Como muita gente sabe, estou hospitalizado desde de 18 de fevereiro. No momento (hoje, quando encerrei a digitação deste primeiro texto, é 15 de março), estou me sentindo ótimo – excelente, na verdade, principalmente levando em consideração como cheguei aqui –; ainda internado, mas fora da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) há uma semana, e apenas aguardando alguns exames, pra ver como as coisas irão seguir adiante.
O que me trouxe até aqui foi uma terrível crise resultante da combinação do que se conhece como Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC, também chamada de enfisema ou bronquite crônica) com um problema no baço, só posteriormente detectado, que, segundo uma hipótese, pode ter surgido em decorrência da obstrução nos pulmões, já que não levei nenhuma pancada na região recentemente.
O tempo de internação, o fato de ter sido colocado em coma induzido e intubado por uns três ou quatro dias e as duas semanas de UTI dão um pouco a dimensão do tamanho do baque. Foi grande. Enorme, pra ser exato, ao ponto de eu ter apelidado o “evento” como meu “big bang” pessoal, não só pela forma como ele, de imediato, fez estremecer minha noção de tempo e até mesmo de espaço (ironicamente sem sair da mesmíssima cama por mais de 15 dias…), mas principalmente por ter me “forçado” a pensar em umas tantas coisas em que passado, presente e futuro colidem, se embaralham e se projetam um sobre o outro.
E só quem não me conhece minimamente poderia imaginar que um turbilhão como esse poderia ficar “preso” em minha mente, sem ganhar a forma de escrita…
Viajando entre o “eu” e o mundo num leito de hospital
A ideia, inicialmente, era apenas agradecer publicamente àqueles que literalmente salvaram minha vida – trabalhadores e trabalhadoras do Sistema Único de Saúde (SUS), ao qual pertence o Hospital Municipal Dr. Ignácio Proença de Gouvêa, na Mooca, na Zona Leste de São Paulo, onde estou sendo tratado (como, aliás, já fiz num vídeo que lhes enviei, assim que saí da UTI) –, à minha fabulosa família, à companheirada do PSTU e dos movimentos onde atuei ou atuo, às amigas(os) e às alunas(os), que, como sempre digo, nunca são “ex”, que se manifestaram numa linda e comovente rede de apoio.
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Uma rede que vale destacar, até mesmo porque isso é parte da tradição marxista e, em especial, dos partidos que carregam os princípios de Lênin, Trotsky e dos bolcheviques, que foi fortemente alinhavada pela Direção Nacional do PSTU, na figura do Eduardo Almeida (que também é médico), e principalmente pelo “organismo” no qual milito cotidianamente, a Equipe Nacional de Comunicação, que faço questão de nomear: Diego Cruz, Jeferson Choma, Jorge Breogan, Júlio Anselmo, Luciana Cândido, Mariúcha Fontana e Roberto Aguiar.
Companheiros e companheiras que, como já disse por aí, são exemplos do tipo de humanidade pela qual nós tanto lutamos e, por isso mesmo, cercaram minha família de apoio e cuidados, acompanharam de perto o tratamento, estiveram presentes em todos os momentos cruciais e, ainda, assumiram a manutenção de meu apartamento e, mais importante para mim, os cuidados com minhas divas-meninas-felinas, Nina Simone e Edith Piaf.
Contudo, pelas razões que pretendo apresentar neste primeiro texto, que serve como introdução aos demais, o que era para ser um, viraram vários (isso mesmo, no plural…). Textos que, de conjunto, tenho certeza, são bastante diferentes daqueles que geralmente são encontrados em nosso site, mas que, mesmo assim, achei legal socializar com o partido e nossos leitores e leitoras.
De imediato, contudo, exatamente pelo caráter de algumas destas “crônicas” – incluindo relatos biográficos, alguns bastantes “íntimos” e “confessionais”, na falta de outros termos –, bem como algumas investidas em, a partir de um hospital, tentar discutir aspectos e questões que têm a ver com o mundo em que vivemos e, particularmente, temas em que milito cotidianamente, quero adiantar algumas coisas.
Primeiro, a única coisa que realmente não desejo é que quem quer que leia os textos considere que, de repente, estou embriagado pela perspectiva fragmentária, ultra individualista (e, portanto, neoliberal) e subjetiva da pós-modernidade, sintetizada na frase “todo pessoal é político”, no sentido que lhes é dada por seus defensores, sobrepondo o indivíduo à globalidade e à materialidade da realidade e do mundo, desconsiderando, assim, como nossa própria subjetividade e os eventos que ocorrem em nossa vida “privada” também são moldados por isto.
Para mim, pior do que isso só seria, mesmo, se alguém pensasse que decidi criar um “Manual de autoajuda para militantes moribundos”.
Seja eu bem sucedido ou não, aqui, a intenção e a perspectiva são outras. Parto do princípio de que pouquíssimos aspectos da minha vida são, de fato, “pessoais e/ou privados”. Quase nenhum, mesmo. E não que eu ache isso ruim. Pelo contrário.
