O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu nesta quarta-feira (19) elevar a taxa Selic para 14,25% ao ano, consolidando o Brasil como o país com os juros mais altos do mundo. O aumento foi justificado pela alta dos preços dos alimentos e da energia, além das incertezas no cenário econômico global. No entanto, entidades sindicais e especialistas alertam que essa política prejudica o desenvolvimento econômico, reduz o consumo e penaliza milhões de trabalhadores e trabalhadoras.
Enquanto isso, o Federal Reserve, Banco Central dos Estados Unidos, mantém os juros entre 4,25% e 4,5%, evidenciando que o Brasil segue na contramão da economia mundial.
“Um contrassenso muito grande”, diz Adilson Araújo
Para o presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Adilson Araújo, a decisão do Copom representa um obstáculo ao crescimento econômico e atende apenas aos interesses do mercado financeiro:
“Enquanto o Federal Reserve dos Estados Unidos, Banco Central Norte-Americano, decide manter a taxa de juros inalterada entre 4,25% e 4,5%, o Brasil, mais uma vez, segue a tendência de se manter no topo, na condição de país campeão na maior taxa de juros do mundo. Isso é, na verdade, um contrassenso muito grande. Os números da OCDE são reveladores de que o Brasil segue em crescimento e, na medida que o ano de 2024 concluiu um crescimento de 3,4%, e nós temos relativamente uma inflação baixa, seguir apostando nessa escalada de juros altos compromete o projeto nacional de desenvolvimento.”
Adilson Araújo reforça que a alta taxa de juros prejudica a reindustrialização do país e impacta diretamente a vida das famílias brasileiras:
“Dificulta com que possamos ter um processo de reindustrialização do país de forma acelerada e isso, evidentemente, tem rebatimento direto porque inibe o consumo, retrai os investimentos e asfixia milhões de famílias que vêm enfrentando ainda o drama da dificuldade frente à escalada dos preços, à carestia dos alimentos. Então, eu penso que é um contrassenso.”
O presidente da CTB critica ainda o papel do Banco Central nessa política monetária:
“É lamentável que Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central, e o Conselho de Política Monetária insistam em se fazer de garçom para atender os reclames da Faria Lima. Não há razão nenhuma para isso, até porque está muito claro para nós que o ‘Deus Mercado’ não sabe quanto custa o feijão no supermercado. Daí a necessidade de enfrentarmos essa batalha, que é uma das principais.”
CTB defende modelo econômico voltado ao desenvolvimento
A CTB segue mobilizada contra a política de juros elevados e defende um modelo econômico que priorize a reindustrialização, os investimentos e a valorização do trabalho. Para a entidade, o Brasil só retomará o crescimento sustentável se abandonar o foco exclusivo em beneficiar o mercado financeiro e os super-ricos.
“Nós só vamos colocar o Brasil no trilho do desenvolvimento e do crescimento econômico no patamar que se espera. E acredito que o grande esforço deve se aproximar daquilo que alcançamos em 2010. Certamente isso não se dará se a opção for essa de só satisfazer o gozo dos super-ricos.” — Adilson Araújo.