Juiz suspende deportação de ativista palestino preso pelo governo Trump

O juiz Jesse Furman, da Justiça Federal de Nova York, suspendeu nesta segunda-feira (10) a deportação do ativista palestino Mahmoud Khalil, residente legal nos Estados Unidos. Khalil, estudante da Universidade Columbia e líder dos protestos contra o genocídio em Gaza, foi preso no último sábado (8) em Nova York por agentes do Departamento de Segurança Interna (DHS) e transferido para um centro de detenção na Louisiana, administrado por uma empresa privada.

A decisão judicial impede que o governo de Donald Trump remova Khalil do país antes de uma análise judicial do caso. No domingo (9), seu paradeiro chegou a ficar desconhecido por horas, sem comunicação com advogados ou familiares. 

Em uma declaração extraordinária publicada nesta segunda (10), Trump se vangloriou de seu papel na prisão de Khalil e ameaçou milhares de outras pessoas com ações semelhantes. Usando a falsa alegação—amplamente promovida pelo establishment republicano—de que a oposição ao genocídio em Gaza seria “antissemita”, Trump escreveu no Truth Social:

“Sabemos que há mais estudantes em Columbia e em outras universidades do país que participaram de atividades pró-terroristas, antissemitas e antiamericanas, e a administração Trump não tolerará isso”, publicou.

Em seguida, ameaçou explicitamente prisões em massa contra qualquer um que se opusesse ao genocídio em Gaza:

“Esta é a primeira prisão de muitas que virão. Encontraremos, apreenderemos e deportaremos esses simpatizantes de terroristas de nosso país—para nunca mais retornarem”, completou Trump.

Na decisão, Furman afirmou que Khalil “não pode ser removido dos Estados Unidos a menos e até que o tribunal decida o contrário”, justificando que a remoção do ativista antes da conclusão do julgamento comprometeria a jurisdição da corte.

A prisão ocorreu dias após Trump assinar uma ordem executiva endurecendo regras para estrangeiros envolvidos em protestos universitários pró-Palestina. O governo alega que Khalil tem “ligações com o Hamas”, mas não apresentou acusações formais ou provas documentais. Ou seja, o estudante foi preso por nenhum crime e nem acusado formalmente de algo.

A defesa de Khalil argumenta que sua prisão representa uma violenta repressão contra movimentos estudantis e imigrantes nos EUA. Segundo seus advogados, a detenção e remoção acelerada foram conduzidas “sem respeitar o devido processo legal”, com o ativista sendo levado para um centro de detenção privado sem notificação à sua família. Khalil foi secretamente transportado de avião para um centro de detenção privado na Louisiana, a 2.100 km de distância do estado de Nova York.

No início do ano, o presidente assinou um decreto ampliando os poderes do DHS para revogar vistos e deportar estrangeiros considerados “ameaças” ao governo.

Khalil, que possui green card, tem os mesmos direitos de qualquer residente permanente nos EUA, o que inclui o direito à defesa e a revisão judicial de seu caso antes de qualquer deportação. A decisão do juiz Furman reforça esse princípio, destacando que o governo não pode atuar de forma arbitrária contra residentes legais.

A detenção de Khalil gerou protestos em universidades e manifestações de solidariedade internacional. Em Columbia, estudantes e professores organizaram atos exigindo sua libertação. Uma petição online reunindo assinaturas contra sua deportação já conta com mais de 1,6 milhão de assinaturas.

A audiência que definirá o futuro de Mahmoud Khalil está marcada para esta quarta-feira (12), quando o tribunal avaliará a legalidade de sua prisão e sua possível liberação.

As ações do governo Trump contra Khalil e outros ativistas refletem um padrão de repressão cada vez mais intenso, no qual o Estado é utilizado para silenciar dissidências políticas. O uso de órgãos de segurança para perseguir opositores, combinado à militarização das forças de imigração, aprofunda um cenário de supressão de direitos civis e de desmonte de salvaguardas democráticas.

Ao consolidar o controle sobre instituições fundamentais e remodelar a política migratória para fins políticos, Trump avança em uma estratégia que, historicamente, antecedeu governos de caráter autocrático. A repressão aos protestos pró-Palestina e a criminalização de estrangeiros críticos ao governo não são casos isolados, mas parte de um processo maior de erosão democrática nos Estados Unidos.

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