As coisas são assim há décadas. Exatamente desde 1978, quando tinha 14 anos, assumi meu primeiro trabalho “com carteira assinada” (como office-boy, em São Paulo), era um estudante secundarista no período noturno de uma escola pública no ABC Paulista e comprei meu primeiro exemplar do “Convergência Socialista” (CS), jornal do grupo com mesmo nome, que passei a integrar em 1980, e que, no início dos anos 1990, esteve à frente da fundação do PSTU.
Foi aí que fiz uma convicta e consciente escolha de viver como um militante revolucionário marxista, o que faz com que eu tenha plena consciência de que praticamente tudo o que acontece comigo só pode ser entendido dentro de uma perspectiva coletiva e acaba reverberando da mesma forma, seja no interior do próprio partido, nos movimentos em que atuo ou, também em função da ação organizada e coletiva, na dinâmica da luta de classes, mesmo que apenas através da produção de artigos e material teórico e das atividades de Formação nos quais tenho centrado minha militância nos últimos anos.

Ato da Convergência Socialista em SP, em 1989
Enveredar pelo campo do “biográfico” e de questões que me afetam pessoalmente vai neste mesmo sentido. Em síntese, decidi refletir como tudo isto (do detonar da crise e manifestação da doença ao impacto do tratamento) se embaralhou um tanto com as marcas deixadas na vida de alguém como eu, um homem negro, de origem periférica, gay e que briga, há décadas, com problemas de Saúde Mental (ou “neurodivergência”).
Algo cuja complexidade é enorme e, por isso mesmo, vai permear umas tantas partes dos textos (particularmente os dois últimos), partindo de alguns questionamentos que sempre martelaram minha mente, mas, agora, fazem muito mais sentido e, acredito, precisam ser socializados.
Coisas, por ora, sintetizadas em questões como as seguintes: Até que ponto lugares-comuns como “corpo são em mente sã” podem ser aplicados a quem é neurodivergente e tende a “mascarar” suas dores, assumir atitudes compulsivas, se ver naufragado em malditas crises de procrastinação, ansiedade, euforia etc.? Quais são as especificidades e cuidados no desenvolvimento e tratamento de enfermidades em pessoas que têm marcadores fundamentais de seus corpos (da cor da pele à sexualidade e à identidade de gênero) cotidiana e sistematicamente flagelados pelo sistema e pelas opressões?
Questões que, obviamente, não partem do equivocadíssimo pressuposto de que somos “insanos” ou “doentes” (como pregam, cada vez com mais fúria, os fundamentalistas e a extrema direita) e, consequentemente, nossos corpos nunca poderiam ser “sadios”; mas, sim, porque estou convicto de que, sem considerar as especificidades de nossas neurodivergências, bem como as marcas, “gatilhos” e traumas deixados pela opressão cotidiana, não há como lidar adequadamente com os sintomas ou até mesmo aplicar os tratamentos e procedimentos médicos adequados.
Já naquilo que se refere aos comentários sobre como o principais traços e contradições do ultracomplexo mundo em que vivemos se manifestam no microcosmo de um hospital público, foi impossível, por exemplo, não parar para pensar tanto na gigantesca conquista que é o SUS quanto nas profundas marcas já deixadas no sistema pelas políticas neoliberais, como cortes de verbas, distintos formatos de privatização, terceirizações e precarização do trabalho.
Da mesma forma que também ficou por demais visível como machismo, racismo, LGBTIfobia e xenofobia se enredam na hierarquia e composição das categorias trabalhando no hospital ou como a precarização da mão de obra, que não por acaso também atinge os setores historicamente marginalizados, leva trabalhadores e trabalhadoras à exaustão, comprometendo todo o resto.
Ou, ainda, não foi nada difícil perceber que a enorme polarização político ideológica que atravessa o mundo também se faz presente aqui, até mesmo porque é estimulada por vias institucionais. Uma polarização que, particularmente num ambiente hospitalar, evidencia de forma bastante forte um embate que subjaz em tudo que diz respeito ao mundo atual: a luta pela própria humanidade, no sentido mais estrito do termo, contra uma crescente tendência de “separar” (ou, como discutirei, “alienar”) parcelas inteiras de tudo o que nos faz realmente “humanos”.
Algo que se manifestou em pelo menos uma conversa em que alguém defendia o bisonho conceito de “cliente alien”, uma expressão usada para se referir a pacientes (“mercantilizados”, como clientes) cuja reincidência nos leitos hospitalares (em função de seu “modo de vida”, vícios, “escolha” pela marginalidade etc.) seria um sintoma do quanto estão distanciados do que seria básico para um “ser humano”, estando, consequentemente, também “fora” dos padrões e critérios que obrigariam um hospital a “gastar” com ele ou ela, ao invés de outra pessoa.
