Pelo menos 404 pessoas, incluindo muitas crianças, foram mortas e 562 ficaram feridas, em novos ataques israelenses que acabaram com um frágil cessar-fogo de dois meses em Gaza. O número de mortos pelo Ministério da Saúde deve aumentar, pois muitas vítimas permanecem sob os escombros.
O ataque de terça-feira ocorreu em toda Gaza, incluindo Khan Younis e Rafah, no sul de Gaza, na Cidade de Gaza, no norte, e em áreas centrais como Deir el-Balah.
Pelo décimo quinto dia consecutivo, Israel mantém um bloqueio total de ajuda humanitária à Faixa de Gaza, enquanto emite novas ordens de deslocamento forçado para palestinos em áreas estratégicas. O Ministério da Saúde de Gaza reporta 48.577 mortos confirmados e 112.041 feridos desde a escalada iniciada em 7 de outubro de 2023, números contestados pelo Gabinete de Imprensa do Governo de Gaza, que estima mais de 61.700 mortos, incluindo milhares soterrados sob escombros.
Hamas acusa Israel de “ataque traiçoeiro” e culpa EUA
Em resposta aos bombardeios recentes, o Hamas afirmou que Israel cometeu um “ataque traiçoeiro” contra civis para sabotar negociações de cessar-fogo e acusou os Estados Unidos de apoio tácito. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, justificou os ataques pela falta de progresso nas negociações para libertar reféns. O Hamas libertou cerca de três dúzias de prisioneiros em troca de quase 2.000 prisioneiros palestinos desde o início do cessar-fogo.
O ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Saar, declarou durante evento do AIPAC em Jerusalém que os ataques não são um “evento isolado” e que a operação militar continuará. Ele confirmou que os EUA foram avisados com antecedência e apoiam a ação.
Apelos por sanções e embargo de armas
A congressista norte-americana Rashida Tlaib criticou duramente a ofensiva, exigindo sanções e embargo de armas contra Israel. “O regime de apartheid retomou seu genocídio”, disse, referindo-se ao bloqueio de alimentos e eletricidade.
Já o embaixador palestino na ONU, Riyad Mansour, denunciou tentativas israelenses de alterar a demografia de Gaza por meio de deslocamentos forçados e anexações. “As imagens de crianças feridas e famílias sob escombros voltaram a nos assombrar”, afirmou, reiterando a necessidade de um cessar-fogo permanente e uma solução de dois Estados.
“Resolução da ONU é clara ao rejeitar qualquer tentativa de mudança demográfica ou territorial na Faixa de Gaza, incluindo quaisquer ações que reduzam o território de Gaza, uma meta que Israel continua a perseguir, já que o deslocamento forçado em massa e a anexação continuam sendo seus principais objetivos em todos os territórios palestinos ocupados”, disse Riyad Mansour.
Assassinatos de líderes do Hamas e expansão de assentamentos
O exército israelense anunciou a morte de quatro altos funcionários da ala política do Hamas, incluindo Issam al-Dalis, chefe de obras públicas do governo, Ahmed al-Hatta, subsecretário do Ministério da Justiça, Mahmoud Abu Watfa, subsecretário do Ministério do Interior e Bahjat Abu Sultan, diretor-geral do serviço de segurança interna. O exército disse que seus ataques em Gaza tiveram como alvo comandantes de nível médio e figuras importantes da ala política do Hamas.
Paralelamente, um relatório da ONU revelou expansão recorde de assentamentos israelenses na Cisjordânia e Jerusalém Oriental, com 20.000 novas unidades habitacionais e 49 postos avançados ilegais.
O documento também aponta 612 palestinos mortos por forças israelenses e colonos entre novembro de 2023 e outubro de 2024, além de 2.143 propriedades palestinas demolidas, resultando no deslocamento forçado de 4.527 pessoas na Cisjordânia, um aumento de 200% em relação ao período do relatório anterior.
Durante o mesmo período, a desapropriação de palestinos aumentou, com 214 propriedades palestinas demolidas em Jerusalém Oriental e 1.779 na Cisjordânia devido à falha na obtenção de licenças de construção, o que Israel nega categoricamente aos palestinos. Houve uma média de 118 atos de violência de colonos por mês, acima dos 108 em 2023, que foi um ano recorde.
“Fome como arma de guerra”: ONU e HRW pedem responsabilização
Omar Shakir, da Human Rights Watch, acusou Israel de violar o direito internacional ao bloquear ajuda humanitária e usar a fome como estratégia de guerra. “É um crime de guerra inequívoco”, disse, criticando países como os EUA por continuarem transferindo armas a Israel.
“Bloquear ajuda é uma violação flagrante do direito internacional. Usar a fome como arma de guerra é um crime de guerra. Isso é inequívoco. É claro. A Corte Internacional de Justiça emitiu ordens vinculativas – que Israel está desrespeitando – para facilitar a ajuda”, diz Shakir. “Todas essas coisas são princípios básicos incontroversos da lei e estão sendo flagrantemente violadas pelo governo israelense”, disse, acrescentando que países como os EUA, que continuam a enviar armas para Israel, são “cúmplices” dos abusos israelenses em Gaza.
Enquanto a comunidade internacional debate ações, o conflito segue sem perspectiva de resolução, com Gaza à beira do colapso e a Cisjordânia sob crescente pressão colonial. “Este é um momento histórico para escolher lados”, alertou Mansour.
Com informações da Aljazira