O inquérito que apura a tentativa de autogolpe de Jair Bolsonaro para manter-se no poder indica que o ex-presidente só não avançou em seu plano criminoso porque não houve consenso entre os comandantes das Forças Armadas, que temiam, entre outros pontos, a repercussão que um ataque à democracia geraria na comunidade internacional. Faltou aos bolsonaristas, entre outros ingredientes, algo que foi concedido aos militares que deram o golpe no Brasil em 1964: apoio dos Estados Unidos.
Entre documentos sigilosos que a CIA (Agência Central de Inteligência), dos EUA, trouxe à tona décadas depois do golpe de 1964, está uma reportagem do jornal The Washington Post, que narra o apoio naval dado aos militares que derrubaram o governo de João Goulart, além do papel crucial do general americana Vernom Walters, que fazia a ponte entre o general golpista Humberto Castello Branco e a Secretaria de Estado americana.
A reportagem começava com a sentença: os Estados Unidos estavam prontos “para apoiar a deposição do último governo civil do país pelas forças armadas brasileiras, de acordo com documentos oficiais dos EUA.”
Os EUA deslocaram “uma força-tarefa naval, com um porta-aviões, um porta-helicópteros, seis contratorpedeiros e petroleiros” e aguardavam ordens para “se posicionar na costa brasileira durante o golpe de Estado de 1964 contra o governo de esquerda do presidente João Goulart, conforme mostram os documentos.”
As ordens deveriam vir do então embaixador, Lincoln Gordon. Em entrevistas à imprensa americana, Gordon chegou a negar que os EUA tivessem qualquer participação no golpe brasileiro. Quando os documentos foram revelados, no entanto, ficou patente que Gordon recomendou a criação da força-tarefa logística que ficou conhecida como “Operação Irmão Sam.”
Cinco dias antes do golpe no Brasil, em 27 de março de 1964, Gordon avisou ao secretário de Estado, Dean Rusk, que o provável líder dos militares no levante golpista, general Humberto Castello Branco, tomaria o poder no lugar de Goulart.
“O adido militar de Gordon era o General Vernon Walters, um amigo próximo de Castello Branco. Walters reconheceu ter tomado café da manhã com Branco na manhã seguinte ao golpe e o incentivado a assumir a presidência”, diz a reportagem.
Vernon Anthony Walters (1917-2002) foi um militar e diplomata dos Estados Unidos, conhecido por sua fluência em diversas línguas e por seu papel em eventos políticos importantes durante a Guerra Fria. Walters, tido como “muito bem informado” sobre o golpe no Brasil, se aposentou em meados de 1976 como o segundo no comando da CIA.
Além de seu envolvimento no Brasil, Walters teve uma longa carreira no serviço público dos EUA, ocupando cargos como:
- Vice-diretor da CIA (1972-1976)
- Embaixador dos EUA nas Nações Unidas (1985-1989)
- Embaixador dos EUA na Alemanha Ocidental (1989-1991)
Em um comunicado ao secretário de Estado americano, Walters justificou o golpe dizendo que Goulart estava atravessando um momento de “turbulência” e buscando “poderes ditatoriais” ao se aproximar do Partido Comunista Brasileiro.
Na década de 1970, os documentos desclassificados foram publicados pelo Jornal do Brasil, que enviou um correspondente a Austin para ter acesso aos relatórios. Os documentos foram tornados públicos pelo próprio governo americano cerca de 10 anos após o golpe no Brasil.
Leia a matéria completa do jornal The Washington Post abaixo:
Para relembrar: os principais pontos de envolvimento dos EUA no golpe militar no Brasil em 1964
- Apoio político e econômico:
- O governo dos EUA, sob a presidência de Lyndon B. Johnson, via com preocupação o governo de João Goulart, considerado de esquerda e com tendências nacionalistas.
- Os EUA forneceram apoio financeiro e logístico a grupos de oposição ao governo Goulart, incluindo setores militares e empresariais.
- A “Aliança para o Progresso”, programa de ajuda econômica dos EUA para a América Latina, foi utilizada para financiar políticos e organizações que se opunham a Goulart.
- Apoio militar:
- Documentos oficiais dos EUA revelam que uma força-tarefa naval americana, incluindo um porta-aviões, foi enviada para a costa brasileira durante o golpe, como forma de dissuadir possíveis resistências ao golpe.
- A chamada “Operação Irmão Sam” foi uma operação logística dos EUA para fornecer apoio militar aos golpistas, caso houvesse resistência armada.
- O adido militar dos EUA no Brasil, General Vernon Walters, manteve relações próximas com os militares golpistas, tendo inclusive incentivado o General Castelo Branco a assumir a presidência.
- Influência ideológica:
- A Guerra Fria e a luta contra o comunismo na América Latina influenciaram a política externa dos EUA em relação ao Brasil.
- Os EUA viam o governo Goulart como uma ameaça à sua influência na região e um possível aliado da União Soviética.
Este artigo foi escrito com auxílio de Inteligência Artificial.