O caos tomou conta da Argentina nos últimos dias, quando organizações de trabalhadores e torcidas organizadas de diversos times do país decidiram ir às ruas clamar pelos direitos dos aposentados. A marcha, na última quarta-feira (12), nas imediações do Congresso argentino, em Buenos Aires, foi marcada pela repressão brutal do governo autoritário de Javier Milei.
Nas redes sociais, circulam as imagens chocantes da ação policial contra os manifestantes, na maioria idosos. Civis foram feridos pelas bombas de gás e disparos de balas de borracha. Mais de 100 pessoas foram detidas.
No mesmo dia, na Câmara Argentina, governistas expulsaram deputados da oposição do plenário “numa medida autoritária para avançar seus projetos de destruição dos direitos da população“, denunciou a parlamentar brasileira, Sâmia Bomfim (Psol-SP),nas redes.
As manifestações de aposentados não são uma novidade e ocorrem no mesmo local há anos. Nos últimos meses esses protestos passaram a ser alvos de intensa repressão policial. Na quarta, no entanto, houve a participação da torcida de ao menos 20 clubes de futebol no ato, que reagiram à violência contra os idosos, que reivindicam a recomposição dos direitos de aposentadoria.
O movimento tem lutado pela atualização do valor de aposentadoria, bem como a restituição da cobertura de medicamentos e a renovação da moratória previdenciária, que termina no final de março.
Vítimas do protesto
A violência na manifestação feriu mais de 50 pessoas, entre elas membros das próprias forças de segurança do país. Na ocasião, um carro patrulha chegou a ser incendiado.
Uma aposentada de 87 anos, identificada como Beatriz Bianco, ficou gravemente ferida ao bater a cabeça no chão, após ser empurrada por um policial.
Além disso, o fotógrafo Pablo Grillo, que cobria os acontecimentos, foi atingido na cabeça por um cartucho de gás lacrimogêneo. Ele teve que ser operado com urgência, está internado na UTI e seu estado de saúde é grave.
Juíza solta manifestantes e é atacada pelo governo
Ontem (13), um dia após as manifestações, a juíza Karina Andrade, titular do Juizado Penal N° 15 de Buenos Aires, determinou a libertação de 84 homens e 30 mulheres que foram presos pelas forças de segurança durante a marcha dos aposentados.
Na decisão, a magistrada afirmou que em 114 dos mais de 150 casos apresentados, “não foi comprovado delito que justificasse a detenção” e ressaltou que “o que está em jogo” é um “direito constitucional fundamental: o direito de protestar, de se manifestar em uma democracia, o direito à liberdade de expressão”.
Em resposta, o governo Milei iniciou uma campanha de ataques contra a juíza. Hoje (14), o Ministério da Segurança apresentou uma denúncia ao Ministério Público contra a magistrada, dois prefeitos de oposição e uma pessoa ligada ao líder do movimento sindical.
A denúncia, assinada por Fernando Oscar Soto, Diretor Nacional de Normativa e Relações com os Poderes Judiciais, sob ordem da ministra da Segurança, Patricia Bullrich, pede o afastamento da juíza por sedição (revolta coletiva e violenta contra autoridades estabelecidas), atentado à ordem constitucional e democrática e associação criminosa agravada.
Com informações do Clarín e Página12.
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