O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) se reúne nesta terça (18) e na quarta (19), em sua sede em Brasília (DF), para a definição sobre a taxa básica de juros, a taxa Selic, que se encontra em 13,25% ao ano, após subir um ponto percentual em janeiro na estreia do novo presidente do banco, Gabriel Galípolo.
Apesar de muita expectativa sobre a redução dos juros em 2025, as sinalizações do BC indicam que a Selic continuará subindo. A tendência é por um novo aumento de um ponto. Caso a situação se efetive, os juros retornam ao alto patamar visto pela última vez entre julho de 2015 e outubro de 2016.
Para pressionar contra o aumento dos juros, nove centrais sindicais realizam protestos com apoio de movimentos sociais na Avenida Paulista, em São Paulo (SP), nesta terça (18), em frente ao prédio do Banco Central. Antes do ato, dirigentes sindicais criticaram a postura do BC, acusado de priorizar o mercado financeiro em detrimento do desenvolvimento industrial e social.
Na visão de Marcos Antonio Costa, mestre em Economia da Educação pela UFF (Universidade Federal Fluminense) e diretor do Sinpro-Rio (Sindicato dos Professores do Município do Rio de Janeiro), a possibilidade de encarecer ainda mais o crédito com os juros altos é a mais plausível.
“Acredito que, infelizmente, o BC vai manter o aumento da taxa Selic, que tem de manter sua credibilidade perante o mercado financeiro, pois funciona como um poder institucionalizado desse mesmo mercado. Dos seus objetivos institucionais de controle da inflação, estímulo do mercado de trabalho e do desenvolvimento do país, só o primeiro que diz respeito a política fiscal interessa ao mercado financeiro”, diz Costa.
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A herança deixada por Roberto Campos Neto, ex-presidente do BC, para Galípolo, limita as ações da nova gestão, conforme explica o diretor do Sinpro-Rio: “Na minha opinião ele [Galípolo] não tem alternativa. O ataque fiscal e a especulação financeira ocorrida no final do ano passado foram muito fortes. Acredito que o BC comece a redução da taxa Selic no início do 2⁰ semestre”, entende.

Segundo Costa, a independência do Banco Central criou no Brasil uma situação em que o Executivo Federal fica de mãos atadas pela condução dos juros, sendo que a taxa em um patamar alto como está diminui o crédito, encarece a dívida a pública, enfraquece o setor produtivo e engessa ações do Estado.
“O presidente do BC não pode mandar mais que o presidente de um país. Vejamos a situação atual da Alemanha: alegando necessidade de se armar urgentemente mandou para as favas e, ao mesmo tempo, as políticas monetária e fiscal. E provavelmente o controle da inflação”, exemplifica.
Crescimento e inflação
Como explica o mestre em economia, uma redução da taxa de juros (o que parece estar longe de acontecer) significaria “mais crédito para o investimento produtivo, para o investimento na indústria e investimento na Formação Bruta de Capital Fixo. É isso que garante crescimento econômico sustentável e de longo prazo gerando empregos formais de qualidade e de alto valor agregado”.
Mas o descompasso dos interesses nacionais com os do capital alocado no rentismo sob a justificativa de controle da inflação tem feito com que os juros continuem sua trajetória de crescimento, o que mostra o poder do mercado financeiro ao influenciar a economia.
O controle da inflação tem sido a principal justificativa para o aumento da Selic, que apesar de superar o teto estabelecido, segue controlada. Tanto que o Boletim Focus de segunda-feira (17) reduziu a estimativa da inflação para o ano, medida pelo IPCA, de 5,68% para 5,66%.
Já foi apontado por diversos analistas que o atual modelo de meta de inflação (de 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo), adotado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), tem contribuído para este cenário de busca por um valor que não necessariamente atende ao momento em que o país passa.
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Atualmente, o Brasil tem por dois anos consecutivos o PIB (Produto Interno Bruto) acima dos 3%, puxado pelos setores de Serviços e Indústria, como também o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), considerado a prévia do PIB, já mostrou que a economia brasileira iniciou o ano com força. Além disso, o desemprego segue em baixa e a massa salarial segue aumentando, o que demonstra que exagerar nos juros só tem segurado ainda mais o crescimento econômico.
“O atual modelo de metas de inflação foi criado exatamente para manter o país atrelado aos interesses rentistas do capital financeiro. É evidente que a inflação penaliza os setores mais pobres e vulneráveis da população, mas o combate à inflação não pode ser instrumento para transferência de renda dos mais pobres para os mais ricos. Desenvolvimento econômico e estímulo à geração de empregos formais também estão no rol das atribuições do BC”, lembra Costa.