da Fepal – Federação Árabe Palestina do Brasil

Donald Trump, o pato pornográfico

por Wellington Lima Amorim

Para entender as palavras e ações de Donald Trump para a Palestina e sua região, é preciso voltar um pouco no tempo, especialmente ao caso envolvendo o novamente presidente dos EUA e a atriz pornográfica Stormy Daniels. Conforme alegado, Trump teria efetuado um pagamento à atriz para silenciá-la sobre um suposto caso extraconjugal ocorrido em 2006, não muito distante das eleições presidenciais de 2016. A polêmica levantou diversas questões legais e éticas, especialmente no que diz respeito ao financiamento de campanha e à tentativa de ocultação de informações potencialmente prejudiciais à sua eleição, afetando diretamente a percepção pública sobre ética e liderança. Ao mesmo tempo, o fato do novamente presidente dos EUA se chamar Donald provoca uma leitura no mínimo trágica e cômica desta situação, uma vez que o Pato Donald, personagem de Walt Disney, é frequentemente reconhecido por seu temperamento explosivo e suas frustrações constantes.

Porém, essa superficialidade esconde a busca de uma identidade pessoal por uma pessoa doente mentalmente em um mundo em constante transformação. Além disso, sua reatividade intempestiva reflete a falta de autenticidade e uma identidade ambígua. Da mesma forma, o pato Donald Trump não só oferece um espelho para as angústias humanas ocidentais, mas também desafia as normas gerando um ambiente repleto de absurdidade e incerteza. Ou seja, Donald Trump sintetiza o que há de mais odioso na cultura estadunidense, oferecendo uma essência sádica e rebelde, servindo como um espelho ideal para análises sobre autoritarismo.

Em várias histórias dos quadrinhos e animações de Walt Disney, o pato Donald apresenta uma personalidade explosiva e insubordinada, algo como o retrato de uma sociedade rebelde que deseja ocidentalizar o mundo em um projeto profanizador, eliminando tudo o que há de sagrado, prostituindo e matando qualquer presença do inominável, aquele que não tem nome.

Mas este projeto não é novo. Seu início vem do século XVIII, com a Revolução Francesa, inauguradora da modernidade e que pode ser considerada como pornográfica, que deseja profanar e secularizar todo tecido social. Como diria o revolucionário Marquês de Sade: ‘Mais Um Esforço Se Quiserdes Ser Republicanos’. Ou melhor, um esforço pornográfico e sádico.

Por isso Friedrich Nietzsche, ao proclamar que ‘Deus está morto’, detecta nas bases da moralidade e da religião ocidental a morte metafórica das certezas divinas que sustentavam a civilização ocidental por séculos. Essa afirmação não é um simples ataque à religião, mas uma crítica profunda ao Ocidente. Nietzsche percebeu a decadência da fé institucionalizada como um reflexo de uma crise mais ampla: a necessidade de buscar novos valores que promovam uma continuidade evolutiva do pensamento humano ocidental. Afinal, se Deus está morto, tudo é permitido.

Por outro lado, o Oriente Médio, inclusive especialmente, não deseja ser profanado, ele não quer desencantar seu mundo. O Oriente Médio, em especial sua população majoritariamente muçulmana, tem em seu núcleo uma riqueza espiritual inigualável e uma diversidade fascinante. Esta tradição religiosa moldou identidades culturais e políticas ao longo dos séculos, influenciando não apenas as práticas religiosas, mas também a vida cotidiana de milhões de adeptos, como no Sul de Portugal e Espanha, com legados que vão desde a fundação de cidades sagradas até a elaboração de códigos éticos e jurídicos.

