A esquerda pequeno-burguesa é adepta de várias discussões imbecis. Uma delas, que volta e meia aparece, é o debate sobre ser contra o progresso tecnológico. Esse setor da esquerda está mais preocupado com pautas vazias de ecologia do que em transformar radicalmente a sociedade. Em nome de um ecologismo superficial, propagandeado por ONGs financiadas pelas potências imperialistas, muita gente que se diz “revolucionária” tem pregado abertamente o rechaço ao desenvolvimento tecnológico e à modernização das forças produtivas — como se o progresso fosse o inimigo da humanidade.
Nada poderia estar mais distante do marxismo.
Marx e Engels viam no avanço da técnica e da ciência a base material que permitiria à humanidade se libertar da miséria, da ignorância e do trabalho forçado. O problema nunca foi a máquina. O problema é quem controla a máquina. É a propriedade privada dos meios de produção que converte cada avanço em mais exploração e opressão, em vez de usá-lo para o benefício de todos.
Como explica Marx em O Capital, “as máquinas, por si mesmas, não são nem benéficas, nem maléficas. O que determina sua ação social é o regime sob o qual são utilizadas” (O Capital, Livro I, cap. 15). Ou seja, o desenvolvimento técnico não é neutro, mas tampouco é o inimigo: seu conteúdo político depende da luta de classes.
A esquerda liberal, com seu discurso reacionário, pinta um futuro distópico por conta da tecnologia e idealiza um passado pré-industrial miserável. Falam em “voltar à natureza” — ignorando que, como dizia Engels, essa natureza era marcada pela escassez, pela fome, pela opressão tribal e pelo trabalho incessante. Em vez de levantar a bandeira da libertação, sonham com uma “vida simples” que, no fundo, é apenas uma utopia reacionária da pequena-burguesia decadente — que eles nunca viveram e não se propõem a viver. Nenhum deles abandona os progressos da sociedade moderna para morar no meio do mato.
Enquanto isso, os povos oprimidos seguem lutando para se industrializar e conquistar autonomia científica e tecnológica. Como disse Marx nos Grundrisse, “o desenvolvimento das forças produtivas é a primeira tarefa de toda revolução social” (Grundrisse, Caderno VII, 1857). E mais: é apenas “onde termina o trabalho determinado pela necessidade e pela finalidade exterior” que se pode falar em liberdade verdadeira — ou seja, “o verdadeiro reino da liberdade começa além da produção material propriamente dita”.
A revolução socialista não será uma volta ao passado. Ao contrário: será uma ruptura com o regime que prende o desenvolvimento da humanidade. O que hoje aparece como uma “ameaça tecnológica” é, na verdade, o prenúncio de um salto civilizacional — se arrancarmos das mãos do capital os meios de produção e colocarmos o progresso a serviço do povo.
É por isso que Engels afirma que o capitalismo cria as condições da sua própria destruição:
“A socialização da produção não é obra do proletariado. É obra do próprio capitalismo, que, para sobreviver, foi obrigado a concentrar e expandir as forças produtivas.” (Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico, 1880)
E como Marx já advertia no Manifesto Comunista, a burguesia “não pode existir sem revolucionar incessantemente os instrumentos de produção”, mas, com isso, “produz, antes de tudo, seus próprios coveiros” — a classe operária.
Por isso, os comunistas devem defender a robotização para reduzir a jornada de trabalho; a automação, para livrar o ser humano das tarefas degradantes; e o uso da inteligência artificial, sob controle operário, para planificar e libertar a sociedade. A luta contra o capitalismo é, também, uma luta para libertar o progresso de suas amarras.
Não é a tecnologia que ameaça a humanidade.
É o sistema capitalista.