Além da desaceleração, o mundo enfrenta risco de inflação.
“A gente está num cenário de disputa política, geopolítica, uma disputa pesada. Não tem nenhuma consideração econômica nessas decisões, e isso deve conduzir o mundo a um quadro de estagflação, menos crescimento com mais inflação”, alerta o economista-chefe do Banco BV, Roberto Padovani.
Big Techs perdem bilhões
Desde que as tarifas foram anunciadas, as ações das big techs sofreram forte desvalorização. As chamadas “Sete Magníficas” — Alphabet, Amazon, Apple, Meta, Microsoft, Nvidia e Tesla — acumularam perdas de US$ 973 bilhões entre os dias 2 e 10 de abril.
A Apple, sozinha, perdeu US$ 502 bilhões, reflexo do fato de que 80% dos iPhones vendidos nos EUA são produzidos na China.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_63b422c2caee4269b8b34177e8876b93/internal_photos/bs/2022/i/7/GZMbh6R0ApHmc7ScGYKA/388240406.jpg)
Para conter os danos, o governo americano suspendeu temporariamente as tarifas sobre alguns produtos de alta tecnologia, segundo informou a Alfândega e Proteção de Fronteiras.
“Mesmo que a Apple seja isenta das tarifas atuais, precisará acelerar seus esforços de diversificação da cadeia de suprimentos e pagar melhor seus fornecedores”, escreveu a consultoria Jefferies.
Tarifas abalam setor automotivo
As tarifas de 25% sobre veículos importados afetaram diretamente as montadoras. A Stellantis suspendeu a produção de modelos Chrysler e Jeep no Canadá e no México, resultando na demissão de 900 trabalhadores nos Estados Unidos, que forneciam motores e peças.
Marcas europeias como Audi e Jaguar Land Rover também diminuíram as exportações para o mercado americano. Como os EUA importam quase metade dos seus carros e 60% das peças, os preços devem subir em média 13,5%, o que representa um aumento de cerca de US$ 6.400 por veículo, segundo estimativa da Yale Budget Lab.
Após o anúncio das tarifas de 15% em março, ações de fabricantes como Porsche, Mercedes, BMW e Volkswagen tiveram quedas de até 5,7%.
Na última segunda-feira (14), Trump afirmou que estuda uma isenção tarifária temporária: “Estou buscando algo para ajudar algumas montadoras que estão migrando para peças fabricadas no Canadá, México e outros lugares e precisam de um pouco mais de tempo”.
Confiança nos EUA é abalada
Pela primeira vez, o mercado demonstrou desconfiança em relação aos títulos do Tesouro americano (treasuries), tradicionalmente considerados um refúgio seguro. Muitos investidores se desfizeram desses ativos. “O mercado perdeu a fé nos ativos dos EUA”, afirmaram analistas do Deutsche Bank.
A China, detentora de grande volume desses títulos, pode retaliar liquidando parte deles. “Os mercados estão preocupados que a China e outros países possam se desfazer desses títulos como forma de retaliação”, disse Grace Tam, consultora-chefe do BNP Paribas Wealth Management, em Hong Kong.
Trump adiou por 90 dias a cobrança de tarifas recíprocas após a instabilidade. “Nesse cenário, o investidor costuma comprar treasuries, e a taxa cai. Mas [nos últimos dias] tinha gente se desfazendo de treasuries em Wall Street, o que fez as taxas dispararem. Isso é falta de confiança do americano no próprio país”, avaliou Cristiano Oliveira, do banco Pine. A escalada inflacionária também preocupa.

“A inflação já está perigosa nos EUA, perto de 3%. Com as tarifas, há expectativa de chegar a 6% e aí as pessoas param de comprar, o que vai levar a um quadro de recessão”, alertou Leonardo Trevisan, da ESPM. Já o JPMorgan avalia em 60% a chance de uma recessão nos EUA.
O bilionário Ray Dalio afirmou que o país está “muito próximo de uma recessão” e alertou para riscos maiores: “Estamos tendo mudanças profundas na ordem mundial. Se você considerar tarifas, dívidas, [e] uma potência emergente desafiando o poder existente… A maneira como isso for tratado pode produzir algo muito pior do que uma recessão”.
O presidente do Fed, Jerome Powell, também afirmou que as tarifas podem elevar a inflação e frear o crescimento no longo prazo.
Brasil terá prejuízos de R$ 28 bilhões
A guerra tarifária também afeta o Brasil. Segundo estudo da UFMG, o país pode perder US$ 4,9 bilhões — o equivalente a R$ 28,6 bilhões — em 2025. Apesar de ganhos de US$ 5,5 bilhões no setor agrícola, devido ao aumento das exportações para a China, a indústria brasileira teria perdas de US$ 8,8 bilhões e o setor de serviços pode encolher em US$ 1,6 bilhão.
O Sudeste é a região mais afetada: “Em São Paulo o impacto corresponderia a uma perda de cerca de R$ 4 bilhões, e em Minas Gerais de R$ 1,16 bilhão”, aponta o estudo. O risco de recessão global pode influenciar na política monetária do Brasil.
Com o cenário incerto, o Banco Central deve adiar novos aumentos da Selic. A previsão da JPMorgan agora é de apenas uma alta de 0,5 ponto em maio, elevando a taxa a 14,75%. A redução começaria em novembro, com encerramento do ano em 13,75%, abaixo dos 15,25% previstos anteriormente.
Conheça as redes sociais do DCM:
Facebook: https://www.facebook.com/diariodocentrodomundo
Threads: https://www.threads.net/@dcm_on_line