Da Redação
No sábado, 1 de março de 2025, o UOL publicou a reportagem ‘Lei da selva’: dirigente histórico do PT critica mudança no estatuto.
O jornalista Luccas Lucena assina-a e o dirigente histórico a que se refere é Valter Pomar.
Logo no início, escreve:
Mudanças no estatuto do PT estão gerando uma crise no partido. Uma das vozes contrárias às alterações é Valter Pomar, dirigente histórico da sigla. Ele afirma que as alterações são ilegais e chamou a nova regra de “lei da selva”.
O que aconteceu
Em uma reunião tensa, PT alterou estatuto com maioria simples. A mudança foi aprovada por 60 votos a favor, 27 contra e cinco abstenções. Alguns integrantes do partido, incluindo Pomar, afirmam que isso não poderia ter acontecido e que não havia quórum para a votação.
Parlamentares e dirigentes da sigla podem se reeleger indefinidamente Antes, deputados petistas não podiam se reeleger por mais de três mandatos consecutivos
Valter Pomar comentou em seu blog, fez apenas esta correção no que foi publicado:
A matéria diz que eu sou filiado ao PT desde 1980. Não é fato. Fiz campanha para o PT em 1982 mas só me filiei em 1985.
Em seguida, reproduziu a íntegra das respostas ao jornalista do UOL. Valter só dá entrevistas por escrito.
Seguem as perguntas feitas por Luccas Lucena e as respostas de Valter Pomar.
Luccas Lucena –Vemos a reprovação de Lula subindo com a alta do preço dos alimentos – o que necessariamente não é culpa dele, mas a direita usa muito bem esse fator negativo. Mesmo com as eleições sendo daqui 18 meses, isso já preocupa?
Valter Pomar — A inflação preocupa, especialmente do preço dos alimentos. Mas a preocupação maior não é eleitoral. A preocupação maior é que prejudica a vida do povo, principalmente de quem recebe menores salários. Por isso é preciso intervir na economia, imediatamente.
Luccas Lucena — O PT vem enfrentando uma dificuldade de renovação em seus quadros mesmo com bons nomes novos, como Luna Zarattini e outros mais. O partido deveria se atentar mais a abraçar essa nova geração de políticos que vem vindo?
Valter Pomar — Então, não concordo com a tese exposta na pergunta.
Em primeiro lugar, considero que o principal problema do país não é idade dos parlamentares ou dos executivos. O principal problema do país é que a elite controla os centros de poder. Os trabalhadores são maioria na sociedade e minoria no parlamento. As mulheres, os negros e negras, são maioria na sociedade. E são minoria no parlamento. Nada disso não acontece por conta da “dificuldade de renovação” do PT. O PT é vítima disto, não causa do problema.
Em segundo lugar, figuras como Luna, Natália Bonavides, Dandara e tantas outras companheiras e companheiros, que hoje têm entre 20 e 40 anos, não surgiram de processos eleitorais. Surgiram da luta política e social. O jeito de renovar geracionalmente o Partido é através das lutas sociais, o eleitoral é consequência.
Luccas Lucena — Vimos nos últimos dias que o PT mudou o estatuto, liberando reeleição sem limites e dificultando a renovação dos quadros do partido. Para o senhor, a mudança foi bem-vinda?
Valter Pomar — A mudança foi ilegal e ilegítima. O estatuto não pode ser mudado por uma maioria simples de membros do Diretório. Uma resolução congressual também não pode ser mudada assim.
Ademais, a proposta caiu de paraquedas um dia antes de ser submetida à votação, numa reunião que não poderia ter discutido conjuntamente os dois temas, que dizem respeito a coisas diferentes (mandatos internos ao Partido e mandatos eleitos).
Votei contra as mudanças. E, no caso dos mandatos parlamentares, defendi que fosse convocada uma reunião específica para debater o assunto.
Luccas Lucena — É citado em uma matéria da Folha de São Paulo que o senhor e Jilmar Tatto discutiram antes da reunião. A discussão foi por conta das propostas ou foi algo mais técnico da reunião (como o jeito que seria a votação)?
Valter Pomar — O companheiro Jilmar Tatto disse, numa reunião do Diretório Nacional do PT, que não seria necessário ter maioria qualificada para mudar o estatuto. Eu respondi que este critério é a lei da selva, em que uma maioria eventual pode tudo.
Não se trata de um assunto técnico. Se uma maioria eventual pode mudar a qualquer momento um estatuto, então não há estatuto. Existe, na verdade, uma minoria que faz qualquer coisa para tentar se manter como maioria.
Luccas Lucena — Na sua visão, mesmo com a presidência, o partido precisa se reorganizar e falar mais com a base novamente?
Valter Pomar — Os petistas falam com a base o tempo todo. Se não fizéssemos isso, não teríamos ganho 5 das últimas 9 eleições presidenciais. Nem teríamos ficado em segundo lugar nas outras 4.
O problema, portanto, é outro. Primeiro, é preciso organizar nossa atuação coletiva na base. Segundo, é preciso recuperar territórios e corações perdidos. Terceiro, é preciso que a maior parte da classe trabalhadora abrace os ideais da esquerda, do socialismo, das reformas estruturais.
Luccas Lucena — Gleisi foi importante para manter a base mobilizada enquanto Lula estava preso, mas hoje sofre críticas por conta de “fogo-amigo” contra ministros. Essa é uma atitude que incomoda?
Valter Pomar — Eu não votei em Gleisi. Mas das vezes que eu lembro dela criticando algum ministro, acho que ela tinha razão. Esse é o caso, em particular, da política econômica. Quanto ao tema da mobilização, acho que nós todos, da atual direção nacional do PT, não tivemos sucesso em fazer a mobilização que era necessária.