Em 18 de março de 1848, a cidade de Berlim tornou-se o epicentro de uma revolta que marcou o início da Revolução Alemã. Naquele dia, uma multidão se reuniu para exigir do rei prussiano Frederico Guilherme IV apoio às reformas liberais e a convocação de uma assembleia nacional eleita. O confronto entre manifestantes e tropas reais escalou rapidamente, resultando em barricadas nas ruas e combates intensos. A pressão popular forçou o rei a retirar as forças militares da capital, deixando a ordem nas mãos de uma milícia civil, enquanto a bandeira tricolor preta, vermelha e dourada, símbolo de unidade alemã, passou a tremular nas cidades prussianas.

A Revolução Alemã integrou-se ao período revolucionário de 1848, conhecido como Primavera dos Povos, que abalou diversos países europeus. Naquele ano, a abdicação do rei Luís Filipe da França, em fevereiro, desencadeou levantes em cadeia, como a renúncia do chanceler austríaco Metternich em 13 de março. Nos estados alemães, parte da Confederação Germânica, as revoltas refletiam a crise da aristocracia feudal e os anseios da burguesia por um mercado unificado. Condições econômicas difíceis, como a fome causada por más colheitas entre 1846 e 1847 e o crescimento populacional, agravaram a situação, empurrando camponeses e trabalhadores urbanos para as cidades, onde os baixos salários e a miséria predominavam.

Os estados germânicos tinham uma longa trajetória desde o Sacro Império Romano-Germânico, fundado em 962 por Otão I. Esse império, uma federação de territórios sob influência germânica e latina, dissolveu-se em 1806 sob pressão de Napoleão. Após sua queda, em 1815, a Confederação Germânica foi criada no Congresso de Viena, reunindo 39 estados independentes, como Prússia e Áustria. Fragmentados, esses territórios herdaram uma estrutura feudal dominada por aristocratas latifundiários, resistentes à centralização que ameaçava seus privilégios econômicos baseados na posse de terras.

A revolução opôs duas forças principais: a aristocracia feudal, composta por grandes proprietários de terra, e a burguesia, que buscava unificar os estados alemães em uma nação com mercado único, governada por ela própria. Os aristocratas viam a unificação como uma ameaça ao poder econômico derivado de suas vastas propriedades, que travavam o desenvolvimento comercial desejado pelos burgueses.

Apoiados por pequeno-burgueses, camponeses e trabalhadores urbanos, os burgueses almejavam um estado-nação que substituísse a fragmentação feudal por uma economia integrada. Figuras como Johann Gottlieb Fichte, com suas palestras nacionalistas, e Ernst Moritz Arndt, com textos anti-franceses, influenciaram o sentimento de unidade, enquanto a União Aduaneira Prussiana (Zollverein), iniciada em 1834, já sinalizava os benefícios de um mercado comum.

Personalidades como Karl Marx e Friedrich Engels também emergiram nesse período. Marx, editor da “Nova Gazeta Renana” em 1848, e Engels, ativo nas barricadas, participaram dos movimentos na Renânia. Em Dresden, o compositor Richard Wagner e o anarquista Mikhail Bakunin contribuíram para levantes locais, embora sem sucesso duradouro. No Parlamento de Frankfurt, aberto em maio de 1848, representantes debateram a unificação, mas divergências entre monarquistas e republicanos enfraqueceram os esforços.

A revolução, embora derrotada em 1849 com a restauração do poder aristocrático e a dissolução da Assembleia de Frankfurt, plantou sementes para o futuro. Pouco mais de duas décadas depois, em 1871, a unificação alemã se concretizou sob a liderança prussiana de Otto von Bismarck, consolidando um dos últimos triunfos das revoluções burguesas na história europeia.

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Last Update: 18/03/2025