Algo lamentavelmente nada surpreendente, em um momento em que gentalha como Trump, Musk, Bolsonaro, fundamentalistas religiosos e a ultradireita mundo afora defende, descarada e convictamente, que há aqueles e aquelas que são “naturalmente” menos humanos – quando não simplesmente “não humanos” ou “aberrações contra a natureza” – e, por isso mesmo, não merecem quaisquer tipos de direitos ou oportunidades.
Mas, também, é preciso que se diga, um indício de barbárie que se contradiz com enorme senso de humanidade (com todas contradições que possam imaginar) que senti no tratamento dado pela gigantesca maioria das pessoas que atenderam a mim e a todos e todas que vi neste quase um mês, independentemente de qualquer coisa. Algo que precisa ser ressaltado, particularmente em um hospital público, destino inevitável dos mais explorados e marginalizados.
Neste sentido, também cabe um alerta: por favor, não espero que ninguém considere os comentários que irei fazer como “tratados” sobre coisa alguma. Tenho pleno senso das proporções das coisas e sei que um leito de um hospital e praticamente duas semanas na UTI, depois de um processo um tanto traumático, não compõem cenário ideal para análises socioeconômicas e políticas.
De qualquer forma, também antecipo que, não apenas em função da tentativa de dar uma certa “lógica” para tudo isso e alinhavar os textos, mas também por acreditar que o conceito se adequa ao conjunto de temas que pretendo abordar, verão que eu retornarei várias vezes ao tema da “alienação”, particularmente a partir de uma formulação presente no “Dicionário do pensamento marxista” (Tom Bottomore, 1988):
“No sentido que lhe é dado por Marx, ação pela qual (ou estado no qual) um indivíduo, um grupo, uma instituição ou uma sociedade se tornam (ou permanecem) alheios, estranhos, enfim, alienados [1] aos resultados ou produtos de sua própria atividade (e à atividade ela mesma), e/ou [2] à natureza na qual vivem, e/ou [3] a outros seres humanos, e – além de, e através de, [1], [2] e [3] – também [4] a si mesmos (às suas possibilidades humanas constituídas historicamente)”. (p. 18).
Textos que forçaram a passagem para o “papel”

Foto Jorge Bregoan
Com todos estes “poréns” e “entretantos”, então, por que escrever e publicar? Muito sinceramente, acho que só há resposta honesta para esta questão: estes são daqueles textos que costumo dizer que “ganham vida própria” ou “forçam a passagem do cérebro para o papel”. Talvez, inclusive, em função de seu ponto de partida, de forma um tanto mais intensa do que vários outros que eu já tenha escrito.
E, por isso, também, cabe contextualizar como eles foram gestados e algumas de suas linhas gerais, apesar de que, no final, irei apresentar um resumo de cada um deles. A escrita começou, ainda muito lentamente e apenas através de “notas”, no dia 2 ou 3 de março, depois de que eu, literalmente, convenci a equipe médica que estava avaliando meu caso a permitir que eu tivesse acesso, ainda na UTI, a um caderno e caneta (pedido inédito, segundo eles).
O argumento central (e verdadeiro…) era que eu precisava me ocupar com alguma coisa, até mesmo pra poder relaxar, em função das fortes crises de insônia que eu estava tendo, ampliadas pelo desconforto de estar permanentemente ligado a fios de eletrodos, cateter e/ou máscaras de oxigênio e acessos para injeções. Tudo isto acompanhado, para o meu desespero, das crescentes e cada vez mais apavorantes ondas de delírios e alucinações que começaram a povoar minha mente, dia e noite.
E valeu uma “nota”: Tudo isto foi assustadoramente “real” e, segundo consta, é comprovadamente recorrente em pacientes internados, particularmente com a minha idade (sendo conhecido, em termos médicos, como “delirium hiperativo”). No início, a coisa toda foi até uma viagem legal, cheia de referências cinematográficas, que, acredito, foram criadas pelo meu cérebro como “válvulas de escape” para a dor etc. Contudo, loguinho, embarquei numa terrível “bad trip” que, como abordarei particularmente no último texto, acredito ter ganho dimensões, intensidade e formas muito específicas ao se manifestarem em mim, em função de meus embates com o racismo, a LGBTIfobia e a neurodivergência.
Contudo, a necessidade de escrever também veio de outras direções. Primeiro, para tentar racionalizar a coisa toda, me perguntar “e se…” e começar a pensar no que vem daqui por diante. Além disso, pra mim, colocar as coisas “no papel” sempre tem um efeito catártico e, definitivamente, sentia a necessidade de “expurgar” umas tantas sensações e experiências vividas nas últimas semanas.
