O programa TVGGN 20H desta segunda-feira (17) contou com a participação da jornalista catarinense Juliana Dal Piva, que lançou o livro “Crime sem castigo: Como os militares mataram Rubens Paiva” em fevereiro.
Ao longo da entrevista, Juliana contou que seu trabalho envolveu o entendimento do Centro de Informações do Exército, tendo em vista que cada uma das Forças Armadas tinha seu centro de informações.
“É um estudo de caso das investigações sobre o assassinato do Rubens Paiva, que aconteceu em 20 de janeiro de 1971, mas que passaram mais de 40 anos para a gente poder falar com concretude, saber quem são os responsáveis, embora até hoje a gente não saiba especificamente onde estão os restos mortais do Rubens”, afirmou a jornalista.
Ao longo do processo de investigação, Juliana constatou que as informações disponíveis sobre o regime militar são apenas as que estavam no Dops e no Serviço Nacional de Informações, uma vez que os arquivos desaparecidos dos governos militares são justamente os produzidos pelas agências de inteligência.
Ainda assim, são mais de 40 milhões de documentos sobre os militares atualmente disponíveis para pesquisa.
Julgamento
O resgate dos fatos ocorridos durante a ditadura é recente. Apenas em 2012 os arquivos daquele período passaram a ser disponibilizados para o público.
No entanto, muitos dos militares que cometeram atrocidades, que ainda estavam vivos 13 anos atrás, já morreram.
Assim, para a jornalista, “cada dia que passa é um relógio para o Supremo decidir o limite para a Lei de Anistia”.
Ela ressaltou ainda que não conseguiu identificar muitos dos militares envolvidos em crimes, tendo em vista que os relatórios apontavam apenas apelidos.
Personas non gratas
Juliana Dal Paiva comentou ainda a trajetória de diversos militares na contravenção, a partir do envolvimento com o jogo do bicho, escolas de samba e crime organizado, dos quais um dos maiores expoentes foi Paulo Magalhães
“Eles vão encontrando maneiras de sobreviver financeiramente, porque, de certa maneira, eles tinham meio que tudo, eram muito bem servidos e cuidados. E aí quando tem essa transição, acaba que quem fica próximo à presidência da República, eles começam a querer dar uma limpada na imagem das Forças Armadas e eles afastam essa turma que estava mais próxima [da ditadura] no período mais duro”.
Tal afastamento dos militares que exaltavam o regime autoritário fez com que eles se aproximassem de outra figura non grata pela cúpula das Forças Armadas: Jair Bolsonaro.
Ao longo das investigações, a jornalista contou que conheceu diversos militares próximos do ex-presidente da República, e só conseguiu ter acesso às fontes importantes para investigar o patrimônio de Bolsonaro devido ao processo de produção de Crime sem castigo.
“Eles vão virar turma do Bolsonaro porque o Bolsonaro começa, nos anos 1980, a atuar como sindicalista. Ele começa a reclamar das condições de trabalho, começa a reclamar do salários da tropa, faz aquele plano de bomba pra explodir varias unidades militares e aí ele próprio é convidado a sair”, emenda a entrevistada.
No entanto, Juliana afirma que não ficou claro o porquê da continuidade de Bolsonaro no Exército, mas que desde então, ele passou a atuar como um advogado informal dos militares da ditadura, em especial das tropas mais baixas, como soldados e cabos.
Confira a entrevista na íntegra:
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