Somente o cinema para desinvibilizar nossas heroínas anônimas.
Ainda estamos aqui…. esperando a ditadura acabar para TODOS os brasileiros… é verdade.
Mas isso não nos impede de celebrar nossas pequenas vitórias.
Enfim o Oscar! Mas e daí… E o Brasil?
Essa Eunice que viveu na pele o drama dos perseguidos políticos não era uma…. eram muitas, espalhadas pelos quatro cantos do nosso país.
Ele encerra a saga de muitas mulheres que foram esteios de famílias enquanto seus maridos eram perseguidos, torturados e/ou mortos.
Filhos despatriados, memórias interrompidas e convivências sequestradas pela brutalidade da ditadura.
Minha mãe Vânia era uma dessas Eunices e viveu uma saga de dimensões e escolhas parecidas.
Também mulher de um militante político da esquerda, viveu as incertezas dessa época cuidando dos filhos no aguardo infinito do retorno do marido. Meu pai voltava, sempre. Mas as circunstâncias dessa época nos fizeram morar em 11 casas diferentes em 10 anos.
Após a anistia geral, irrestrita, injusta e desigual… Eunice foi cuidar dos Índios no Mato Grosso e Vânia das pessoas no pronto socorro do Hospital Getúlio Vargas em Salvador. Seus ideais socialistas continuaram ecoando na assim dita Democracia….ainda que a la Brasilenha.
Mulheres, mães, trabalhadoras, sonhadoras e idealistas.
O sexo frágil que não se dobra ao aço nem ao fogo da injustiça.
No ano de 2024 minha mãe faleceu e “Ainda Estou Aqui” foi lançado. Ficará como uma homenagem póstuma à todas as Eunices e Vânias.
O Brasil conhece mais deste bastidor. Descobriu o que é a matéria prima da alma Brasileira.
No país do futebol, em pleno domingo de Carnaval, se celebrou o golaço da sétima arte.
Ainda estou aqui me perguntando porque demorou tanto.
Ainda estou aqui me perguntando onde mesmo está a nossa democracia.
Ainda estou aqui celebrando que enfim a cortina de silêncio foi rompida e que finalmente, com ou sem Oscar, muitos hoje sabem mais sobre a ditadura, sobre o Brasil e sobre essas mulheres que Fernanda nos revela.
Ela que encarnando uma mulher rebelou um mito que jazia desaparecido. Escondido. Amordaçado.
Fernanda que emprestando-se ao cinema faz história, e revela ao mundo a força e a coragem da mulher Brasileira.
