Entre blocos carnavalescos, escolas de samba, frevos e, é claro, o Oscar (viva!), a criatividade e a vocação para a alegria do nosso povo não param. Mas, mesmo entre tanta festa, o esporte segue firme.

No futebol, os estaduais começam a se definir, com destaque para o Campeonato Paulista, que, após um bom tempo, volta a contar com os quatro maiores clubes do estado: Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Santos.

Entretanto, a confusão gerada pela ganância do calendário esportivo provoca queixas.

Um exemplo disso é o São Paulo, que teve seu jogo contra o Palmeiras, pela semifinal, marcado para uma segunda-feira à noite, dia 10 de março.

Essa mudança de data foi apenas o começo dos estaduais, o campeonato que, a princípio, é o menos valorizado entre tantos outros torneios, copas e taças.

No meio disso tudo acontece a Copa do Brasil, a agitada Copa do Nordeste (apelidada de Lampions League), e o Campeonato Brasileiro, que começa no dia 30 de março, com as Séries A, B, C e D.

Além disso, os clubes competem internacionalmente em torneios como a Libertadores, a Champions League (que está nas oitavas de final) e a Sul-Americana, que teve sua primeira rodada na última terça-feira.

No meio desse turbilhão, o que chama atenção e gera descontentamento nos torcedores é a situação do Botafogo.

Em menos de um mês, o time foi de glorioso campeão brasileiro e da Libertadores, em 2024, a uma equipe incapaz de vencer qualquer partida.

Esse caso é intrigante e desperta a vontade de compreensão desse cenário caótico. O torcedor brasileiro, em sua maioria, não se importa com o médio e longo prazo.

Por isso, mesmo após uma temporada como a do Botafogo, que começou de forma desastrosa no Campeonato Carioca e terminou de forma vitoriosa, com um futebol elogiado por todos, o que importa é o hoje.

Por outro lado, o dono da SAF Botafogo, o empresário John Textor, aparenta ter o controle da situação e declara que seu objetivo é fazer a torcida entender o seu planejamento.

E aí surge o ponto mais interessante: o “calendário” do futebol, que parece humanamente impossível de ser seguido atualmente, mesmo em países com estrutura mais organizada.

Protestos frequentes em diversos lugares do mundo indicam que o modelo se tornou insustentável.

Curiosamente, o dirigente da SAF Botafogo parece seguir um calendário próprio, o que tem gerado confusão entre os torcedores.

Ao mesmo tempo, esse é um modelo digno de ser observado. Será interessante ver se, ao longo do ano, o roteiro de seu planejamento se repetirá.

Um dos pontos originais da proposta dele é: um calendário que prioriza a qualidade da preparação e o funcionamento do trabalho nos clubes, sem seguir a insanidade dos calendários oficiais, que estão visivelmente descontrolados, voltados ao lucro, sem qualquer consideração pelos atletas.

Falando em SAF, a tradicional Portuguesa de Desportos, de São Paulo, também está em processo de transformação e é a mais nova candidata a adotar esse modelo. Por ora, esse caminho foi interrompido durante uma reunião do Conselho do clube.

Notícias recentes indicam também que a SAF que adquiriu o futebol do Vasco da Gama tem enfrentado problemas com o clube da cidade de Melbourne, na Austrália.

Pouco tempo atrás, torcemos para que o Estádio do Canindé não fosse transformado em uma transação imobiliária – risco esse que também foi enfrentado pelo Guarani de Campinas.

O maior problema, no entanto, é que o modelo de SAF está virando moda, o que levanta preocupações sobre a qualidade de gestão nos clubes com menor poder econômico. Isso pode resultar em maus negócios e administrações despreparadas, o que seria desastroso para o futuro do futebol brasileiro.

Quanto à qualidade do futebol jogado atualmente, é alarmante a desilusão dos torcedores em todo o Brasil. Considerando o valor cultural que o futebol tem para o nosso povo, essa realidade é ainda mais preocupante.

O que também parece ter se tornado moda por aqui é a presença de treinadores portugueses entre nós. O número só cresce, e o Botafogo acaba de contratar mais um.

Fato é que a boa escola portuguesa de treinadores tem se mostrado eficiente. O idioma também facilita a comunicação e isso, certamente, cria um ambiente mais descontraído entre os jogadores. •

Publicado na edição n° 1352 de CartaCapital, em 12 de março de 2025.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Caos ou estratégia?’

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Last Update: 06/03/2025