E, vamos combinar, não foram poucas: a crise em si e o quanto de risco letal eu enfrentei; ter sido colocado em coma e intubado e, depois, me ver preso em amarras de contenção (procedimento recomendado para minha segurança e dos profissionais de Saúde, mas que teve um gigantesco, pra dizer o mínimo, impacto sobre mim, literalmente moldando meus delírios); não conseguir falar por dias; respirar com muita dificuldade e permanentemente com ajuda de cateter ou máscaras de oxigênio; ter que ser alimentado por sondas, e também dependendo de outra para urinar; ficar completamente dependente dos cuidados dos profissionais de saúde etc. etc.
Enfim, como resultado, e também refletindo minha tendência a extrapolar limites, nos textos, há um pouco de tudo isto e apenas decidi chamá-los de “crônicas” pelo conteúdo baseado em relatos, pelo registro das coisas do cotidiano e, também, pelo quanto de “pessoal” que há neles.
Mas, o motivador definitivo e “eixo orientador” de todos eles são, de fato, a percepção (ou, pelo menos, a intenção…) de que eles possam, de alguma forma, servir para a reflexão coletiva, para futuras elaborações em torno dos temas ou, no mínimo, debate entre os militantes, particularmente os mais jovens e aqueles e aquelas que compartilham as mesmas coisas que me afligem (e, por favor, sem precisar passar por perrengue ou não para pensar no assunto!!!).
Antes de continuar, no entanto, cabe um parêntese. Evidentemente, passado o perrengue, a primeira coisa que começou a se passar pela minha mente foi tentar entender o que me fez chegar até aqui. E gostaria de adiantar que, apesar de não ser negacionista nem idiota, não localizo a manifestação da doença apenas em sua causa mais evidente e concreta: a espessa crosta de nicotina acumulada em meus pulmões nos últimos 47 anos.
E não digo isto para irritar ou preocupar todos e todas que temem que eu acenda um cigarro assim que eu saia daqui. Pelo contrário, aqui, também quero assumir publicamente meu adeus definitivo à nicotina. Cigarros fizeram parte da minha vida desde os 13 anos de idade. Agora, não. Ponto. E, inclusive, já estou fuçando tratamentos e o que for necessário para garantir que seja assim.
Não isolar a manifestação da doença e da crise no hábito de fumar tem a ver com temas que vão surgir no decorrer dos textos, envolvendo questões que contribuíram tanto para o aumento exponencial do consumo de cigarros nos últimos anos quanto na forma como (logo eu, um materialista, atento à realidade e suas evidências concretas…) lidei com a crescente sensação de mal estar, falta de fôlego e todos demais sintomas.
Coisas que vão desde situações diretamente relativas à pandemia (ensino remoto, total isolamento etc.) à forma como o aquecimento global e os climas extremos têm agravado a manifestação de doenças respiratórias, passando, como mencionei acima, pelas formas como questões de saúde mental impactaram todo o processo.
Mas, de imediato, não esperem, de forma alguma, que isto aqui se transforme num manifesto antitabagista. E mesmo sabendo que posso irritar algumas sensibilidades, tenho que dizer que escrevo isso tendo Edith Piaf como trilha em minha mente, num improvável dueto com Cássia Eller, arrasando em uma interpretação de “Non, je ne regrette rien” (“Não, não me arrependo de nada”).
Sou antiproibicionista por princípio e não é agora que vou ficar discutindo ou questionando o direito de que as pessoas satisfaçam seus prazeres da forma que escolherem – com a evidente e veemente exceção daqueles que lesem alguém ou a si próprios, o que, no caso, o cigarro se tornou pra mim. O que me leva à outra diva com quem convivo diariamente, Nina Simone, que sempre me lembra que “I got life” (“Eu tenho uma vida”) e minha decisão está pautada no fato de que estou bastante disposto em vivê-la até o limite, sem correr riscos desnecessários.
E, também, ou mesmo acima de tudo, não tenho a menor intenção de colocar ninguém, a começar por Dona Ligia, minha mãe (e, por extensão todos meus familiares mais próximos), mas também a companheirada e amigas(os), novamente numa situação de estresse e preocupação semelhante a que, eu sei, muitos viveram.
Dito isto, uma última coisa sobre o tema. Da mesma forma que, desde de uns 20 anos atrás, quando parei com as bebidas alcoólicas, nunca deixei de adorar e frequentar botecos ou permitir que pessoas bebam em casa, também não esperem que eu me torne uma daquelas figuras chatérrimas e deselegantes que ficam abanando o nariz diante dos fumantes ou coisa semelhante. E muito menos que eu transforme meu apartamento em área hostil para fumantes. De jeito nenhum.
Mas, agora, voltemos ao início da história toda. Ao tal “big bang”.
Quando quase se vê a cara da morte…
Desde que decidi escrever estes textos, me perguntei uma infinidade de vezes sobre o porquê desta necessidade e, também, por que haveria qualquer relevância em publicá-los. E, acreditem, já encontrei centenas de formas e parágrafos para compor uma resposta e umas inúmeras outras razões para simplesmente deixar a ideia de lado.
