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Série Piauí Cultura Regional (19)
Batuque da Volta do Campo Grande inaugura Espaço Cultural
por Eduardo Pontin
Recurso do Patrimônio Vivo foi fundamental para conquista do Quilombo de Campinas do Piauí
No último dia 28 de junho, o Batuque da Volta do Campo Grande, hoje liderado por Inácio, conseguiu tornar realidade um sonho muito antigo: a inauguração do Espaço Cultural. A ideia do espaço é servir a comunidade para que ela possa apresentar suas diversas formas de expressões culturais, valorizando os saberes e fazeres do Quilombo localizado em Campinas do Piauí. Em 2022, o Batuque da Volta foi certificado pelo Governo do Estado como Patrimônio Vivo do Piauí e passou a receber auxílio financeiro, verba que possibilitou a construção do espaço.
Na inauguração, o centenário grupo do Batuque da Volta do Campo Grande brincou pela primeira vez no Espaço. Além do Samba de Cumbuca, a comunidade quilombola apresentou artesanatos de palha de carnaúba, como vassoura e esteira, confeccionados por Adriana. A culinária quilombola foi representada pelas mãos de Chachica, que preparou um Manuê, bolo típico da região, enquanto Catiana expôs também peças de bordado.
A inauguração contou com a presença do Secretário de Cultura do município, Francson Jacob de Sousa, o Frank, que falou sobre o valor da riqueza cultural do Quilombo da Volta para a cidade de Campinas:
“Quero aqui falar da grande importância para o nosso município da comunidade Quilombola de Volta do Campo Grande que é rica em fazedores de cultura, tem artistas profissionais em tocar sanfona, fazer artesanato, comidas típicas etc. E pra finalizar meu depoimento não podia deixar de falar do Samba de Cumbuca que não é só conhecido no município e sim nacionalmente”. – Frank, Secretário de Cultura de Campinas do Piauí
Ainda na área musical, houve apresentação de Forró Pé de Serra, com a sanfoneira Chiquinha comandando a festa. Finalizando os bens culturais quilombolas da Volta, o grupo do Jucá deu uma demonstração de toda a sua arte, sob a liderança de Ernestino Jr. e Wellington. O Jucá é um tipo de Capoeira em sua forma original, pois é jogado com cacete feito com o pau da árvore do jucá, como era feito num passado distante. O evento teve a presença ilustre de Dona Rosa Preta, de 94 anos, parteira e benzeideira do território quilombola, que expôs garrafadas feitas por ela mesma.
O Secretário de Cultura do município falou também sobre o novo espaço cultural da Volta:
“Estive recentemente na comunidade fazendo uma tarde cultural com vários profissionais da cultura e hoje eles contam com um espaço próprio bem legal para suas atividades”.
Líder do Samba de Cumbuca da Volta, Inácio expressa gratidão pela bolsa financeira que o grupo vem recebendo do Governo do Estado a partir do reconhecimento do Patrimônio Vivo do Piauí:
“As pessoas que nos colocaram como Patrimônio Vivo são anjos que Deus enviou aqui pra nós e graças a Deus abriu as portas da Volta. E vai abrir cada vez mais”.
Inácio explica que o espaço ainda passará por melhorias a longo prazo, já que tudo é feito somente com o recurso financeiro recebido pelo Governo do Estado:
“É só com o valor do Patrimônio Vivo que a gente conseguiu, não recebi mais nenhuma outra verba. Ainda tem muita coisa pra melhorar. O recurso que a gente tá ganhando aqui, graças a Deus que a gente conseguiu, não dá pra gente fazer uma coisa de uma hora pra outra, mas ajuntando, dá pra gente fazer, né? Com fé em Deus eu vou trabalhar pra gente fazer um local, uma cozinha, dois banheiros”. Domingos “Seu Minga” Pereira Damasceno
O nome do Espaço Cultural é uma homenagem a Domingos Pereira Damasceno, o popular Seu Minga, falecido por volta do ano de 2010. Seu Minga foi um dos maiores sambistas do Piauí de todos os tempos. Entre as décadas de 1980 e 1990, disputou diversos concursos de Samba promovidos pelo grande Padre Geraldo, na cidade de Simplício Mendes. Em boa parte desses concursos, Seu Minga voltou para o Quilombo da Volta, onde nasceu, com o prêmio de primeiro lugar. No Samba, o forte de Seu Minga não era o tambor e nem o canto, mas sim o sapateado. Segundo os relatos, não houve no Piauí quem peneirasse como Seu Minga, que dengava cada parte de seu corpo como ninguém.
Seu Minga não foi apenas um mestre do Samba, mas de vida também. Para se ter uma ideia, o recém-falecido ativista quilombola Nêgo Bispo (1959-2023) respeitava muito Seu Minga e citou os seus ensinamentos em muitas palestras realizadas Brasil afora em universidades e centros culturais. Por tudo isso, Domingos “Seu Minga” Pereira Damasceno certamente foi uma escolha acertada para a escolha do nome do espaço cultural que daqui para frente irá acolher as manifestações culturais da Comunidade da Volta.
Com esta inauguração, o Quilombo da Volta do Campo Grande ganha um espaço de sociabilidade, para seus moradores se encontrarem em momentos festivos e perpetuarem os ensinamentos de seus ancestrais.
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