A Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) e o Centro de Pesquisa em Saúde Global da Universidade de Estudos Estrangeiros de Guangdong, da China, vão assinar em agosto um memorando de cooperação em agosto, para criar ações de enfrentamento da doença de Minamata e da exposição ao mercúrio entre populações indígenas.

O acordo abrangerá seis áreas: ensino, pesquisa, comunicação, informação, gestão e políticas de saúde.

A iniciativa ganhou forma durante a visita do professor Kunihiko Yoshida à Ensp/Fiocruz, nos dias 19 e 20 de março. Advogado e especialista em direito ambiental e saúde, Yoshida investiga os efeitos da contaminação por mercúrio em povos de todo o mundo, que, consequentemente, sofrem da doença de Minamata.

Esta patologia, segundo o professor, ainda é negligenciada em boa parte do mundo. No Japão, por exemplo, apenas 10% dos que sofrem de condição neurológica crônica por envenenamento por mercúrio receberam tratamento adequado e indenização do governo.

A contaminação se dá pelo consumo de pescados, contaminados após exposição ao mercúrio. No Brasil, as maiores vítimas são as comunidades indígenas, que convivem com o garimpo.

“Ainda temos muitos obstáculos e poucos problemas foram resolvidos. Por isso, nós precisamos de uma colaboração internacional voltada a esses assuntos, para que a sociedade ocidental entenda a importância de se estabelecer uma espécie de ‘crescimento consciente’. A China também tem problemas ligados à devastação ambiental e contaminação. Sendo assim, construir um novo Memorando de Entendimento entre o Brasil, o Japão e a China pode ser muito significativo”, defendeu Yoshida.

O professor e advogado participou ainda de um workshop, em que apontou que a contaminação por exposição ao mercúrio se tornou um problema global. No entanto, entre os desafios de enfrentamento à doença estão a falta de financiamento e de conhecimento epidemiológico sobre as causas da doença. 

“É paradoxal que a contaminação por mercúrio em decorrência do capitalismo global tenha sido sofrida por povos indígenas, que têm a chave para superar a crise de saúde ambiental no século 21. Eles rejeitam a noção de propriedade privada e exclusiva, a qual traz disputas territoriais e guerra. Eles dão alta responsabilidade ao meio ambiente e têm conhecimento indígena de sustentabilidade, por meio do qual vivem há milhares de anos”, concluiu o professor.

Gestantes indígenas

Yoshida foi recebido pelos pesquisadores e coordenadores do grupo Ambiente, Diversidade e Saúde, Paulo Basta e Sandra Hacon, e pelo assessor de Cooperação Internacional da Escola de Governo em Saúde, Felippe Amarante.

Esta é a segunda vez que o professor vem ao país para estudar os efeitos da doença de Minamata. Em 2023, ele acompanhou o trabalho de campo de Basta nas terras indígenas Munduruku, no Pará.

Paulo Basta, aliás, produziu diversos artigos científicos e o livro acadêmico  Garimpo de Ouro na Amazônia: Crime, Contaminação e Morte. 

Ele também está à frente do  Estudo Longitudinal de Gestantes e Recém-Nascidos Indígenas Expostos ao Mercúrio na Amazônia, que constatou que as gestantes indígenas apresentam de 23 a 24 microgramas de mercúrio para cada grama de cabelo analisado, quando o limite de segurança é 2.

O resultado dos estudos com as indígenas e o impacto da exposição ao mercúrio na população será divulgado no fim de 2026, quando se encerra a coleta de dados.

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Last Update: 26/03/2025