O presidente sírio, Ahmed al-Sharaa, pediu neste domingo (9) “unidade nacional” após três dias de confrontos sem precedentes desde a queda de Bashar al-Assad, que deixaram mais de mil mortos, a maioria civis alauítas.

A Presidência síria também anunciou que uma “comissão independente” investigará a violência no oeste. A violência começou com um ataque, na quinta-feira, de apoiadores de Assad às forças de segurança na cidade de Jablé, na província de Latakia, no oeste. Esta região é o berço da comunidade muçulmana alauíta, da qual o clã Al-Assad se origina.

De acordo com a ONG Observatório Sírio de Direitos Humanos, que tem uma ampla rede de informantes na Síria, 745 civis alauítas foram mortos desde quinta-feira nas regiões costeiras e montanhosas de Latakia por forças de segurança e grupos afiliados. Pelo menos 273 membros das forças de segurança e combatentes pró-Assad também morreram, de acordo com a mesma ONG.

A comunidade alauíta é um ramo do islã xiita. “O que está acontecendo no país (…) são desafios que eram previsíveis. Temos que preservar a unidade nacional, a paz civil, tanto quanto possível e, se Deus quiser, seremos capazes de viver juntos neste país”, disse Al-Sharaa em um discurso em uma mesquita em Damasco, a capital.

O atual presidente liderou a coalizão islamista que derrubou Al-Assad, um membro da minoria muçulmana alauíta.

Após o ataque de quinta-feira, o Ministério do Interior anunciou o envio de “reforços adicionais” para “restaurar a calma” em Qadmus, um povoado na província de Tartus, onde “buscam os últimos homens leais ao antigo regime”.

A agência de notícias oficial da Síria, Sana, relatou “confrontos violentos” em Taanita, um vilarejo nas montanhas da mesma província, onde “vários criminosos de guerra afiliados ao regime deposto e grupos de homens leais a Assad que os protegem” se refugiaram.

Um comboio de 12 veículos militares entrou no vilarejo de Bisnada, na província de Latakia, onde as forças de segurança estão revistando casas, observou um fotógrafo da AFP. “Mais de 50 pessoas, familiares e amigos foram assassinados”, disse um habitante alauíta de Jablé, que não quis se identificar.

As forças de segurança e milicianos aliados “recolheram os corpos com escavadoras e os enterraram em valas comuns, inclusive jogaram corpos ao mar”, acrescentou.

“Massacres de inocentes”

Uma fonte de segurança citada pela agência de notícias oficial Sana relatou na sexta-feira “abusos isolados”, culpando as “multidões” que agem em retaliação ao “assassinato de vários membros da polícia e das forças de segurança” por parte de “membros leais ao antigo regime”.

Após mais de 13 anos de guerra civil, restaurar a segurança é o principal desafio para o novo poder sírio. Na sexta-feira, a Al-Sharaa pediu aos insurgentes alauítas que “deponham as armas antes que seja tarde demais”.

Assad foi deposto em dezembro de 2024 por uma aliança de rebeldes islamistas sunitas liderados pelo grupo radical Hayat Tahrir al-Sham (HTS) de Al-Sharaa. Ele então fugiu para Moscou com sua família. Durante um sermão neste domingo, o patriarca ortodoxo de Antioquia, Juan X, pediu a Sharaa que ponha “fim aos massacres”.

O alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, afirmou que os massacres de civis “devem parar imediatamente”, enquanto o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, condenou os “massacres” e pediu que os responsáveis “sejam punidos”.

O OSDH e vários ativistas publicaram vídeos que mostram dezenas de corpos e homens vestidos com uniformes militares disparando em três pessoas à queima-roupa. A AFP não conseguiu verificar essas imagens de forma independente.

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Last Update: 09/03/2025