Mas, no fim das contas, só há uma forma sincera e objetiva de descrever o impacto que a coisa toda teve sobre mim e, daí, a necessidade de me expressar de alguma forma: a sensação nada metafórica ou abstrata de que eu quase morri.
Tão simples assim, tão complicado o quanto soa. Uma constatação que, sinceramente, não tem nada a ver com minha reconhecida tendência aos “exageros cazuzianos”; mas, sim, se baseia em minha tendência, ainda maior, em analisar a realidade e tratá-la da forma mais objetiva possível. Então, seguem alguns fatos.
Que o perrengue foi grande, não tenho dúvidas. Senti em todas as partes do corpo. Mas, só me dei conta da possibilidade de que a coisa toda desandasse de vez e da real periculosidade do que passei (em dois momentos distintos, mas combinados) quando já estava há uns 10 dias na UTI e, de forma ainda mais concreta, agora, quando comecei a fazer umas pesquisas.
O fato é que confesso que a primeira vez que pensei, literalmente, que eu estava morrendo foi na manhã do dia 18, quando entrei em contato, pelo WhatsApp, com a Equipe Nacional de Comunicação, pedindo ajuda, um tanto aterrorizado, em função de uma fortíssima e totalmente sufocante crise respiratória que praticamente me impedia de respirar, criando a sensação de que o coração iria sair pela boca. Isso, ainda, acompanhado por uma forte dor no estômago (descobri, depois, que era o tal problema no baço), que detonou uma incontrolável diarreia.
Depois de internado e já na UTI, em várias conversas com o médicas(os) e o povo da enfermagem veio à tona a hipótese de que a rapidez e intensidade da crise acabaram também tendo a ver com o clima extremo (a semana estava registrando algumas das temperaturas mais altas, aqui em Sampa), a bronquite que tive ainda na infância e uma situação inusitada, provocada pela reforma da fachada do prédio onde moro: a retirada das telas de proteção das janelas, que tem me obrigado a permanecer numa espécie de estufa desde novembro, sempre às voltas com pó e com os lindos, mas sempre excessivos, pelos de Nina e Piaf, minhas gatas.
Seja como for, no dia 18, fui resgatado pelo querido Jorge Breogan, em menos de 10 minutos, e ao chegar à uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Vergueiro, parte do Sistema Único de Saúde (SUS), rapidamente diagnosticaram a manifestação de uma doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), que descobri, há pouco, ser a terceira causa de mortes no mundo, principalmente em gente com minha idade.
Depois de alguns dias, a “derradeira” (termo que explicarei logo abaixo) pairou sobre mim novamente em função de ser colocado em coma induzido e intubado (durante uns três ou quatro dias, entre os dias 24 e 27), um procedimento que, para meu total espanto, e a depender de uma série de fatores (de região de origem à raça, passando por condições socioeconômicas e idade), segundo todas as pesquisas que consultei, devido ao seu caráter extremamente invasivo da chamada intubação orotraqueal (OIT), tem altíssimas taxas de mortalidade.
Durante a Covid-19, os números foram para a estratosfera, resultando na morte de cerca 80% a 88% dos pacientes (com índices gerais sempre muito acima dos 70%). E mesmo nos casos de DPOC, como o meu, apesar de uma série de variações, encontrei dados, em trabalhos acadêmicos e similares, que apontam percentuais de mortalidade em torno de 30% (dentre os mais jovens) até 73% (nos mais velhos), com muitos deles trabalhando exatamente com a média; ou seja, 50%.
Dizer que, até às vésperas da crise e mesmo nos primeiros dias da internação, eu tinha consciência dos riscos que enfrentei seria uma completa mentira. A ficha só começou a cair (e sempre que digo isso penso: e se virem os mais jovens para entenderem a referência…) quando, no dia 22, fui transferido para a UTI e passaram a utilizar uma máscara de ventilação não invasiva (VNI) que, eu sabia, da época da pandemia, é literalmente o último recurso antes da intubação.
E, pra ser ainda mais honesto, só realmente me dei conta da gravidade da situação e do terror, susto e preocupação que causei nos que são próximos de mim (algo que, muito sinceramente, sempre vou lamentar), uns dois dias depois de ser extubado, quando comecei a realmente recuperar a consciência, me dei conta do estado em que meu corpo estava e soube o que havia ocorrido (pois sequer lembrava de ir para a intubação).
Foi somente aí que pude “ver” o perigo pelo qual passei refletido na enorme (gigantesca, na verdade) sensação de alívio que brilhava nos rostos do Eduardo Almeida (que desde o início assumiu o papel de médico da minha família, para poder acompanhar tudo que estava rolando) e dos meus irmãos, Flávio e Luciene. Isso pra não falar nas declarações de “grata surpresa” que transpareciam nas falas dos enfermeiros e enfermeiras que se revezavam com meus cuidados e comentavam sobre minha recuperação.