O povo palestino luta para não ser capturado, estuprado ou prostituído culturalmente por um déspota que bebe Whisky escocês e fuma um charuto cubano enquanto imagina reconstruir Gaza como sendo uma Malibu mediterrânica, destituindo a sacralidade que reina imponderavelmente no coração de cada palestino mulçumano, mas cristão também. Os EUA de Trump e seus apoiadores não entendem o porquê da resistência contra a profanização da Cultura no Oriente Médio ou fingem não entender. Por isso seu aliado, o “estado” colonial e supremacista de “israel”, se torna um enclave que tenta ocidentalizar o Oriente Médio e modernizar pornograficamente o Oriente.

Na obra ‘Moisés e o Monoteísmo’, Freud propõe a audaciosa tese de que Moisés não era hebreu, mas sim egípcio, e que o monoteísmo israelita teria suas raízes nas reformas religiosas implementadas pelo faraó Akhenaton. Freud explora essa hipótese de que a religião monoteísta teria decorrido de construções culturais profundamente influenciadas por traumas coletivos inerentes à identidade do povo judeu. Freud incita uma reconsideração das bases culturais e religiosas do ocidente, instigando uma reflexão crítica sobre a evolução da fé e suas implicações na formação das identidades coletivas.

Se a hipótese freudiana pudesse ser provada empiricamente, como o “estado” de “israel” reagiria? Como um farsante? Se assumiria como sendo uma falsificação barata de outras culturas, em especial, a egípcia? Enfim, o Ocidente e sua modernidade se expressam pornograficamente e o “estado” de “israel” representa um enclave cultural desta falsificação exigindo transparência total, exposição, desvelamento, espetáculo pornográfico na exposição dos corpos mutilados e espedaçados incessantemente na linha de produção fordista/genocida da máquina de guerra “israelense”/estadunidense.

Nesta sociedade ocidental, a pornografia não é restrita ao domínio sexual, mas estende-se para todos os aspectos da vida em que a privacidade e o íntimo são sistematicamente suprimidos. Caracteriza-se pela invasão do olhar e da exibição sem limites, onde tudo deve ser visto e consumido de forma rápida e superficial. Não há mais o véu que nos protege, mas tudo tem que ser desvelado. Este paradigma é impulsionado pela sociedade digital, que demanda uma constante disponibilidade e visibilidade, obliterando fronteiras tradicionais entre o público e o privado, o sagrado e o profano. A obsessão pela transparência excede a mera exposição corporal, abrangendo sentimentos, pensamentos e ações, eliminando o mistério e a profundidade do ser, daquele que não tem nome.

Os EUA de Trump quer submeter o povo palestino a uma forma de alienação mais insidiosa, onde o sujeito é simultaneamente criador e prisioneiro de uma identidade pornográfica e ocidental. Ao contrário de outras formas tradicionais de alienação, esta não é imposta externamente, mas é buscada ativamente através da construção cultural narcisista do cowboy de peruca, transformando o indivíduo em um produto a ser consumido, dançarinas a serem saboreadas e negociadas ao gosto do cliente, resultando numa desconexão profunda com a realidade tangível, não respeitando mais as fronteiras entre o sagrado e o profano.

Os EUA de Trump não respeita as fronteiras éticas e morais que são delimitações críticas que orientam o comportamento cultural humano, determinando o que é socialmente aceito ou reprovável. Estas fronteiras são moldadas por tradições culturais e religiosas. Trump e seu desgoverno não respeita as fronteiras culturais de qualquer povo, em especial o palestino, que estabelecem limites claros, simbólicos e concretos, que nos ajudam a diferenciar o Ocidente do Oriente.

Wellington Lima Amorim é psicanalista e professor associado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com pós-doutorado em filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e em desenvolvimento regional pela Universidade do Contestado (UNC), doutorado interdisciplinar em ciências humanas pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e mestrado em filosofia pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Tem especializações em Teoria e Clínica Psicanalítica pela Universidade Celso Lisboa e sobre Ensino de Filosofia pela UNISINOS e é membro da Academia do Escritores do Litoral Norte do Rio Grande do Sul e psicanalista pelo Instituto Távola/Ribeirão Preto-SP.

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Last Update: 10/03/2025