26/3/1871: eleições consolidam vitória da Comuna de Paris

26 de março de 1871 marcou um momento decisivo na história da Comuna de Paris. Após a insurreição popular que resultou na expulsão das forças do governo de Adolphe Thiers da capital francesa, os revolucionários organizaram eleições municipais para consolidar o novo poder. Cerca de 230 mil eleitores participaram do pleito, elegendo 92 representantes para o Conselho da Comuna, órgão encarregado de governar a cidade sob os princípios democráticos e socialistas defendidos pelos comunardos.
O processo eleitoral ocorreu sob forte mobilização popular. As urnas refletiram a ampla adesão às ideias da Comuna, com a vitória esmagadora de candidatos ligados a correntes socialistas, republicanas radicais e anarquistas. Entre os eleitos estavam figuras como Louis-Charles Delescluze, Raoul Rigault e Auguste Blanqui, este último preso pelo governo de Thiers e eleito mesmo em cativeiro, simbolizando a resistência do movimento.
A conjuntura política da época foi marcada pela recente derrota da França na Guerra Franco-Prussiana e pela capitulação do governo francês, que assinou um armistício com a Prússia em janeiro de 1871. A população de Paris, que havia resistido bravamente ao cerco alemão, rejeitava a submissão imposta pelo governo de Thiers e se organizou para controlar a cidade conforme os interesses dos trabalhadores da capital francesa. Esse descontentamento culminou na insurreição de 18 de março, quando a Guarda Nacional, apoiada por operários e pequenos comerciantes, tomou o poder.
Diferente dos pleitos tradicionais, as eleições municipais da Comuna foram organizadas sob o princípio de democracia direta. Os candidatos não representavam partidos políticos convencionais, mas sim tendências políticas que emergiram da luta contra o governo central. Além disso, os eleitos poderiam ser revogados a qualquer momento pelos eleitores, o que garantia maior controle popular sobre os representantes.
O Conselho eleito passou a atuar imediatamente na implementação de medidas progressistas, como a separação entre Igreja e Estado, a autogestão de fábricas pelos trabalhadores e a abolição do exército permanente, substituído pela milícia popular. No entanto, o governo de Thiers, refugiado em Versalhes, não reconheceu a autoridade da Comuna e preparava uma ofensiva para retomar Paris à força.
A eleição de 26 de março consolidou o poder comunal e demonstrou a força da mobilização operária e popular. No entanto, a existência da Comuna foi efêmera. Em maio do mesmo ano, tropas do governo central invadiram a capital e esmagaram a experiência revolucionária na chamada “Semana Sangrenta”, resultando na morte de milhares de comunardos.
Mesmo derrotada, a Comuna de Paris se tornou uma expressão do estágio avançado da luta pela emancipação dos trabalhadores, produzindo um exemplo histórico que ajudaria gerações futuras a conquistar o poder, como os bolcheviques, que 46 anos depois, derrotaria a reação, criando na Rússia o primeiro Estado operário da história.

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