O fato é que, apesar de felizmente ter ficado no “quase”, estive muitíssimo próximo da “derradeira”, que é como costumo apelidar a morte, simplesmente para me distanciar da crença no pós-vida, seja em qual for de suas formulações ou versões, estando há muito convicto de que ela é o “fim”. E ponto.
Em suma, para mim, depois de, fisicamente, nos reintegrarmos às matérias do universo, como cinzas ou material orgânico, a única coisa que pode nos “manter vivos” ou, para os mais pretensiosos, “eternizar nossa existência”, são nossos legados para o futuro. Sejam as memórias carregadas pelos que nos cercam, os efeitos das formas como atuamos sobre a realidade ou, eventualmente, os frutos do nosso trabalho (inclusive cultural, artístico, criativo etc.). Uma concepção que, aliás, nem é original nem nova e está na base de tratarmos nossas referências artísticas, sociais, políticas e culturais como “imortais”.
Seja como for, independentemente de como se encare a morte e para além da obviedade de que nenhum de nós, de verdade, está “preparado” para isto ou sabe como e quando o momento irá chegar, o fato é que seria muita hipocrisia (ou expressão de uma insensibilidade patológica) afirmar que ter a sensação de “ter visto a cara morte” não tem um forte impacto sobre quem passa pela experiência e, obviamente, sobrevive para contar a história. E comigo não foi diferente.
Assim, a resposta para a necessidade de escrever estes textos também tem muitíssimo a ver com isto. Não menosprezo, pra nada, o fato de, felizmente, ter ficado no “quase”. Mas, sinceramente, acredito que cheguei perto o suficiente para “fazer um balanço”, como é típico entre nós, marxistas. Algo que, como não poderia deixar de ser, precisa ser obrigatoriamente inserindo o meu “eu” no coletivo, mas também pautado nas minhas formas ser, pensar, agir e viver.
A proximidade com a “derradeira” e os “sentidos da vida”
De imediato, temendo que o intertítulo induza a um erro, espero que, a esta altura, por tudo que já foi escrito acima, ninguém pense que o perrengue todo teve impacto tal que eu esteja procurando “novos sentidos” para minha vida ou reavaliando qualquer coisa. A coisa do “sentido da vida” tem a ver com um comentário que farei mais adiante.
Apesar de não crer que alguém pense nisto, faço questão de enfatizar isto tendo em mente, por exemplo, o lamentável e recente caso de um diretor teatral, aqui de Sampa (cujo trabalho, inclusive, eu apreciava muitíssimo), que, depois de encarar uma grave doença, descambou completamente, virou místico e acabou nos braços do bolsonarismo.
Uma hipótese, no meu caso, tão esdrúxula quanto não demonstrar sensibilidade e bom senso suficientes e sair deste hospital exatamente como eu entrei ou sem carregar um tanto de coisas em mente, a começar pela necessidade de mudar de hábitos e me cuidar melhor, diga-se de passagem.
O intertítulo, na verdade, tem a ver quase que exclusivamente com uma de minhas referências culturais e artísticas que está latejando em minha mente desde que esta história começou: o escritor e cineasta Pier Paolo Pasolini (1922-1975), figura genial e pra lá de “complexa” (basta dizer que era, simultaneamente, cristão, comunista e gay), que teve toda sua vida e obra marcadas (ao ponto de uma obsessão meio mórbida) pelo tema da morte.
Os exemplos são vários, a começar pelos filmes agrupados num (contraditoriamente) chamado “Ciclo da Vida” – “Decameron” (1971), “Os contos de Canterbury” (1972) e “As mil e uma noite” (1974) –, passando pela releitura de clássicos, como “Édipo Rei” (1967) e “Medeia” (1969), um dos meus favoritos, “Teorema” (1968), e chegando ao derradeiro “Saló, ou os 120 dias de Sodoma” (1975), uma das mais veementes denúncias sobre o fascismo, praticado numa terrivelmente cruel e sanguinária aliança entre igreja, exército e burguesia, e cujo impacto, muitos acreditam, levou à encomenda do assassinato de Pasolini, naquele mesmo ano.
Para além de sua obra criativa, a ideia que tem martelado minha mente tem a ver com sua também vasta produção teórica, particularmente em um artigo intitulado “Observações sobre o plano-sequência”, publicado em 1963, a partir do famoso trecho de filme que registrou o assassinato de John Kennedy, cuja síntese de um dos principais temas – a montagem final do filme como metáfora da morte – foi feita por Ismail Xavier, professor com quem estudei na pós-graduação, na Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP):
“O homem se exprime pela ação e esta não ganha significado enquanto não se completa. Morrer é necessário para que adquiramos sentido (entremos no espaço da cultura e da história). A morte opera uma síntese rápida da vida e lhe envia uma luz retroativa, uma seleção de pontos, constrói atos míticos e morais fora do tempo. Opera, enfim, como a montagem no cinema (…). Na tela, a vida se reproduz num virtual plano-sequência [um estilo de movimento de câmera sem cortes ou edição] infinito. Demarcação inexorável, a montagem corta o fluxo contínuo da imagem em movimento (…) e transforma a combinação de fragmentos em discurso” (Revista de Italianística, nº 01, 1993, págs. 101-109).
