RJ: políticos bolsonaristas travestiram “resort do tráfico” de “projeto social” para impedir demolição

Escudo: imagem obtida pela polícia mostra placa de projeto social no ‘resort’ de Peixão, com os nomes dos parlamentares Val Ceasa, Ulisses Marins e Dani Cunha. Foto: reprodução

Um resort de luxo, localizado no Complexo de Israel, na Zona Norte do Rio de Janeiro, foi finalmente demolido nesta semana após uma série de adiamentos e interferências políticas. O imóvel, que pertencia a Álvaro Malaquias Santa Rosa, conhecido como Peixão, um dos criminosos mais procurados do estado, era um símbolo de ostentação do crime.

A demolição, no entanto, poderia ter ocorrido 15 meses antes, não fossem os supostos vazamentos de informações sigilosas e as pressões de políticos, segundo fontes dos órgãos envolvidos na operação, ouvidas pelo jornal O Globo.

O resort, vizinho de casas simples em Parada de Lucas, acumulava 79 anotações criminais e era um ponto de referência para a atuação de Peixão, acusado de implementar uma política de terror na região. A operação para derrubar o imóvel foi cancelada ao menos duas vezes, em dezembro de 2023 e outubro de 2024, devido a interferências políticas e alegações de que o local abrigava um suposto projeto social.

De acordo com fontes de diferentes órgãos envolvidos no planejamento da demolição, os deputados Roosevelt Barreto Barcelos, conhecido como Val Ceasa (PRD), e o ex-vereador Ulisses Marins (União) teriam pressionado para que a operação fosse cancelada.

Ambos teriam visitado o 16º Batalhão da Polícia Militar (Olaria) para pedir que o imóvel não fosse derrubado, alegando que no local funcionava um projeto social. Procurado, Marins não quis se pronunciar. Já Val Ceasa negou ter feito o pedido, mas em nota afirmou ser contra a demolição: “Quando o vagabundo coloca armamento ou droga dentro da escola, não pode ir lá e derrubar a escola”, escreveu.

Durante as investigações, foi colocada uma placa na fachada do local indicando que ali supostamente funcionava um “projeto social”. Além dos nomes dos vereadores, também aparecia a marca da deputada federal Dani Cunha (União Brasil-RJ), filha do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (União Brasil).

O resort foi demolido na última terça-feira (11). Foto: reprodução

As negociações para a demolição ocorriam desde novembro de 2023, em reuniões entre a Polícia Militar, a prefeitura do Rio e o Ministério Público do Rio (MPRJ). A operação foi inicialmente marcada para 14 de dezembro daquele ano, mas foi cancelada após o vazamento dos planos e a alegação de que o local abrigava atividades de assistência a idosos e crianças.

O MPRJ afirmou que a informação sobre o suposto projeto social foi recebida sem que houvesse apuração prévia e determinou o envio do caso à Procuradoria-Geral da Justiça (PGJ) para investigação.

Durante diligências realizadas em dezembro de 2023, a PM encontrou uma faixa no local indicando o funcionamento de um projeto social que exibia os nomes de Val Ceasa, Ulisses Marins e da deputada federal Dani Cunha (União).

A Secretaria municipal de Assistência Social, no entanto, confirmou que nenhum dos projetos tinha cadastro oficial. Dani Cunha afirmou ao Globo que não tem qualquer parceria política com os outros parlamentares.

A influência de Val Ceasa e Ulisses Marins na região dominada por Peixão é confirmada nas urnas. Levantamento feito pelo Globo mostra que ambos são campeões de votação em áreas como Vigário Geral, Cordovil, Parada de Lucas e Brás de Pina.

Em 2024, Marins foi o mais votado em 22 dos 32 pontos consultados, enquanto Val Ceasa liderou em 30 dos 33 locais analisados nas eleições de 2022. Em setembro de 2024, o nome de Val Ceasa apareceu ao lado do de Peixão em pichações em muros do 16º BPM e de um supermercado na Penha, o que o parlamentar atribuiu a opositores.

Após os dois cancelamentos, a demolição do resort foi remarcada para março deste ano. A operação, inicialmente planejada para o dia 11, foi realizada sem a participação de órgãos da prefeitura, conforme solicitado por um delegado da Polícia Civil. A Secretaria municipal de Ordem Pública (Seop) afirmou que estava preparada para a ação, mas foi informada na véspera que não participaria. A Polícia Civil justificou a decisão como uma medida para evitar expor a equipe da prefeitura a riscos.

O MPRJ não confirmou se há uma investigação em andamento sobre o suposto envolvimento dos parlamentares no caso, mas informou que encaminhou as informações do vazamento ao procurador-geral de Justiça.

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