Bioeconomia na Amazônia: Oportunidade, Distração ou Digressão?
por Augusto Cesar Barreto Rocha
A bioeconomia na Amazônia pode ser uma grande oportunidade, mas é possível que seja uma distração ou ainda uma digressão para o que não interessa. A Gestão da Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) em 2025 é profundamente diferente do que era anos atrás. O orçamento para P&D da Merck em 2024 foi 28% de seu faturamento, atingindo cerca de US$ 13 bilhões. A Johnson & Johnson gastou cerca de US$ 17 bilhões ou cerca de 19% de seu faturamento.
Os números dos dois primeiros lugares neste mercado são maiúsculos. Nos anos 1970 aos anos 1980 a gestão de P&D era realizada a partir de portfólios e necessidades de mercado, o que foi chamado de terceira geração de P&D (Nobelius, Roger, Gerybadze e outros fizeram esta classificação). A nossa concepção e imaginário de políticas públicas para este setor estão ancoradas neste período. Parece que congelamos no tempo e no espaço.
A quinta geração da gestão de P&D, dos anos 1990 em diante, tem sido em sistemas de rede, colaboração e inovação aberta. No campo da bioeconomia nacional, há uma parcela de atuação neste sentido, mas o capital privado nacional e internacional na Amazônia ainda não está apontando para este vetor.
Temos na região uma indústria mineradora maiúscula, que tenta se colocar como sustentável (desafio hercúleo), um agro que se posiciona atrás de uma responsabilidade ambiental em fazer isso na Amazônia (um desafio quase impossível e ainda se autodenomina como “bioeconomia”) e uma indústria com raízes relativamente exógenas à região (em um posicionamento natural e desprovido de problemas, salvo nas mentes imperialistas que percebem o Brasil em uma visão atrasada e colonial).
Os recursos aportados para a pesquisa básica e pesquisa pura na Amazônia são pífios frente a grandeza dos desafios. A construção de Programas Prioritários no âmbito da Suframa é um alento. Todavia, falta o restante do sistema para ter uma indústria que de fato possa se conectar com a floresta de maneira minimamente sustentável. Não há como esperar que uma fábrica de motocicletas, que não tem um grande centro de P&D no país integrado com o sistema local de ensino, pesquisa ou extensão consiga gerar bases para integrar sistemas vivos com os seus produtos.
Para sairmos de uma distração e aprofundarmos nossas políticas públicas para a transformação, há a solução das missões empregadas na nova política industrial. Precisamos de Missões para usar responsavelmente o “bio” da Amazônia e, quem sabe um dia, transformar em algo importante da economia regional. Por ora, as ações estão mais para o agro tradicional ou na alocação de recursos usando paradigmas de gestão de P&D dos anos 1970, onde teremos resultados muito aquém das necessidades. Precisamos modernizar a Amazônia e a sua gestão para a visão sistêmica da vida, considerando seus sistemas vivos e as cadeias industriais que tenham real interesse na sua utilização nos sistemas produtivos e produtos advindos de P&D nacional.
Augusto Cesar Barreto Rocha – Professor da UFAM.
O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected]. O artigo será publicado se atender aos critérios do Jornal GGN.
“Democracia é coisa frágil. Defendê-la requer um jornalismo corajoso e contundente. Junte-se a nós: www.catarse.me/jornalggn “