Sinceramente, não só adoro a metáfora como também concordo integralmente com Pasolini. E, por isso mesmo, é bastante neste sentido que sempre achei relevante (apesar de um tanto “impossível”, a não ser nas próprias produções cinematográficas e televisivas) que, diante da perspectiva concreta da morte, muita gente diga que “vê a própria vida passar diante dos olhos como um filme”.
Garanto-lhes que não tive tempo para tanto ou as imagens também se perderam no vazio; mas, já que a “montagem final” não foi concluída, poderia dizer que estas crônicas são, para mim, como um prólogo, uma primeira edição, até que o corte final de fato aconteça.
E aliás, aproveitando, deixo registrado aqui que, quando este momento chegar, que, por favor, me transformem em cinzas e as espalhem, preferencialmente, no entorno do Núcleo de Consciência Negra (NCN), na USP, ao redor do Museu Afro Brasil, no Ibirapuera, ou, ainda, misturem tudo com muita purpurina e glitter e as lancem nas ruas na Primeira Parada do Orgulho LGBTI+, em São Paulo, que acontecer depois. E acho que não preciso explicar as escolhas.
Mas, voltando aos textos, eles são uma tentativa de transformar minha experiência em “discurso”, no seu sentido mais profundo (dentro das concepções sobre o tema nas quais me referencio): um texto/fala que dialogue com os possíveis leitores e leitoras e lhes “diga” algo que vá para além da minha voz e das minhas experiências “pessoais”, sendo o mais profundamente possível determinado tanto pelas condições históricas e socioeconômicas imediatas, nas quais estou escrevendo, quanto por aquelas que as antecederam e ajudaram a moldá-las.
Uma tentativa que, alimentada pela minha reconhecida incapacidade de poder de síntese, acabou se desdobrando da seguinte forma, nestas “Crônicas ainda a plenos pulmões, mesmo que um tanto emparedados…” (assumindo, inclusive, que, na medida em que eu vá digitando o que está num caderno praticamente preenchido, ainda possa pintar mais alguma coisa).
(02): A “Liga da Saúde” na luta em defesa de “gente humana”: Por uma questão de “método” (ir do mais “global” para o “particular”), e resgatando o que foi dito acima sobre o tema da “alienação”, o próximo artigo será focado em tudo o que tem a ver com o hospital como “microcosmo” do mundo atual, discutindo temas que incluem o processo de mercantilização e desumanização do sistema de Saúde; a alienação da maioria da humanidade dos meios necessários para a produção de tecnologia, saber e recursos médicos, como também do acesso à Medicina; a defesa do SUS e seus trabalhadores e trabalhadoras diante dos ataques neoliberais, da precarização etc.
O título obviamente se remete ao universo dos heróis e heroínas e sei muito bem que muitos dos/as profissionais do setor têm problemas com isto desde que foram chamados desta forma durante a pandemia e, depois, massacrados pelos cortes de verbas e todas demais mazelas. Contudo, aqui, também vou querer destacar algo que ficou muito gravado em minha a mente: o fato de que são os setores “médios”, particularmente todas as categorias e áreas da Enfermagem, que realmente dão “liga” dentro de um hospital, com níveis de dedicação e responsabilidade realmente impressionantes, principalmente para alguém, como eu, que nunca havia sido hospitalizado.
(03): Opressões: feridas abertas e infeccionadas no ambiente hospitalar: Como fica evidente, a ideia é traçar alguns comentários em como percebi manifestações do racismo, do machismo, da xenofobia, da LGBTIfobia no hospital, principalmente no que se refere à localização dos (as) profissionais da Saúde, que pude observar e com os quais tive umas tantas conversas. Aqui, então, o tema a “alienação do(a) outra(o) e, muitas vezes, de “si próprio”, diante das dificuldades em se ver ou se localizar como mulher, negro(a), LGBTI etc.
(04): Do “upa neguinho na estrada” ao homem sem fôlego: A ideia, aqui, é viajar um pouco pela minha própria história para desenvolver o que já mencionei em relação a como, para além de uma doença crônica, evidentemente associada ao consumo de nicotina, questões relacionadas a como enfrentei e aprendi a lidar com o racismo e a LGBTI ou tenho lidado com a saúde mental acabaram tendo uma influência na forma como a doença se manifestou e, de maneira muitíssimo especial, no jeito em que lidei com o acelerar dos sintomas e a busca de ajuda.
