O Comitê de Política Monetária do Banco Central decidiu por unanimidade, nesta quarta-feira 19, promover mais um forte aumento na taxa básica de juros. Com isso, a Selic saltou de 13,25% para 14,25% ao ano, a quarta maior taxa real do mundo. O mercado financeiro já esperava a elevação de um ponto percentual, em linha com o que o Copom indicou no encontro anterior, de janeiro.

No comunicado em que anunciou a nova Selic, o comitê informou que, a se confirmar o cenário esperado, promoverá um novo ajuste, mas de menor magnitude, no próximo encontro, em maio.

A quinta alta consecutiva ocorreu na segunda reunião do colegiado sob o comando de Gabriel Galípolo, sucessor de Roberto Campos Neto.

A última vez que a taxa chegou a 14,25% foi entre julho de 2015 e agosto de 2016, época em que o Brasil vivia um contexto de forte crise política que resultaria na derrubada da então presidenta Dilma Rousseff (PT).

Na reunião de outubro de 2016, já com Michel Temer (MDB) na Presidência, o Copom reduziu o índice a 14% ao ano, iniciando um ciclo de cortes que duraria até março de 2018.

O BC vê com preocupação a combinação entre economia aquecida e inflação. Em 2024, o Produto Interno Bruto subiu 3,4%, enquanto o IPCA avançou 4,83%, acima do teto da meta de inflação (de 4,5%).

Segundo a edição desta semana do Boletim Focus, baseado nas previsões do mercado financeiro, a expectativa de crescimento do PIB deste ano recuou de 2,01% para 1,99% frente à rodada anterior. Já a estimativa de inflação caiu de 5,68% para 5,66%.

Ao justificar o forte aumento desta quarta, o Copom afirma que o cenário externo permanece desfiador, devido especialmente à conjuntura nos Estados Unidos sob Donald Trump. No front doméstico, o BC avalia que os indicadores da atividade econômica e do mercado de trabalho apresentam dinamismo, “ainda que sinais sugiram uma incipiente moderação no crescimento”. O texto menciona também a inflação acima da meta.

Em uma sinalização ao governo federal, o Copom publicou que a percepção dos agentes econômicos sobre o regime fiscal e a sustentabilidade da dívida pública continua a impactar, “de forma relevante”, os preços de ativos e as expectativas.

“O cenário mais recente é marcado por desancoragem adicional das expectativas de inflação, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho, o que exige uma política monetária mais contracionista”, diz o comunicado.

Diante do que considera um cenário adverso para conduzir a inflação de volta à meta, o comitê projeta um novo aumento na Selic para maio, de magnitude inferior ao desta quarta. Pode ser, portanto, uma elevação de 0,25, 0,50 ou 0,75 ponto percentual.

Os diretores, contudo, não sinalizam se o ajuste de maio será o último do atual ciclo de aperto monetário. O fim desse movimento, enfatiza o Copom, será ditado “pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerá da evolução da dinâmica da inflação”.

Com a nova disparada na Selic, o Brasil tem a quarta maior taxa real de juros no mundo, segundo um monitoramento das consultorias MoneYou e Lev Intelligence.

Para calcular o índice real, leva-se em conta a taxa de juros “a mercado” — ou seja, um referencial do que seriam juros tomados em uma operação real — e a inflação projetada para os 12 meses consecutivos.

O Brasil ostenta agora uma taxa real de 8,79%. A Turquia lidera o ranking, com 11,9%, seguida por Argentina, com 9,35%, e Rússia, com 8,91%.

Completam o top 10 Indonésia (6,48%), México (4,82%), Colômbia (4,72%), África do Sul (3,59%), Índia (3,03%) e Filipinas (2,59%).

Dos nove integrantes atuais do Copom, há sete nomeados pelo presidente Lula (PT) e dois por Jair Bolsonaro (PL). Veja a relação:

  • Renato Dias de Brito Gomes (nomeado por Bolsonaro);
  • Diogo Abry Guillen (nomeado por Bolsonaro);
  • Nilton David (nomeado por Lula);
  • Ailton Aquino (nomeado por Lula);
  • Paulo Picchetti (nomeado por Lula);
  • Rodrigo Teixeira (nomeado por Lula);
  • Izabela Correa (nomeada por Lula);
  • Gilneu Vivan (nomeado por Lula); e
  • Gabriel Galípolo (nomeado por Lula).

Em tese, quando o Copom decide aumentar a Selic, busca desaquecer a demanda: os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança, razão pela qual taxas elevadas também dificultam a expansão da economia.

Ao reduzir a taxa, por outro lado, a tendência é que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo, reduzindo o controle da inflação e estimulando a atividade econômica.

Veja as datas das próximas reuniões do Copom:

  • 6 e 7 de maio;
  • 17 e 18 de junho;
  • 29 e 30 de julho;
  • 16 e 17 de setembro;
  • 4 e 5 de novembro; e
  • 9 e 10 de dezembro.

Confira os resultados de todos os encontros do Copom desde o ano passado:

  • janeiro de 2024: de 11,75% para 11,25%;
  • março: de 11,25% para 10,75%;
  • maio: de 10,75% para 10,50%;
  • junho: manutenção em 10,50%;
  • julho: manutenção em 10,50%;
  • setembro: de 10,50% para 10,75%;
  • novembro: de 10,75% para 11,25%;
  • dezembro: de 11,25% para 12,25%; e
  • janeiro de 2025: de 12,25% para 13,25%.

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 19/03/2025