Setores da esquerda nacional, em uma demonstração de oportunismo e desespero político, continua dando seu apoio à farsesca operação jurídica montada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para promover a perseguição de Bolsonaro e outros 33  de seus aliados políticos.

Paulo Moreira Leite, colunista do sítio Brasil 247, contribui para esse apoio irresponsável, com matéria nomeada Golpistas na hora da verdade, na qual procura demonstrar que a denúncia escrita pelo lavajatista Paulo Gonet seria um “ajuste de contas com a herança produzida pela Operação Lava Jato”. Leite  considera, o que é correto apenas parcialmente, que a principal herança da Lava Jato seria a derrubada do governo Dilma, seguida pela prisão de Lula e a subsequente vitória de Jair Bolsonaro. Segundo sua tese, esse golpe seria interrompido com a possível prisão de Bolsonaro.

Essa visão é incorreta por dois motivos: primeiramente, não é considerado por Leite que um aspecto importante da herança deixada pela operação Lava Jato e seu antecessor direto, o Mensalão, são justamente as práticas jurídicas criminosas inauguradas por ambos os processos:  condenação das vítimas sem provas, escolhas de juízes e tribunais que já estejam comprometidos anteriormente com a condenação dos réus, condução do processo para um fórum totalmente inadequado (julgamento de Lula no Paraná, julgamento de Bolsonaro no STF, mesmo o ex-presidente não tendo foro privilegiado, etc.), coação de testemunhas por meio de tortura e ameaças (delação premiada) e muitas outras condutas que buscam anular o direito à ampla defesa dos réus.

O segundo erro é acreditar que o julgamento de Bolsonaro, conduzido pelo STF de forma totalmente persecutória e ilegal, botaria um ponto final nos malfeitos da Lava Jato, o que é justamente o oposto da realidade. Segundo Leite, o julgamento seria um “indispensável capítulo final num episódio que marca a formação do próprio Estado Democrático de Direito no país”. No entanto, a realidade é que o julgamento de Bolsonaro por Alexandre de Moraes é justamente a consolidação de todas as práticas criminosas criadas durante a Lava Jato, fechando esse ciclo de perseguições políticas levadas adiante pelo STF. Cada arbitrariedade cometida por esses juízes abre um novo precedente que será repetido em todas as futuras operações criminosas do mesmo tipo e até em julgamentos de criminosos comuns, os quais têm uma perspectiva muito “tenebrosa” diante desse vale-tudo jurídico.

Segundo Leite, a denúncia de Gonet esclareceria um “episódio até hoje pouco estudado da luta política em curso num país no qual os direitos e garantias democráticos foram tomados de assalto por uma articulação de profissionais do Direito, inclusive juízes togados e advogados com escritórios para lá de luxuosos, além de comandantes militares de vergonhosa formação golpista, que se supunha enterrada junto com os esqueletos do regime de 64”. No entanto, o articulista esquece de considerar o fato de que Gonet é cria de toda essa operação, sendo o procurador um lavajatista reconhecido. Se a luta de Leite é contra a Lava-Jato e suas consequências, jamais se poderia confiar em Paulo Gonet para levar adiante essa luta. Foi Gonet, à época subprocurador-geral da República, quem, em 2016, defendeu denúncia contra a então senadora Gleisi Hoffmann e seu marido, Paulo Bernardo, acusados de receber R$ 1 milhão em propina. Contra Gleisi e Paulo Bernardo foram cometidas uma série de ilegalidades, todas patrocinadas e organizadas pela Lava-Jato com a ajuda de Gonet.

A única informação extraída da denúncia de Gonet por Paulo Moreira Leite, no entanto, é a que segue: “Com o nome de operação ‘Punhal Verde Amarelo’, a investigação descobriu uma ideia macabra, a ser aplicada no caso em que tudo desse errado e, paras infelicidade geral dos golpistas, Lula conseguisse derrotar Bolsonaro em 2002 e garantir um novo mandato presidencial, como de fato aconteceu. Neste caso, os golpistas deveriam aguardar pela diplomação do candidato no TSE até que, 3 dias depois, seria lançado uml plano para deixar a nação em estado de choque – o assassinato simultaneo de Lula, Geraldo Alckmin e de Alexandre Moraes, na época presidente do Tribunal Superior Eleitoral”.

Ainda que se possa considerar que seja verdadeira a existência desse plano, há de se convir que não houve, efetivamente, a execução de nenhuma atitude criminosa de fato por parte dos supostamente envolvidos. A redação de plano para cometer um crime não configura efetivamente o crime. O fato de se ter cogitado um golpe de Estado, assassinato de determinadas figuras e outras coisas, não é o equivalente a levar adiante esse golpe e assassinatos, e sequer configura uma tentativa de executar tais planos.

Nesse sentido, é preciso dizer claramente que toda a denúncia de Gonet não passa de uma farsa montada para promover a perseguição de um candidato que tem a possibilidade de vencer as próximas eleições. A acusação de tentativa de golpe contra Bolsonaro e seus aliados é apenas uma forma de mantê-lo fora do páreo em 2026. Infelizmente, uma parte da esquerda apoia isso como se fosse positivo para eles. No entanto, deve-se compreender a intenção do imperialismo: primeiro, tirar Bolsonaro do caminho, e, logo depois, fazer o mesmo com Lula, para liberar espaço para algum candidato impopular que possa ser apoiado pelo imperialismo.

A esquerda não deve confiar no imperialismo como aliado, pois suas intenções sempre são as mais reacionárias e canalhas possíveis. É preciso se colocar contra os abusos jurídicos do STF, seja quem for o atingido por eles. A vitória contra o bolsonarismo precisa se dar nas ruas pela luta política e não por meio de manobras criminosas de juízes autoritários.

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Last Update: 07/03/2025