Para antecipar, alguns dos “eixos” do que pretendo debater são bastante conhecidos por quem é oprimido ou neurodivergente: nossa “necessidade” de construir uma “casca grossa”; nossa tendência, adquirida meio que na marra, à autossuficiência e ao isolamento (mesmo quando cercados de gente querida e parte de construções coletivas); ou, ainda, a forma como sintomas da neurodivergência se embaralham com todo o resto de nossos corpos.
(05): A insanidade daquilo que é “regular” e “normal”: Por fim, e devido à profunda forma que a experiência me afetou, irei tentar elaborar algumas coisas em torno de como o tal Delirium Hiperativo (DH), em mim, ganhou contornos particularmente terríveis ao estarem, em vários momentos, associados às amarras de contenção utilizadas na intubação e, até onde lembro, durante todo um dia depois da sedação já ter passado.
Não questiono, de forma alguma, que o procedimento seja considerado “regular” e “normal” (e até mesmo recomendado) como uma tentativa de proteger ao próprio paciente e os/as profissionais da Saúde. Algo, contudo, que não me desobriga de discutir o tema, principalmente sob alguns pontos de vista.
De imediato, o fato de que, lamentavelmente, a relação da Medicina com negros, mulheres, LGBTI+, povos indígenas etc. tem sido marcada, desde sempre, mas com particular ênfase a partir do final do século 19, por práticas que “normatizaram” e “regulamentaram” o sofrimento e a crueldade. Além disso, é preciso se questionar, por exemplo, por que, em pleno século 21, com gente com grana para fazer viagens para Marte, o material utilizado para as amarras é o produto fundamental da Primeira Revolução Industrial, o tecido (no caso, algo que mais se parecia com uma faixa de judô)?
Como também, há de se questionar por que, antes de procedimentos que eventualmente necessitem de contenção, não há uma orientação para que se discuta com o paciente seus possíveis “gatilhos” e traumas? E, aqui, acredito que não é preciso enfatizar os significados completamente aterradores que “amarras”, ser preso a uma cama ou quaisquer coisas semelhantes têm na mente de alguém que, além de ter todo sua mente mergulhada em história da escravidão, da violência do racismo e de práticas perversas e cruéis por parte das instituições psiquiátricas, também acumula as imagens das LGBTI+ torturadas e mortas em condições semelhantes.
Se hoje respiro é porque, há uns 50 anos, fui inspirado pela Revolução
Pra acabar esta já longuíssima introdução, e voltando um pouco a Pasolini, vou me permitir, aqui, sim, a viajar livremente pela minha subjetividade e meus modos de ser pra explicar este subtítulo acima. Acredito que esteja mais do que evidente que estou convicto de que estou aqui, respirando, graças à Ciência e aqueles e aquelas que dedicam seu trabalho à Medicina e à Enfermagem.
Isto, por um lado, não significa menosprezar, de forma alguma, o “gás” e “fôlego” que toda a torcida e carinho que me cercaram me deram (como irei reafirmar também no próximo artigo). Da mesma forma que a afirmação acima não se restringe ao fato de ter sido resgatado pela companheirada, algo que foi fundamental, mas, como disse, é simplesmente parte das tradições do PSTU.
Quando afirmo (e estou convicto disto) que o fato de ter dedicado praticamente toda minha vida à luta revolucionária é o que dá “sentido” para minha existência, isto também implica em ter a certeza de que é o que sempre me motiva a seguir adiante, para tudo e qualquer coisa, independentemente do que seja preciso enfrentar.
Afinal, foi lá atrás, que aprendi a contradizer tudo o que, a princípio, poderia estar no “destino” de um jovem negro, periférico, gay e todo “esquisito”. E nisto não há nada de “místico”. É simplesmente dizer que sempre foi isto que me fortaleceu, que fez com que eu “me localizasse” diante de mim mesmo, da realidade e do resto da humanidade. Enfim, foi ter colocado a revolução no horizonte de minha vida que deu significado para tudo que sou, penso, faço e desejo.
Foi me fazendo militante que aprendi que “ousar” sempre é preciso. Foi lutando que, como diria Rosa Luxemburgo, senti o peso das correntes e das amarras e, consequentemente, fui embriagado pelo desejo de liberdade. Foi dentro de e com um partido e da Liga Internacional dos Trabalhadores (LIT-QI) – organismos sempre em construção, que, por isso, também, carregam suas contradições – que vislumbrei e continuo a enxergar o tipo de sociedade que a humanidade merece e precisa construir.
E, por isso mesmo, não vejo porque não admitir que tenho certeza que tudo isto vibra em cada célula de meu corpo, pulsa forte em meu coração, alimenta e flui em minha mente. E também me dá fôlego. E acho que meu corpo e particularmente meu cérebro e meus emparedados pulmões também travaram a luta necessária para que eu recuperasse a respiração. E é por isso que digo que, se respiro hoje é também porque sei que ainda tenho muito pra contribuir pra que a revolução inspire muita gente por aí.