O escritor peruano Mario Vargas Llosa, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 2010, morreu neste domingo (13), em Lima, aos 89 anos. Foto: Reprodução

Vargas Llosa é o mais hipnótico de todos os narradores latino-americanos. O que nos puxa para dentro de um texto sem muito esforço, com maior leveza e envolvimento até do que García Márquez. É o que eu acho quando fico sabendo da sua morte.

Nos últimos anos, o Nobel só produziu literatura comum, o que não significa nada, porque não havia como ser genial sempre. Sua última grande obra é Peixe na Água, o livro de memórias. Depois, só coisas desimportantes em relação à sua produção anterior.

Peixe na Água começa contando como sua mãe grávida foi abandonada pelo marido. Seu sentimento em relação ao pai ocupa páginas e páginas do início do livro e tem um desfecho que não vou contar aqui.

Na metade dos anos 90, tive o desplante de puxar conversa com Llosa, ao final de um encontro em Porto Alegre com um grupo pequeno, umas 30 pessoas convidadas pelo empresário William Ling, que presidia o Instituto de Estudos Empresariais (IEE).

Eu queria saber o que ele pensava de José María Arguedas, outro grande escritor peruano, que havia se suicidado. Arguedas era um ‘primitivo’, não era pop e nunca teve reconhecimento entre os grandes.

Llosa me disse: pois estou escrevendo sobre Arguedas. Me falou do Arguedas que conhecera, recolhido e depressivo. E logo depois publicou Utopia Arcaica.

Dessa conversa, em pé, resultaram duas páginas que ofereci ao Juarez Fonseca, editor do Segundo Caderno. Llosa havia me fornecido, em poucos minutos, subsídios e inspiração para que eu escrevesse sobre Arguedas.

ZH compartilhou trechos do diário de suicida do peruano, que o jornal Versus publicara nos anos 80. Foi no Versus que conheci Arguedas, de quem li depois o comovente Rios Profundos, que me foi emprestado pelo amigo Marçal Alves Leite.

E há uns 10 anos, em Miraflores, o bairro onde ele cresceu (e que ocupa a melhor parte de Travessuras da Menina Má), vacilei entre ir e não ir até as ruínas do bar Catedral, que inspira e é título de um dos seus grandes livros.

Eu estava num hotel a uns três quilômetros do que restara do prédio, mas desisti. Já sabia, porque havia pesquisado antes da viagem a Lima, que não veria quase nada além de escombros, se é que ainda existiam.

Llosa foi um pensador liberal mediano, previsível, sem inventividade alguma, quando assumiu seu ativismo político (chegou a ser candidato a presidente e foi derrotado por Fujimori). Mas foi o que importa, um escritor genial.

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Last Update: 14/04/2025