De olho na reeleição em 2026, a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, oficializou nesta segunda-feira 10 sua filiação ao PSD de Gilberto Kassab. Três ministros do governo Lula estiveram presentes na cerimônia, realizada no Recife e marcada por um clima de festa: Alexandre Silveira (Minas e Energia), Carlos Fávaro (Agricultura) e André de Paula (Pesca).
Egressa do PSDB, Lyra deve enfrentar nas urnas o prefeito da capital pernambucana, João Campos (PSB). Sua entrada em um partido que integra a base da gestão federal, portanto, pode deixar o Palácio do Planalto em situação delicada caso decida apoiar uma eventual candidatura do pessebista na disputa pelo Palácio Campo das Princesas.
Ao discursar nesta segunda, Kassab afirmou que a governadora é uma das mulheres mais proeminentes da política atual e manifestou esperança de que ela será reeleita. O dirigente também chegou a projetar uma possível candidatura dela à Presidência da República em 2030. Lyra ainda comandará o diretório estadual do PSD, substituindo André de Paula.
A mudança de partido marca o agravamento de uma debandada no PSDB, legenda pela qual Lyra foi eleita. Ela havia sido convidada a se filiar ao PSD ainda no ano passado, mas as negociações foram suspensas enquanto o PSDB discutia uma fusão com o partido de Kassab.
As conversas não avançaram devido a divergências regionais. Em Minas Gerais, por exemplo, a aliança poderia prejudicar os planos de Aécio Neves de retornar ao Senado em 2026. Para evitar tensões no ninho tucano, Lyra articulou um gesto político: sua vice, Priscila Krause, filiou-se ao PSDB no último domingo.
Ninho esvaziado
Se 1988 marcou a fundação do PSDB, 2025 pode entrar para a história como o ano da extinção de uma das siglas mais tradicionais da política brasileira. Após amargar seu pior desempenho em 2024, o partido agora trava uma corrida desengonçada pela sobrevivência.
Conforme mostrou CartaCapital, uma ala pragmática da legenda defende a fusão, como ocorreu com PSL e DEM, ou uma incorporação, a exemplo do PSC, que agora faz parte do Podemos. Os tucanos mais idealistas, contudo, rejeitam essa ideia e pedem respeito à trajetória do partido.
Embora tenha sua história entrelaçada à redemocratização do Brasil, o PSDB não tem conseguido empolgar os eleitores e em 2022 perdeu nas urnas o domínio histórico que mantinha sobre São Paulo.
Naquele ano, Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Fernando Haddad (PT) avançaram ao segundo turno, deixando Rodrigo Garcia para trás com seus tímidos 18,40% dos votos válidos.
Além disso, a sigla não conseguiu eleger nenhum senador e viu sua já reduzida bancada de 22 deputados federais encolher para 13. Se 2022 foi um ano ruim, 2024 marcou o auge da crise tucana, com o pior desempenho eleitoral de sua história: o partido não elegeu prefeitos em nenhuma capital.
A principal aposta do PSDB em São Paulo, o apresentador José Luiz Datena, perdeu fôlego e terminou em quinto lugar, com apenas 1,8% dos votos válidos. A legenda jamais havia saído de uma disputa em capitais sem eleger ao menos um candidato.
Sem Raquel Lyra, sobrarão ao PSDB apenas dois governadores: Eduardo Leite, no Rio Grande do Sul, e Eduardo Riedel, em Mato Grosso do Sul. Agora, o PSD tem três representantes nos Executivos estaduais: Ratinho Jr, no Paraná, e Fábio Mitidieri, em Sergipe, além da governadora pernambucana.