Inflação ao consumidor na China registra maior queda em 13 meses e pressiona governo a reforçar estímulos

O índice de preços ao consumidor (IPC) da China apresentou queda de 0,7% em fevereiro na comparação com o mesmo período do ano anterior, segundo dados divulgados neste domingo, 10, pelo Escritório Nacional de Estatísticas (NBS). Trata-se da maior retração registrada em 13 meses e da primeira contração anual do indicador desde janeiro de 2024.

O resultado ficou abaixo das estimativas de analistas consultados pela agência Reuters, que previam recuo de 0,5%. Em janeiro, o índice havia mostrado alta de 0,5% em termos anuais.

A desaceleração do IPC ocorre em um contexto de demanda interna enfraquecida, com consumidores demonstrando cautela diante de incertezas relacionadas ao mercado de trabalho e à renda. A procura sazonal também perdeu força, impactando os dados de inflação.

A persistência de pressões deflacionárias tem sido observada em outros indicadores. Os preços ao produtor, que já registram retração há meses, continuam em trajetória negativa, refletindo a dificuldade da economia chinesa em sustentar níveis consistentes de atividade industrial.

O governo chinês anunciou na semana passada que adotará medidas adicionais para estimular o consumo, diante do cenário interno e da intensificação da disputa comercial com os Estados Unidos. Ainda assim, analistas avaliam que a economia do país deve continuar enfrentando obstáculos estruturais ao longo dos próximos meses.

A meta de crescimento econômico estabelecida por Pequim para 2025 foi mantida em cerca de 5%, patamar semelhante ao projetado para 2024. Já a meta anual de inflação foi revisada para aproximadamente 2%, ante 3% no ano anterior.

Especialistas observam que os números atuais indicam um desafio adicional para as autoridades econômicas do país, que buscam promover estabilidade e recuperação por meio de políticas fiscais e monetárias. A manutenção da inflação abaixo da meta, combinada à baixa confiança dos consumidores, reforça o diagnóstico de que há necessidade de ajustes adicionais na estratégia de estímulo à atividade doméstica.

Zhiwei Zhang, presidente e economista-chefe da Pinpoint Asset Management, afirmou que “a economia da China ainda enfrenta pressão deflacionária”. Para ele, apesar de avanços em setores específicos, como o tecnológico, a demanda doméstica continua em patamar reduzido.

Zhang acrescentou que, diante do cenário externo adverso, com exportações sujeitas a riscos decorrentes da guerra comercial, a política fiscal deve assumir papel mais ativo. O economista destacou ainda que o setor imobiliário do país permanece em situação frágil, sem sinais claros de recuperação.

A trajetória de deflação observada nos indicadores de preços reforça a preocupação de autoridades econômicas com a capacidade de sustentação da recuperação. O governo tem indicado que pretende expandir programas de apoio ao consumo, mas enfrenta limitações para reverter a desconfiança de consumidores e empresas.

As pressões deflacionárias vêm sendo acompanhadas por desaceleração em diferentes segmentos da economia. Dados do setor varejista, da indústria e do mercado imobiliário apontam para um ritmo de atividade aquém das expectativas, o que dificulta o alcance das metas de crescimento estabelecidas.

O NBS não detalhou os fatores específicos que influenciaram a contração do índice em fevereiro, mas analistas destacam que o fim do impulso sazonal pós-feriado do Ano Novo Lunar e a manutenção de padrões de consumo conservadores influenciaram negativamente os resultados.

Com a inflação abaixo das projeções, aumentam as expectativas sobre a possibilidade de novos cortes em taxas de juros e estímulos direcionados ao consumo. No entanto, o espaço para medidas mais agressivas permanece restrito, considerando o nível atual de endividamento em alguns setores da economia.

A desaceleração dos preços também pode impactar a arrecadação e as expectativas de receita de governos locais, muitos dos quais enfrentam desafios fiscais. Isso eleva a importância de iniciativas coordenadas entre o governo central e administrações regionais.

A guerra comercial com os Estados Unidos segue como fator de incerteza para o comércio exterior chinês. Com as exportações sujeitas a barreiras e reestruturações nas cadeias de fornecimento globais, o governo avalia formas de mitigar os impactos negativos e ampliar o peso do mercado interno na composição do crescimento.

A revisão da meta de inflação para baixo reflete a percepção de que os preços não devem reagir de forma significativa no curto prazo, mesmo com os estímulos já em curso. A expectativa é de que medidas complementares sejam implementadas ao longo do ano.

O governo ainda não divulgou detalhes sobre os próximos pacotes de incentivo ao consumo, mas fontes do setor indicam que novos programas de crédito, subsídios e apoio ao setor habitacional estão em avaliação.

A deflação no consumidor e a persistência de queda nos preços ao produtor colocam a segunda maior economia do mundo diante de um cenário desafiador, exigindo respostas coordenadas para evitar prolongamento da estagnação na demanda.

Com informações da Reuters

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