Em novembro de 2024 publicamos artigo onde opinamos sobre algumas implicações do MAGA (Make America Great Again) e sobre os prejuízos para os esforços globais contra a crise climática com a nova saída dos EUA do Acordo de Paris.
As circunstâncias de conflitos potenciais generalizados pelo mundo com a prática de governo da administração Trump, até o momento, exige a mobilização dos países e reflexões e ações cuidadosas para evitar os cenários mais graves.
Nesses termos, apesar das nossas grandes limitações em temas geopolíticos, julgamos oportuno continuar dialogando com os nossos leitores sobre esse quadro internacional inusitado, com o governo Trump II.
No tratamento hostil dispensado a Zelensky no salão oval da Casa Branca, Trump acusou o presidente ucraniano de estar apostando na 3ª guerra mundial. Acho até procedente que tenha levantado essa hipótese. Contudo, é o presidente Trump quem está anunciando a eclosão da guerra mundial tarifária para o próximo dia 2 de abril, com desdobramentos imprevisíveis.
Creio que o novo adiamento da punição tarifária sobre México e Canadá, para coincidirem com o 02 de abril, não decorreu da sensibilidade de Trump aos argumentos e apelos dos governos daqueles países. Mas, sim, do protesto de grandes setores empresariais americanos que seriam duramente afetados.
Segundo a imprensa americana, de imediato a gasolina iria encarecer por conta dos preços maiores do produto do Canadá e, também, a energia teria aumento nos preços. Calcula-se que as tarifas resultariam em preços médios mais caros dos automóveis produzidos nos EUA, em 2.500 dólares. Já há previsões de crescimento negativo da economia dos EUA caso o governo siga nessa toada tarifária. Em um mundo globalizado nenhum país produz qualquer bem sozinho. Como disse o jornalista americano Thomas Friedman do jornal NY: “não é a economia; é o ecossistema, estúpido”.
Parece claro que somente as instituições e o povo americano serão capazes de frear as “heterodoxias” do seu presidente. Mas é estranho que mesmo a intelectualidade dos EUA ainda esteja silente com as ameaças do presidente para o seu próprio país. Pelo menos o judiciário tem dado alguns sinais importantes.
Caso Trump ignore as possíveis reações massivas internas e mantenha-se na rota de sobrestar a total interdependência da economia mundial e a desejável cooperação entre os povos, só o tempo dirá sobre as consequências.
E preditivo do que nos espera, as primeiras reações oficiais da China sobre a decisão americana de dobrar para 20% as tarifas para as importações chinesas. O porta voz do governo, de forma fria e tranquila, disse que nada intimida a China e que o país está pronto para “qualquer conflito” com os EUA.
Muitos dizem que a retórica radicalizada do presidente Trump traduz apenas estratégia de pressão para negociações que atendam aos seus propósitos. Seria bizarro, mas, ainda bem!
De todo o modo, a data marcada por Trump do dia 02 de abril como o dia do início do tarifaço sobre todos os países do mundo, acirra o clima de insegurança global e de perspectiva de uma grande guerra comercial.
Em paralelo, ao dar um chute no ‘traseiro da Europa’ provocando ruptura em uma aliança histórica, Trump jogou gasolina na relação da Europa ocidental com a Rússia, fomentando uma nova corrida armamentista. A China anunciou o aumento de 7.5% no seu orçamento militar e os países europeus, membros da OTAN, anunciaram plano de gastos militares de 800 bilhões de euros. Por suposto, a Rússia não irá assistir passivamente o rearmamento intensivo da Europa. Particularmente considero preocupante para os esforços do Brasil o potencial desagregador, no BRICS, da aliança Trump/Putin.